CRISTOLOGIA - CONFLITO E ÚLTIMOS DIAS DE JESUS (aula 11)
INTRODUÇÃO
Desde o início a atuação de Jesus é marcada pelo conflito com diferentes grupos, atingindo seu auge quando conflita com o poder romano, o que o leva à morte.
Seus principais adversários foram os fariseus, muitas vezes mencionados com outros grupos: fariseus, escribas e doutores da Lei; fariseus e herodianos; fariseus e saduceus.
“Se vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20)
“Ao se retirarem, os fariseus e os herodianos imediatamente conspiraram contra ele sobre como o destruiriam” (Mc 3, 6)
“Cuidado! Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus!” (Mt 16, 6)
Quando um fariseu aparece isoladamente, fora do seu grupo, ele é visto de uma forma mais simpática:
“Enquanto falava, um fariseu convidou-o para almoçar em sua casa. Entrou e pôs-se à mesa” (Lc 11, 37)
“Entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição” (Lc 14, 1)
A mais incisiva reprovação aos fariseus está no capítulo 23 de Mateus: o discurso dos “ais” – Mt 23,13-31
Importante é a idéia de que eles atrapalham os que querem entrar no Reino através de suas doutrinas e de seu exemplo:
“Ai de vós, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens. Pois vós mesmos não entrais e nem deixais entrar os que o querem”
PRINCIPAIS CAUSAS DO CONFLITO
Absoluta e total liberdade de Jesus frente:
- Lei
- Culto
- Templo
- Sábado
A LEI
À pergunta dos fariseus de porque seus discípulos não lavavam as mãos antes de comerem o pão, Jesus responde:
“Em vão me prestam culto. As doutrinas que ensinam são apenas mandamentos humanos. Abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos homens. Sabeis muito bem desprezar o mandamento de Deus para observar a vossa tradição.” (Mc 7, 7-9)
O CULTO
“Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor!” entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade do Pai” (Mt 7, 21)
“Se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e depois virás apresentar tua oferta” (Mt 5, 23s)
O TEMPLO
“Vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4, 21.23-24)
O SÁBADO
“O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado” (Mc 2, 27s)
“Qual de vós, se seu filho ou seu boi cai num poço, não o retira imediatamente em dia de sábado?” (Lc 14, 5)
“É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?” (Mc 3, 4a)
OS ÚLTIMOS DIAS
MARCHA PARA JERUSALÉM
Seria a primeira vez?
Jesus chegou como peregrino numa cidade que, naqueles dias chegava a ter quase 180 mil pessoas.
Parece que Jesus não era muito conhecido em Jerusalém.
“Jesus enviou dois discípulos dizendo-lhes: Ide ao povoado que está à vossa frente. Entrando nele, encontrareis imediatamente um jumentinho amarrado, que ninguém montou ainda. Soltai-o e trazei-o. E se alguém vos disser, `Por que fazeis isso?`dizei: ´O Senhor precisa dele, e logo o mandará de volta´” Foram, e acharam um jumentinho amarrado na rua junto a uma porta, e o soltaram. Alguns dos que ali se encontravam disseram: “Por que soltais o jumentinho?” Responderam como Jesus havia dito, e eles o deixaram partir. Levaram a Jesus o jumentinho, sobre o qual puseram suas vestes, e ele o montou. Muitos estenderam as vestes pelo caminho, outros puseram ramos que haviam apanhado nos campos. Os que iam à frente dele e os que o seguiam clamavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino que vem, do nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus” (Mc 11, 1-10)
Este é um relato estilizado como uma história de fé, em estreita consonância com o texto do profeta Zacarias: “Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta” (Zc 9, 9b).
Também a aclamação do povo é estilizada do Salmo 118: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Sl 118, 26ª)
O PROTESTO NO TEMPLO
É um momento histórico, porém impossível de fazermos uma idéia exata de como ocorreu. Sabemos que foi no pátio dos gentios, onde também os pagãos podiam entrar.
O comércio era realizado com consentimento das autoridades do Templo.
Vejamos o relato de Marcos: “Entrando no Templo, ele começou a expulsar os vendedores e os compradores que lá estavam: virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” (Mc 11, 15-16
Os sumos sacerdotes perceberam o alcance do protesto, e “procuravam como fazê-lo perecer; eles o temiam, pois a multidão estava maravilhada com seu ensinamento.” (Mc 11, 18)
Nesta atitude de Jesus devemos considerar que a crítica não é ao Templo em si, mas a maneira como no Templo as pessoas se relacionam com Deus.
A ÚLTIMA CEIA
O centro da celebração era o Haggadá: o que presidia a ceia, lembrava a libertação do Egito e consumia-se o cordeiro pascal, enquanto bebia-se vinho.
Antes, o que presidia a mesa distribuía o pão sem fermeto e eram comidas ervas amargas.
A oração de ação de graças após o consumo do cordeiro era acompanhada pela bebida do vinho. Recitavam-se, então, os salmos.
Jesus quis comer a ceia com seus discípulos, já sabendo que seria a última, pela maneira como os fatos se iam desencadeando.
Ele fala com clareza de sua morte: “Em verdade vos digo: já não beberei deste vinho até que chegue o Reino de Deus.” (Lc 22, 18)
Jesus conta com a morte violenta, mas conserva a confiança no Pai e a esperança no Reino, centro de sua missão.
Jesus percebe o fracasso de sua missão em Israel, mas a confiança no Pai faz com que ele passe a encarar sua morte como obediência à vontade do Pai, como parte de sua tarefa messiânica. Sua morte é incluída, então no horizonte de sua missão.
Em concordância com a vontade do Pai, ele passa a dar à sua morte uma interpretação especial e de importância salvífica.
Essa interpretação inclui que ele levasse em conta os discípulos que permanecem no mundo.
Sua interpretação da morte associa-se então à oferta de um dom: o dom do pão e do vinho.
A ceia de Jesus passa a ser uma celebração especial, diferente da ceia pascal judaica.
As palavras de interpretação de Jesus sobre o pão e o vinho não tinham a ver com os atos usuais de quem presidia o banquete festivo.
O texto passa a ter um significado litúrgico, com forte significado salvífico, ínterpretando a sua morte com as idéias de “morrer por” e de “aliança”.
Jesus deixa aos discípulos uma refeição onde os homens da aliança com Deus, inaugurada com sua morte, podem candidatar-se a participar do reino definitivo de Deus, e na qual Ele permanece entre eles sob o símbolo do pão.
A última ceia continua viva na comunidade.
A comunidade de João ocupa-se com a ligação pessoal com o Cristo glorificado e, com Ele, a Deus, assegurando a vida eterna:
- “Quem come minha carne e bebe o meu sangue permance em mim e eu nele” (Jo 6, 56).
- “Quem come este pão viverá eternamente” (Jo 6,58)
Na reflexão paulina aparece com força o componente eclesial. O pão (que é único), consumido por muitos na celebração da ceia, une-os todos na unidade do corpo de Cristo, que é aquilo que a comunidade é no mundo: “Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos desse único pão” (1 Cor 10, 17)
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