27 de setembro de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 7)

DOCUMENTOS PONTIFÍCIOS

CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA

Documento pontifício que trata de assuntos da mais alta importância.

Constituição Dogmática:
  • Contém definições de dogmas.
  • Munificentissimus Deus: dogma da Assunção de Nossa Senhora.

Constituição Disciplinar e Adminstrativa:
  • Diz respeito a determinações canônicas.
  • Sacrae Disciplinae Leges: promulgação do Código de Direito Canônico.


ENCÍCLICA

A carta encíclica, ou apenas encíclica é um documento pontifício dirigido aos Bispos de todo o mundo e, por meio deles, a todos os fiéis.

Literalmente, significa "cartas circulares".

São cartas públicas e formais do Santo Padre que expressam seu ensinamento em matéria de grande importância em variados campos: fé, costumes, culto, doutrina social, etc.

Uma encíclica não define um dogma. Mas reforça a doutrina através de ensinamentos.

É a posição oficial da Igreja sobre um determinado tema.


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA

Documentos normalmente são promulgados após a reunião de um Sinódo dos Bispos. Eles fazem parte do Magistério da Igreja.


MOTU PRÓPRIO

Documentos escritos por iniciativa pessoal do Santo Padre e com a sua própria autoridade.

21 de setembro de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 6)

A IGREJA RADICADA NA MISSÃO

A MISSÃO DE JESUS CRISTO

A missão de Jesus Cristo se prolonga na de seus próprios enviados, os doze, os quais, por essa razão, são chamados apóstolos.

Pregar o Evangelho e curar os enfermos (Lc 9, 1s.) que é a missão pessoal de Jesus.

São os operários enviados para a messe pelo Mestre (Mt 9, 38; cf. Jo 4, 38)

Estes enviados terão a mesma sorte: "Quem vos ouve a mim ouve, e quem os rejeita a mim rejeita; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou" (Lc 10, 16); "Receber-me é receber Aquele que me enviou" (Jo 13, 20).

A missão dos apóstolos está enraizada na missão de Jesus. "Como o Pai me enviou assim também eu vos envio" (Jo 20, 21).

"Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado" (Mc 16, 15-16).

Os apóstolos cumprem essa missão graças à força do Espírito Santo (cf. Jo 14,26; 15,26; 16,7).

A missão é, pois, uma tarefa que diz respeito a toda a Igreja em virtude do seu caráter essencial: Comunidade de salvação de Cristo.


DOCUMENTO DA IGREJA: Gaudium et spes

"Para desempenhar a missão de Jesus Cristo (servir e não ser servido) a Igreja em todo o momento tem o dever de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a cada geração".

A Igreja tem o dever de existir e realizar a missão de Jesus Cristo no interior de um processo histórico. (Estar atenta aos sinais do tempo)


DOCUMENTO DA IGREJA: Ad gentes

"A Igreja peregrina é por sua natureza missionária."

"A Igreja cumpre a sua missão quando se faz presente a todos os povos, a fim de levá-los à fé, à liberdade e à paz de Cristo, pelo exemplo da vida, pela pregação, pelos sacramentos e demais meios de graça."


DOCUMENTO DA IGREJA: Evangelii nuntiandi

Este documento descreve o duplo momento da evangelização:
  • Testemunho
  • O anúncio claro e inequívoco de Jesus.

"A boa nova, proclamada pelo testemunho de vida, deverá ser, cedo ou tarde, anunciada pela palavra da vida. Não existe verdadeira evangelização se o nome, o ensinamento, a vida, as promessas, o reino, o ministério de Jesus, Filho de Deus, não são proclamados".


DOCUMENTO DA IGREJA: Redemptoris missio

Descreve três tipologias:
  • Comunidades cristãs solidamente formadas, nelas se desenvolve a atividade pastoral que é a forma concreta de realizar a missão da Igreja.
  • Regiões de antiga cristindade ou em Igrejas jovens, nas quais se perdeu o sentido da fé e as exigências do evangelho, sendo necessário ocorrer uma nova evangelização.
  • Povos e regiões em que Cristo e seu evangelho não são conhecidos ou nos quais faltam comunidades suficientemente maduras para poder encarnar a fé e anunciá-la aos outros.


CONCLUSÃO

Os quatro documentos:
  • Constituição pastoral Gaudium et spes.
  • Decreto conciliar \Ad gentes.
  • Exortação apostólica Evangelii nuntiandi (Paulo VI)
  • Encíclica Redemptoris missio (João Paulo II)

Compõem o eixo de sustentação do empenho da Igreja no mundo (eixo cristológico, antropológico, dialogal e diaconal) 

17 de setembro de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 5)

IGREJA UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA

INTRODUÇÃO:

“Existe uma única Igreja que no Símbolo chamamos una, santa, católica e apostólica, que nosso Salvador...entregou a Pedro para apascentar, e confiou a ele e aos demais apóstolos para propagar e reger, e erigiu para sempre como ‘coluna e fundamento da verdade’. Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como um sociedade, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de sua visível estrutura se encontrem vários elementos de santificação e verdade que, como dons próprios à Igreja de Cristo, impulsionam à unidade católica" (LG nº 8)


A IGREJA É UNA:

A Igreja é una e única porque Deus é uno e único. A Igreja é um “ícone” da Trindade, é o povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

A unidade e comunhão no amor é a essência da Igreja. Ela, historicamente, deve ser instrumento e sacramento de comunhão.

Por isso, rezou Jesus:
“que todos sejam um, como tu Pai, o és em mim e eu em ti...que eles sejam consumados na unidade, de sorte que o mundo saiba que me enviaste e que os amaste como me amaste... Que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17, 11.26)

A Igreja é una pela sua fonte (o Pai), pelo seu Fundador (o Filho) e pela sua “alma” (o Espírito Santo).
“Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos do universo e também um único Espírito Santo; há também uma única virgem que se tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja” (S. Clemente de Alexandria)

A unidade da Igreja é assegurada por vínculos visíveis de comunhão:
  • Uma única fé recebido dos Apóstolos;
  • A celebração comum do culto divino, sobretudo nos sacramentos
  • A sucessão apostólica através do sacramento da Ordem.

Unidade não é uniformidade.

Como peregrina, inculturada no mundo, ela traz a diversidade nos campos da teologia, da liturgia, da espiritualidade, da disciplina.

“Destinada a estender-se por todo o mundo, a Igreja entra na história da humanidade e simultaneamente transcende os tempos e os limites dos povos” (LG 9c)


A IGREJA É SANTA:

A Igreja constitui “uma nação santa” (1Pd2,9)

Os cristãos mesmos são chamados de santos:
  • “...ouvi de muitos a respeito deste homem, quantos males fez a teus santos...” (At 9,13)
  • “...para que meu serviço seja bem aceito pelos santos” (1Cor15,31)

O que nos faz verdadeiramente santos é o chamado do Pai, a justificação pelo Filho e a infusão do Espírito Santo e seu impulso interior a um total amor a Deus e ao próximo, como Cristo.

Existe a santidade recebida de Deus como dom, e a santidade que deve ser vivida, aperfeiçoada por nós.

Somos santos, e por isso devemos agir como santos: “Tornai-vos imitadores de Deus, como filhos amados, e andai no amor...como convém a santos.” (Ef 5, 1a.2b); “o santo santifique-se mais” (Ap 22,11)

A Igreja “não ignora que não faltaram entre seus membros, clérigos e leigos, na série ininterrupta de tantos séculos os que foram infiéis ao Espírito de Deus. Também em nossos tempos não ignora a Igreja quanto se distanciam entre si a mensagem que ela profere e a fraqueza humana daqueles aos quais o Evangelho foi confiado” (GS 43f)

"A Igreja, reunindo em seu próprio seio os pecadores, ao mesmo tempo santa e sempre necessitada de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação” (LG 8)

A Igreja, unida a Cristo, é santificada por Ele; por Ele e nele torna-se também santificante. Todas as suas obras têm como objetivo a salvação dos homens em Cristo e a glorificação de Deus.


A IGREJA É CATÓLICA:

Católica quer dizer “universal”, em duplo sentido:
  • É católica porque nela Cristo está presente, e nela subsiste a plenitude do Corpo de Cristo unido à sua cabeça.
  • É católica porque é enviada em missão por Cristo à universalidade do gênero humano.

A Igreja está presente no mundo inteiro, em todas as comunidades locais unidas aos seus pastores.

A Igreja particular (comunidade de fiéis em comunhão na fé e nos sacramentos com o seu Bispo) é formada à imagem da Igreja universal e é nelas e a partir delas que existe a Igreja católica uma e única.

As Igrejas particulares são plenamente católicas pela comunhão com uma delas: a Igreja de Roma, que preside à caridade.

A Igreja universal não é a soma de Igrejas particulares diversas, mas ela, por sua vocação missionária, se reveste em cada parte do mundo de aspectos exteriores diversos.


A IGREJA É APOSTÓLICA:

A palavra “apóstolo” quer dizer enviado da parte de alguém.

A Igreja é apostólica por ser fundada sobre os apóstolos, que era como os primeiros cristãos designavam os portadores da mensagem evangélica.

Ela é apostólica em três sentidos:
  • Ela foi e continua sendo construída sobre o fundamento dos apóstolos, testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do séculos” (Mt 28, 19s)
  • Ela conserva e transmite, com a ajuda do Espírito que nela habita, o ensinamento, o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos apóstolos.Os cristãos “mostravam-se assíduos no ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42)
  • Ela continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos, até a volta de Cristo, graças aos que a eles sucedem na missão pastoral: o colégio dos bispos, assistido pelos presbíteros, em união com o sucessor de Pedro, pastor supremo da Igreja.

Jesus é o Apóstolo (enviado) do Pai. Ele “chamou a si os que quis e instituiu Doze para estarem com ele e para enviá-los a pregar.” (Mc 3,13-14).

Neles Jesus continua sua missão: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio”.(Jo 10,21)

Seu ministério é continuação do ministério de Jesus: “Quem vos recebe, a mim me recebe” (Mt 10, 40)

Eles sabem que são “ministros de uma nova aliança” (2Cor 3,6), “embaixadores de Cristo” (2Cor 5,20), “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4, 1).

Cristo prometeu que ficaria com eles até o fim dos tempos.

A missão dos apóstolos deverá durar até o fim dos séculos, por isso os Apóstolos cuidaram de instituir sucessores nesta sociedade organizada.

Desde o início foi assim. Já por volta do ano 50, no chamado Concílio de Jerusalém, vemos os “presbíteros” deliberando junto com os “apóstolos”.

S Paulo recomenda aos presbíteros de Éfeso: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus” (At 20, 28)

S Paulo ordena a Timóteo: “O que ouviste de mim, na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que por sua vez sejam capazes de instruir a outros” (2Tm 2,2)

S Clemente de Roma (102?) diz: “Nossos apóstolos...instituíram ministros...e estabeleceram que à sua morte, outros homens experimentados os sucedessem”.

Todos na Igreja somos “apóstolos”, pois somos enviados ao mundo inteiro.

A fecundidade de nosso apostolado depende de nossa união vital com o Cristo e com toda a Igreja.

10 de setembro de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 4)

IGREJA EDIFICADA PELOS SACRAMENTOS


INTRODUÇÃO:

“Quando o Senhor dormia na cruz, a lança atravessou o seu lado e dele brotaram os sacramentos com os quais a Igreja foi criada. E é assim que a Igreja foi criada da costela de Adão.” (S. Agostinho)

“...mediante os sacramentos brotados do lado de Cristo que pendia da cruz foi construída a Igreja.” (St Tomás de Aquino)

A primeira incorporação a Cristo se faz por meio do batismo. Esta incorporação comporta também a incorporação à Igreja.

A eucaristia é o Corpo de Cristo em plenitude. Assim, na comunhão eucarística se completa a plena incorporação a Cristo e à Igreja.

A Eucaristia, corpo e sangue do Senhor, “reúne na unidade os filhos de Deus que estão dispersos” (Jo 11, 52). Quis o Senhor “a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a paz, e reconciliá-lo com Deus, ambos em um só corpo” (Ef 2,15s).

A condição sacramental do cristão é aquela que o torna membro da Igreja a partir do batismo, participante do sacerdócio batismal ou comum, que será exercido por meio dos sacramentos e sobretudo da eucaristia.
Cristo Senhor fez do novo povo “um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (Ap 1, 6)


O SACERDÓCIO:

O sacerdote é aquele que tem a função de unir o homem à divindade e esta ao homem.

No Antigo Testamento, já vemos a presença de sacerdotes na pessoa, por exemplo, de Moisés, dos chefes de família e de tribos, e posteriormente dos Reis e dos levitas.

Os profetas foram críticos de um tipo de sacerdócio focado no culto, nos holocaustos, sem uma conversão de vida.

Cristo realiza e supera todos os sacerdócios antigos: “somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10, 10), e “de fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica” (Hb 10, 14)

Há na Igreja o sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial, que ordenam-se um para o outro mutuamente.

“O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que é investido, organiza e rege o povo de Deus, realiza o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo e o oferece a Deus em nome de todo o povo. Por seu lado os fiéis, em virtude do seu sacerdócio régio, têm também parte na oblação da eucaristia e exercem o mesmo sacerdócio na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, por meio do testemunho duma vida santa, da abnegação e da caridade operante.” (LG 10)

O Cristo é o nosso único Sacerdote, Mediador, Mestre e Pastor.Todos os outros são “sacerdotes, mediadores, mestres ou pastores” em sentido totalmente dependente da missão de Cristo.

Só podemos entender o sacerdócio cristão como dependente e vinculado ao sacerdócio do Cristo-Sacerdote.

Pelo batismo se participa do sacerdócio comum, centrada prioritariamente nos leigos, que são os que pertencem à Igreja pelo batismo, não são clérigos e têm uma peculiar relação com o mundo secular.


O SACERDÓCIO COMUM:

É “específico dos leigos, por sua vocação, procurar o Reino de Deus, exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus” (LG 31)

Os batizados consagram-se para serem edifício espiritual e sacerdócio santo, para oferecerem a Deus sacrifícios espirituais e proclamarem as suas grandezas.

Todos os discípulos ofereçam-se a si mesmos como hóstias vivas e testemunhem o Cristo em toda parte.

Pelo batismo, o cristão se configura à imagem de Cristo e é constituído membro da Igreja, povo de Deus, que exige o testemunho de Jesus no mundo.

Todo batizado participa da função sacerdotal, profética e real do Cristo.

Participa da função sacerdotal através de uma oferta essencial de sua vida, como “hóstias espirituais agradáveis a Deus por Cristo Jesus” (1 Pd 2,4), hóstias que são nossas obras, iniciativas pastorais,nosso trabalho cotidiano, nosso descanso, nossos incômodos, nossas doenças.

“Todos os homens são convidados a oferecerem a si próprios, seus trabalhos e todas as coisas criadas, junto com Cristo” (PO 5)

Os leigos, por serem também sacerdotes, “aprendam a oferecer-se a si próprios, oferecendo a hóstia imaculada, não só pelas mãos do sacerdote, mas também juntamente com ele.” (SC 48)

O leigo participa da missão profética ao professar a fé na vida cotidiana.

Participa da missão real ao realizar o serviço de presença que cura, que salva e que eleva as realidades do mundo secular.


O SACERDÓCIO MINISTERIAL:

O sacerdócio ministerial está investido de um “poder sagrado”, que lhe dá missão e faculdade, direito e capacidade de agir “in persona Christi”.

Tal ministério só pode ser exercido em virtude do dom de Deus conferido através do sacramento da ordem.

É chamado também de ministério ordenado/eclesiástico/hierárquico, e tem sua plenitude na pessoa dos Bispos, como sucessores dos apóstolos na tarefa de santificar, ensinar e governar todo o povo de Deus. Eles servem à comunidade, da qual são pastores, mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros do governo da Igreja.

Há uma tríplice dimensão no ministério episcopal:
  • Pessoal-local: ele é pastor, guia e mestre do povo, origem do sagrado ministério. Nele se prolonga a presença do apóstolo e, mais ainda, de Cristo.
  • Colegial-supralocal: ele é membro do colégio episcopal, que recebeu o mandato de proteger e governar a Igreja. O colégio episcopal prolonga a presença do colégio dos apóstolos.
  • Pessoal-universal: reservada ao sucessor de Pedro, como uma ampliação do ministério episcopal até às dimensões da Igreja universal.

O sacerdote ministerial na Igreja é por excelência o bispo, que participa plenamente do sacramento da ordem. O presbítero “depende do bispo no exercício de seu poder”, é “colaborador da ordem episcopal”, e “torna presente o bispo” em cada comunidade local de fiéis.

Os presbíteros, pela imposição das mãos do bispo, são ministros de Cristo, apóstolo e pontífice, ficam “consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote” (LG 28)

“Exercem seu ministério principalmente na celebração da eucaristia, nela agindo na pessoa de Cristo”. (LG 28)

“Exercem o ministério da reconciliação e do alívio em favor dos arrependidos e dos doentes, e apresentam ao Pai as necessidades e as orações do fiéis”. (LG 28)

Os diáconos recebem a imposição das mãos “não para o sacerdócio, mas para o ministério”.

Servem o povo de Deus nos ministérios da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o bispo e seu presbitério.


A VIDA CONSAGRADA:

São os que professam os conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade.

Testemunham a prioridade do Reino de Deus sobre tudo o que é terreno, e manifestam a eficácia do Cristo que reina e o poder infinito do Espírito, que opera maravilhas na Igreja.

29 de agosto de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 2)

INTRODUÇÃO À ECLESIOLOGIA
JESUS E A IGREJA


“A Igreja nasceu do amor do Pai Eterno, foi fundada no tempo pelo Filho Unigênito encarnado em Jesus de Nazaré e tem como alma o Espírito Santo”

O que pensava a Igreja primitiva de si mesma?

Os primeiros cristãos perceberam logo que a mensagem de Jesus não deveria ser vivida isoladamente, mas em comunidade, naquele ambiente centrado nos “Doze”. Eles “mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42)

Eles traziam suas questões aos apóstolos (At 5). Os apóstolos planejavam as atividades missionárias (At 13), deliberavam sobre problemas importantes (At 15).

“Pelas mãos dos apóstolos faziam-se numerosos milagres” (At 5, 12)

Eram os apóstolos que “impunham as mãos e eles recebiam o Espírito Santo” (At 8, 17)

Esse grupo estava ligado, através de seus elementos principais, a um conhecimento direto de Jesus – tanto o ressuscitado, com quem “comeram e beberam” (At 10, 41), quanto o Jesus histórico de quem foram “companheiros”

Sentiam também que aquele Espírito que Jesus prometera era uma presença atuante na vida da comunidade.

A comunidade – e o próprio Jesus – ao usar a palavra Igreja-Ekklesia, manifesta a convicção de ser ela a sucedânea do Povo de Israel enquanto nação consagrada, como a nova e última etapa da História sagrada.

Paulo coloca a conversão dos povos pagãos como uma característica do novo “Povo de Deus”, reunindo um povo onde já não há diferenças e nem barreiras.

A nova comunidade – A Igreja de Jesus – dá cumprimento à vocação profética de Israel, como a última etapa da História sagrada, em preparação para a consumação escatológica: “nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: [...] serei para vós pai e serás para mim filhos e filhas” (2 Cor 6, 16b-18).

A unidade dos homens entre si e com Deus é descrita com a metáfora do “Corpo de Cristo”.

Mas... e Jesus? Ele pregou uma Igreja ou o Reino de Deus? A Igreja é um acontecimento pós-pascal, ou Jesus mesmo a teria idealizado e fundado?

Para Jesus o Reino não é algo ligado ao fim do mundo, mas algo que já existe na História, como “semente” cujo crescimento não se percebe (Mc 4, 26-29), como “grão de mostarda”, como “fermento na massa”.

“É significativo que Jesus goste de recorrer à imagem das lentas maturações vegetais para simbolizar o crescimento do Reino” (P.Faynel)

Aquele pequeno grupo que Jesus formou em torno de si, ele o considerava o germe daquilo que ele chamará a “sua” Igreja, seu “pequenino rebanho”.

Eles não vivem a plenitude do Reino, mas... “Não temais, pequeno rebanho, pois foi do agrado do meu Pai dar-vos o seu Reino” (Lc 12, 32)

Essa comunidade durará e crescerá na História, anunciará o Evangelho, comparecerá diante de reis e governantes por causa de sua fé, praticará a caridade, será sal da terra, luz do mundo, exercerá a autoridade em espírito de serviço, etc...

São palavras do Senhor: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai,do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto os ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20)

Encontramos em Jesus, vários elementos preparatórios que nos levam a entender sua intenção de fundar a Igreja:
  • As promessas do Antigo Testamento referentes ao povo de Deus e que se pressupõem na pregação de Jesus;
  • O convite à conversão e à fé em Jesus, dirigido a todos os povos;
  • A vocação e instituição dos Doze apóstolos, chamando “os que ele quis, para que ficassem consigo e para enviá-los a pregar o Reino” (Mc 13);
  • A imposição do nome a Simão Pedro;
  • A instituição da Eucaristia na última Ceia, como memorial de sua paixão: “Fazei isto em memória de mim”;
  • A reconstituição, graças à ressurreição, da comunidade rompida entre Jesus e seus discípulos;
  • O envio do Espírito Santo, que faz da Igreja verdadeiramente uma criação de Deus;
  • A missão dos discípulos junto aos pagãos e a constituição da Igreja dos pagãos.

Desde as origens aquela comunidade se estruturou em torno dos “Doze”: “perseveravam na doutrina dos apóstolos”(At 2, 42), oravam por eles quando aprisionados (At 12,5), traziam-lhes o preço de seus bens (At 4, 35)

Os Doze convocavam reuniões, deliberavam sobre os serviços comunitários, impunham as mãos.

E qual o papel de Pedro? A ele foi entregue um ministério especial:
  • “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares sobre a terra será ligado nos céus” (Mt 16, 18-19)
  • “Eu roguei por ti (Pedro) para que tua fé não falte, e tu, uma vez confirmado, confirma teus irmãos” (Lc 22, 31-32)
  • “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?... Apascenta os meus cordeiros... apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-17)

Ele sempre é nomeado em primeiro lugar nas listas dos apóstolos.

É quem aparece falando em nome dos demais. (At 2,14.37; 3,6.12; 4,8; 5,3.29)

O Anjo, após a ressurreição, diz às mulheres: “Ide dizer aos discípulos e a Pedro...” (Mc 16, 7)

O Senhor pagou com ele o tributo devido.

No livro dos Atos é Pedro quem discursa à multidão no dia de Pentecostes, depois que a multidão perguntara a “Pedro e aos outros apóstolos”, o que devia fazer.

Ele administra a primeira comunidade de Jerusalém, recebe na Igreja os primeiros gentios.

Ele é quem preside o chamado “Concílio de Jerusalém”.

S. Paulo o reconhece como uma das “colunas da Igreja”, enumera a aparição do Ressuscitado “a Pedro e depois aos onze”, conta que subiu a Jerusalém “para conhecer Pedro”, com quem ficou quinze dias.

A função de Pedro subsiste ainda hoje na Igreja.

A Igreja, como organismo vivo que prolonga na História a presença de Cristo de modo atual, viva, ontológica, perpetua a estrutura inicial.

Ela continua sua obra de redenção e santificação, de maneira visível.

Jesus rezou ao Pai na véspera de sua morte:
“Eu não rogo somente por eles, mas também pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim, a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17, 20-21)

21 de agosto de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 1)

INTRODUÇÃO À ECLESIOLOGIA
IGREJA - CONCEITOS FUNDAMENTAIS


INTRODUÇÃO:

Ekklesía, tradução do hebraico qahal, significa “aviso de convocação” e “assembléia reunida”.

É a convocação divina e é a assembléia dos convocados.

Aparece duas únicas vezes nos Evangelhos e 144 vezes no restante do Novo Testamento.

O documento do Vaticano II que nos fala especificamente sobre a Igreja é a Constituição dogmática Lumen Gentium, que assim começa:
“Cristo é a luz dos povos. Por isso, este sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente, anunciando o Evangelho a toda criatura, iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja.
E retomando o ensino dos concílios anteriores, propõe-se explicar com maior rigor aos fiéis  e  a toda  gente a natureza e a missão universal da Igreja, a qual é em Cristo como que sacramento ou sinal, e também instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (Lumen Gentium 1)

Mais do que definida, a Igreja, realidade divina e humana, pode ser apenas descrita. O Concílio a chama de mistério e  afirma:
“Não é criar uma analogia inconsistente comparar a Igreja ao mistério da encarnação. Pois assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve de órgão vivo de salvação, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu corpo místico” (Lumen Gentium 8)

Várias são as imagens utilizadas para melhor conhecer a natureza da Igreja:
Redil, vinha, construção, família, templo santo, Jerusalém celeste, esposa imaculada do Cordeiro.

Veremos a Igreja sob sete enfoques:
  • Como sacramento
  • Como comunhão
  • Como povo de Deus
  • Como corpo de Cristo
  • Como tradição viva
  • Como sociedade
  • Como instituição


IGREJA COMO SACRAMENTO:

É uma realidade divina portadora de salvação, que se revela de modo visível, encarnada na história.

Cristo é a luz dos povos. A Igreja é, nele, sinal e instrumento da união com Deus e da unidade com o gênero humano.

Jesus é o autor da salvação e a Igreja é o sacramento visível desta unidade salvífica.

Cristo continua a agir através da estrutura visível da Igreja, por intermédio do seu Espírito.

O Reino de Deus se manifesta nas palavras, obras, milagres e pela presença pessoal do Cristo. A Igreja é “o Reino de Cristo já presente em mistério” (Lumen Gentium 3) é o “germe e início deste Reino na terra” (Lumen Gentium 5)

O Senhor ressuscitado derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo Pai, e desde então, enriquece a Igreja com os dons do seu fundador, e a estabelece na terra e na história como germe e início deste reino.

“A Igreja que abriga em seu seio os pecadores, santa e ao mesmo tempo necessitada de purificação, aplica-se incessantemente à penitência e à sua renovação” (GS 42)


IGREJA COMO COMUNHÃO:

É comunhão com Deus, da qual se participa por meio da palavra e dos sacramentos, e que leva à comunhão com os cristãos entre si e se realiza concretamente  na comunhão das igrejas locais.

A nível estrutural, os bispos são individualmente o princípio visível e o fundamento da unidade em suas igrejas particulares, formadas à imagem da Igreja universal.


A IGREJA COMO POVO DE DEUS:

É um conceito que vem desde o Antigo Testamento, e que guarda relação com a categoria da aliança.

A Igreja realiza definitivamente a vocação universal a que era chamado Israel pelo seu Deus como “sinal entre as nações” (Is 11, 12),e se torna “povo messiânico, instrumento de redenção de todos” (Lumen Gentium IX)

Os que crêem em Cristo e o vêem como autor da salvação e princípio de unidade e paz constituem a “estirpe eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo conquistado [...] que em tempos não o era, mas agora é o povo de Deus” (1 Pd 2, 9-10)

Este povo tem por cabeça o Cristo, por condição a dignidade e liberdade dos filhos de Deus, por lei o mandamento do amor e tem por fim o reino de Deus, já começado e que deve ser continuamente desenvolvido até à consumação final quando Cristo, nossa vida, aparecer.


A IGREJA COMO CORPO DE CRISTO:

Pela comunicação do Espírito, o Cristo constituiu com seus irmãos o seu corpo místico.

Ele reparte conosco seu Espírito, que sendo um só na cabeça e nos membros, vivifica, unifica e dirige.

Neste corpo, a vida de Cristo se comunica a nós de modo real, por meio dos sacramentos, especialmente o Batismo e a Eucaristia.

Cristo é a cabeça deste corpo, e todos os membros, com seus diversos dons e funções, devem conformar-se com Ele.

Ele enche a Igreja com seus dons para que ela procure e alcance toda a plenitude de Deus.


A IGREJA COMO TRADIÇÃO VIVA:

Cristo envia seus apóstolos para pregarem o Evangelho a todos os homens, como fonte de verdade salvífica, comunicando a eles seus dons divinos.

O que foi transmitido pelos Apóstolos compreende tudo o que contribui para conduzir a vida e fazer crescer o povo de Deus. A Igreja, com sua doutrina, vida e culto perpetua e transmite historicamente o que ela é e o que ela crê.

A tradição viva tem em comum com a Escritura o ser princípio de continuidade e identidade entre a Igreja apostólica e as gerações posteriores até o fim dos tempos, no plano do conhecimento, do culto e da vida.

Neste contexto se situa o magistério dos bispos, como garantia da sucessão apostólica.

A tradição aparece em dois sentidos: para descrever o que não está escrito na Escritura e tem origem apostólica; e para exprimir todo o processo de transmissão viva da revelação através dos tempos.

“A tradição é a expressão do Espírito Santo que anima a comunidade dos fiéis. Ela corre através de todos os tempos, vive em cada momento e toma corpo continuamente. Esta força vital, espiritual, que herdamos de nossos pais e que se perpetua na Igreja, é a tradição viva” (J A Möhler)


A IGREJA COMO SOCIEDADE:

Ela é “estrutura visível e social”, “grupo visível”, “sociedade dotada de organismos hierárquicos”, “Igreja terrena”, “estabelecida e estruturada neste mundo como sociedade”, “uma única sociedade visível de crentes unidos por uma mesma fé, pelos mesmos sacramentos e pela submissão a uma mesma hierarquia”.

Toda esta concepção de sociedade não pode ser desvinculada da visão de Corpo Místico e de sacramento.

A esta sociedade se incorpora não só com “o corpo”, mas também com “o coração”.

As formas concretas com as quais a Igreja exercita sua missão fundamenta a importância da eclesiologia “jurídico-prática”.


A IGREJA COMO INSTITUIÇÃO:

Por instituição se entende um conjunto de formas e atividades típicas de uma sociedade que, ainda que se tenham desenvolvido historicamente, têm certa permanência (subdivisão de funções e poderes, tradições consolidadas, ritos e símbolos permanentes, normas morais reconhecidas, etc...)

Há que se superar o risco de situar a Igreja apenas como uma realidade sociológica, pois, apesar de composta por homens, tem sua origem e fim último em Deus, e sua razão de ser e seu sentido consiste em ser “sacramento universal de salvação”.

A instituição aparece como sinal identificador do Espírito, que a ajuda a identificar-se com a mensagem originária do Evangelho.

É sinal da força integradora do Espírito, que incorpora cada fiel e as diversas igrejas na unidade originária da Igreja universal.

É sinal da força libertadora do Espírito.

21 de junho de 2011

MARIOLOGIA (AULA 6)

TEOLOGIA DE MARIA NA LUMEN GENTIUM - PARTE I


INTRODUÇÃO:

Doutrina de Maria em documento separado ou integrada no esquema sobre a Igreja?

Venceu a segunda posição por 1.114 votos a favor e 1.074 contra

A Mariologia entrou no documento sobre a Igreja – Lumen Gentium – como o capítulo VIII (nº 52 ao nº 69)

O capítulo oitavo se estrutura em duas linhas-mestras: cristológica e eclesiológica, como o próprio título sintetiza:
“A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja”

O capítulo tem cinco partes:
  • Proêmio
  • Função da Santíssima Virgem na economia da salvação
  • A Santíssima Virgem e a Igreja
  • O culto da Santíssima Virgem na Igreja
  • Maria, sinal de esperança certa e de consolação

Dentro dos destaques cristológico e eclesiológico, ainda se destacam:
  • Enfoque histórico-salvífico
  • Enfoque bíblico
  • Enfoque antropológico
  • Enfoque pastoral

PROÊMIO

53. A Virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo e deu a Vida ao mundo é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Remida de modo mais sublime em atenção aos méritos de seu Filho e unida a Ele com vínculo estreito e indissolúvel. Com este dom de graça sem igual, ultrapassa de longe todas as outras criaturas celestes e terrestres.
53.Ao mesmo tempo encontra-se unida na estirpe de Adão com todos os homens que devem ser salvos; mais ainda, é “verdadeiramente mãe dos membros de Cristo, porque com seu amor colaborou para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros daquela cabeça”. É saudada como membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como seu protótipo e modelo acabado, na fé e na caridade.

MARIA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

55. Os livros do Antigo e do Novo Testamento e a tradição mostram e colocam diante dos nossos olhos a função da Mãe do Salvador.

Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação e iluminam pouco a pouco a figura de uma mulher, a da Mãe do Redentor.

55. Ela aparece esboçada na promessa da vitória sobre a serpente (Gen 3, 15). Ela é a Virgem que há de conceber e dar à luz um filho, cujo nome será Emanuel (Is 7, 14). Ela sobressai entre os humildes e os pobres do Senhor, que dele esperam confiadamente e vêm a receber a salvação.

Enfim, com ela, após longa espera da promessa, atingem os tempos a sua plenitude e inaugura-se nova economia, quando o Filho de Deus assume dela a natureza humana.

56. Maria na anunciação
O Pai das misericórdias quis que a encarnação fosse precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada a fim de que, como uma mulher tinha contribuído para a morte, também uma mulher contribuísse para a vida. Assim Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus, abraçando com generosidade a vontade salvífica de Deus.

Maria consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor,à pessoa e obra de seu Filho, servindo ao mistério da redenção sob sua dependência. Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência.

57. A Virgem Maria e o Menino Jesus
Esta união da Mãe com o Filho manifesta-se desde o momento em que Jesus Cristo é concebido virginalmente até a sua morte. Primeiramente, quando Maria se dirigiu pressurosa a visitar Isabel, e depois no nascimento, quando a Mãe de Deus mostrou aos pastores e aos magos seu Filho.

E também quando ao apresentá-lo no Templo ao Senhor , ofereceu o resgate dos pobres e ouviu Simeão profetizar. O Menino Jesus perdido e com tanta dor procurado, encontram-no Maria e José no templo, ocupado nas coisas de seu Pai.

58. A Virgem Maria no ministério público de Jesus
Sua mãe manifesta-se logo no início, quando nas bodas de Caná, movida de misericórdia, conseguiu, com sua intercessão, que Jesus, o Messias, desse início aos seus milagres.

Durante a pregação do seu Filho, recolheu as palavras com que ele, exaltando o reino acima das razões e vínculos da carne, proclamou bem-aventurados os que ouvem e observam a palavra de Deus, como ela fazia pontualmente.

A Santíssima Virgem avançou no caminho da fé e conservou fielmente a união com seu Filho até a cruz, junto da qual, por desígnio de Deus se manteve de pé.

59. A Virgem Maria depois da Ascensão
Vemos os apóstolos, antes do dia de Pentecostes, assíduos e unânimes na oração com algumas mulheres e com Maria, mãe de Jesus e os irmãos deste” (At 1, 14), e vemos Maria implorando com suas preces o dom do Espírito, que na anunciação já a tinha coberto com sua sombra.


A SANTÍSSIMA VIRGEM E A IGREJA

60. É um só o nosso Mediador, segundo as palavras do Apóstolo: “Porque há um só Deus, também há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, verdadeiro homem, que se ofereceu em resgate por todos” (1 Tm 2, 5-6). A função maternal de Maria para com os homens, de nenhum modo obscurece ou diminui esta mediação única de Cristo, antes mostra qual é a sua eficácia.

Todo o influxo salutar da Santíssima Virgem em favor dos homens não é imposto por nenhuma necessidade intrínseca, mas sim por livre escolha de Deus e dimana da superabundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação, dela depende absolutamente e dela tira toda a sua eficácia.

61. A Santíssima Virgem foi na terra, por disposição da divina Providência, a Mãe do Redentor divino, e mais que ninguém sua companheira generosa e humilde escrava do Senhor. Ela cooperou, de modo absolutamente singular – pela obediência, pela esperança e caridade – na obra do Salvador. Por isso, ela é nossa mãe na ordem da graça. 

62. A maternidade de Maria perdura sem cessar, desde o consentimento que ela prestou fielmente na anunciação e manteve sem vacilar ao pé da cruz, até a consumação final de todos os eleitos. Depois de elevada aos céus ela não abandonou esta missão, mas pela sua intercessão continua a obter-nos os dons da salvação.

Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho. Por isso é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. Mas isso deve entender-se de modo que nada tire nem acrescente à dignidade e à eficácia de Cristo, Mediador único.

Nenhuma criatura pode colocar-se no mesmo plano que o Verbo encarnado e redentor. A única mediação do Redentor não exclui, antes suscita uma cooperação múltipla, embora a participar da fonte única. A Igreja não hesita em atribuir a Maria uma função subordinada para que os fiéis, apoiados nesta proteção maternal, se unam mais intimamente ao Mediador e Salvador.

63. A Santíssima Virgem encontra-se também intimamente unida à Igreja, pelo dom e cargo da maternidade divina, que a une com seu Filho e ainda pelas suas graças e prerrogativas singulares: a Mãe de Deus é a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo.

No mistério da Igreja, a qual também se chama com razão virgem e mãe, à Santíssima Virgem Maria pertence o primeiro lugar por ser, de modo eminente e singular, exemplo de virgem e de mãe.

64. A Igreja, contemplando a santidade misteriosa de Maria, imitando a sua caridade e cumprindo fielmente a vontade do Pai, torna-se também ela mãe: pela pregação e pelo batismo gera, para uma vida nova e imortal, os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus.

E é também virgem, que guarda a fé jurada ao Esposo íntegra e pura; e à imitação da Mãe do seu Senhor, conserva, pela graça do Espírito Santo, virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade.

65. Na Santíssima Virgem, a Igreja já alcançou esta perfeição. Os fiéis, porém, continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade, vencendo o pecado. Por isso, levantam os olhos para Maria que refulge a toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtudes.

A Virgem, durante a vida, foi modelo daquele amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens.


O CULTO DA SANTÍSSIMA VIRGEM NA IGREJA

66. Maria foi exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e de todos os homens, logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe Santíssima de Deus e como tal, haver interferido nos mistérios de Cristo, por isso a Igreja a honra com culto especial, já desde os mais antigos tempos.

Sobretudo a partir do Concílio de Éfeso, o culto prestado a Maria pelo povo de Deus cresceu admiravelmente, manifestando-se em veneração, amor, invocação, imitação.

Esse culto, tal como sempre existiu na Igreja, é de todo singular, mas difere essencialmente do culto de adoração que é prestado ao Verbo encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo, e muito contribui para ele. Pois as várias formas de devoção que a Igreja aprovou fazem com que, ao honrarmos a Mãe, seja bem conhecido, amado e glorificado o Filho e bem observados os mandamentos.

67. O Sagrado Concílio exorta todos os filhos da Igreja a que promovam dignamente o culto da Virgem Santíssima, de modo especial o culto litúrgico. Exorta os teólogos e pregadores que, ao considerarem a singular dignidade da Mãe de Deus se abstenham com cuidado de qualquer falso exagero, como também duma demasiada pequenez de espírito.

Esclareçam com precisão as funções e os privilégios de Maria, que sempre se referem a Cristo, origem de toda verdadeira santidade e devoção.

Recordem-se os fiéis de que a devoção autêntica não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira, que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e nos incita a um amor filial para com nossa Mãe, e à imitação de suas virtudes.


MARIA, SINAL DE ESPERANÇA CERTA E CONSOLAÇÃO PARA O POVO PEREGRINO

68. Do mesmo modo que a Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma é imagem e primícia da Igreja, que há de atingir a sua perfeição no século futuro, assim já agora na terra, ela brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do povo de Deus peregrino.

69. Todos os fiéis dirijam súplicas à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que ela, que assistiu com suas orações aos alvores da Igreja, também agora, exaltada no céu acima de todos os anjos e bem-aventurados, interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, para que todas as famílias dos povos, quer se honrem do nome cristão, quer desconheçam ainda o Salvador, reúnam-se em paz e concórdia no único povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade.

20 de junho de 2011

MARIOLOGIA (AULA 5)

MARIA: A IMACULADA E ASSUNTA AOS CÉUS

IMACULADA

A fé cristã vê em Maria concebida sem pecado a historificação da esperança e o encontro da busca.

Deus fez surgir alguém que fosse a esposa pura para o amor puro de Deus.

Escritos muito antigos já se referem a Maria como a Nova Eva.

No século VIII já se celebrava a festa litúrgica da Conceição de Maria em 08 de dezembro.

No Brasil colonial o povo já cultuava a “Nossa Senhora da Conceição”.

Pio IX, em 08 de dezembro de 1854, na Bula Ineffabilis Deus define o dogma:
“Declaramos e definimos que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original”

O dogma abrange dois pontos importantes:
  • Maria livre do pecado original
  • Tal privilégio foi concedido na previsão dos méritos de Jesus Cristo

ASSUNTA AOS CÉUS

Como foi o fim desta criatura singular chamada Maria?

Principalmente a partir dos séculos V e VI os cristãos começam a se interessar por esta questão.

“Assim como um filho busca estar com a própria Mãe e a mãe anseia viver com o filho, assim foi justo também que Tu, que amavas com um coração materno a teu Filho-Deus, voltasses a Ele” (S Germano – 733)

“Convinha que aquela que no parto havia conservado na íntegra a sua virgindade, conservasse sem nenhuma corrupção seu corpo, depois da Morte” (S João Damasceno – 749)

Pio XII, em 01 de novembro de 1950, define o dogma na Bula Munificentissimus Deus:
“Proclamamos, declaramos e definimos que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”

O dogma traz alguns pontos importantes:
  • A morte de Maria.
  • Assunta em corpo e alma.
  • As implicações para o homem e para a Igreja.

18 de junho de 2011

MARIOLOGIA (AULA 3)

MARIA NO EVANGELHO DE JOÃO E NO APOCALIPSE

INTRODUÇÃO:

A Mariologia de João apresenta Maria como:
  • A mediadora da fé (em Caná)
  • A mãe da comunidade de fé (aos pés da cruz)
  • A "Mulher" símbolo da Igreja, da Nova Humanidade e do Cosmos glorificado (Apocalipse)

    Os dois textos maiores de João são centrais, em momentos decisivos: Caná é a inauguração da vida pública e o Calvário é o momento culminante da “hora”.

    Estão ligados por três idéias: a “hora”, a referência à Mãe de Jesus e o apelativo “Mulher”

    Os dados históricos em João estão presentes como base para um sentido mais profundo: simbólico, espiritual, místico, sobrenatural:
    “Ninguém pode compreender o sentido do Evangelho de João a não ser quem repousar sobre o peito de Jesus ou receber Maria como mãe das mãos de Jesus” (Orígenes)


    CANÁ - Jo 2, 1-12
    “No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galiléia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Havia ali seis talhas para a purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus lhes disse: “Enchei as talhas de água”. Eles as encheram até a borda. Então lhes disse: “Tirai agora e levai ao mestre-sala”. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho – ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventesque haviam retirado a água – chamou o noivo e lhe disse: “Todo homem serve primeiro o vinho bom, e quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!”. Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele. Depois, desceram a Cafarnaum ele, sua mãe, irmãos e discípulos, e ali ficaram apenas alguns dias”.

    AOS PÉS DA CRUZ - Jo 19, 25-28
    “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa.”

    A MULHER VISTA COM O SOL - Ap 12
    “Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um Dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre a cabeça sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um centro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais lugar para eles no céu. Foi expulso o grande Dragão, a antiga serpente, o chamado Diabo ou Satanás, sedutor de toda terra habitada - foi expulso para a terra e seus Anjos foram expulsos com ele. (...)
    (...) Ao ver que fora expulso para a terra, o Dragão, pôs-se a perseguir a Mulher que dera à luz o filho varão.
    Ela, porém, recebeu as duas asas da grande águia para voar ao deserto, para o lugar em que, longe da Serpente é alimentada por um tempo, tempos e a metade de um tempo. A Serpente, então, vomitou água como um rio atrás da Mulher, a fim de submergi-la. A terra, porém, veio em socorro da Mulher: a terra abriu sua boca e engoliu o rio que o Dragão vomitara. Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto de seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantém o Testemunho de Jesus”.

    OUTROS TEXTOS DE JOÃO:
    Jo 1, 12-13
    Jo 6, 42
    Jo 7, 5
    Jo 8, 41 b

    MARIOLOGIA (AULA 1)

    INTRODUÇÃO

    OBJETIVOS:
    - Intelectual - compreender
    - Espiritual - amar
    - Moral - imitar
    - Cultural - celebrar
    - Pastoral - comunicar
     
    • A maternidade divina constitui o núcleo da Mariologia: Maria é essencialmente “Mãe de Deus”.
    • Ela é toda relativa ao Cristo e, a partir do Cristo, relativa à Igreja
    • Jesus é o centro, e Maria é central, por ser a pessoa mais próxima deste centro.
    A expressão “Virgem-Mãe” é uma fórmula breve da fé:
    - Virgem – sinal da divindade de Cristo (“nascido do Espírito Santo”
    - Mãe – prova da humanidade de Cristo (“no seio da Virgem Maria”)




    Imagem de Maria na História:
    - Antiguidade - Mãe de Deus, Virgem, Rainha
    - Idade Média - Nossa Senhora, Mãe da Misericórdia
    - Idade Moderna - Rainha dos Povos, Serva do Senhor
    - Idade Contemporânea - Discípula, Mulher

    Princípios abertos:
    • No Novo Testamento:
      • "Cheia de graça" (Lc 1, 28)
      • "Bendita entre as mulheres" (Lc 1, 42)
      • "Mãe do meu senhor" (Lc 1, 42)
      • "Aquela que acreditou" (Lc 1, 45)
      • Aquela que "todas as gerações chamarão bem-aventurada" (Lc 1, 48)
      • A mulher na qual o Onipotente fez "grandes coisas" (Lc 1, 49)
      • A Mulher, a Nova Eva (Jo 2, 4; Ap 12, 1)

    Quatro "privilégios" de Maria:
    • Só ela é "Mãe do Senhor"
    • Só ela foi "Mãe virginal"
    • Só ela foi concebida imaculada
    • Só ela foi assumida ao céu em corpo e alma

    Princípios limitativos:
    • Ela é criatura
    • Ela é peregrina da fé
    • Ela é redimida
    • Ela é serva do Senhor
    • Ela é membro da Igreja

    MARIA NO EVANGELHO DE MARCOS
    • Marcos fala pouco de Maria
    • Maria é mãe carnal do Messias
    • Tem apenas um nome, não um perfil definido
    • Não tem uma personalidade, mas apenas uma função

    Mc 3, 20-21:
    "E voltou para casa. E de novo a multidão se apinhou, de tal modo que não podiam se alimentar. E quando os seus tomaram conhecimento disso, saíram para detê-lo, porque diziam: 'Enloqueceu!'"

    Mc 3, 31-35:
    "Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Disseram-lhe: 'Tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram'. Ele perguntou: 'Quem é minha mãe e meus irmãos?' E repassando com o olhar os que estavam sentados ao redor disse: 'Eis minha mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.'"

    Mc 6, 1-6:
    "Começou a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados dizendo: 'De onde vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? Não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E a suas irmãs não estão aqui entre nós?'"

    MARIA NO EVANGELHO DE MATEUS

    • Em Mateus, Maria aparece com um personagem importante na História da salvação.
    • Ela tem uma relação privilegiada com Cristo.
    • Pela sua virgindade é testemunho e sacramento do Messias.
    • É mais "mãe funcional" do Messias que "mãe pessoal".

    Mt 1, 1-16:
    A genealogia
    "...Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo."

    Mt 1, 18-25:
    "A origem de Jesus foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo. Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: 'José, filho do Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados'. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo seu profeta: 'Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão de Emanuel'. José, ao despertar, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E o chamou com o nome de Jesus."

    Mt 2, 9-11:
    "Eis que vieram magos do Oriente a Jerusálem. Eis que a estrela que tinham visto surgir ia à frente deles e parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela, se alegraram imensamente. Ao entrar na casa, viram o menino e Maria, sua mãe, e prostrando-se o homenagearam."

    30 de abril de 2011

    CALENDÁRIO DAS AULAS DE MARIOLOGIA - 2011

    02/05/2011 - Maria nos Evangelhos de Marcos e Mateus

    09/05/2011 - Maria no Evangelho de Lucas

    16/05/2011 - NOVENA - Não haverá encontro

    23/05/2011 - NOVENA - Não haverá encontro

    30/05/2011 - Maria no Evangelho de João e no Apocalipse


    06/06/2011 - Maria: Mãe de Deus e sempre Virgem

    13/06/2011 - Maria: Imaculada e Assunta aos Céus

    20/06/2011 - Teologia de Maria na Lumen Gentium - Parte I

    27/06/2011 - Teologia de Maria na Lumen Gentium - Parte II

    10 de abril de 2011

    PNEUMATOLOGIA - GRAÇA, DONS, CARISMAS (AULA 7)


    GRAÇA

    Experiência cristã mais originária:


    Dois mundos que se encontram e dialogam: Deus e o Homem


    EVOLUÇÃO TEOLÓGICA DO CONCEITO

    Antigo Testamento – Graça como história;

    Novo Testamento – Bondade e simpatia de Deus que se faz gente, abrindo esperança;

    Teologia grega – Glória de Deus que se irradia e diviniza o homem;

    Teologia latina – Graça pensada como libertação do pecado;

    Teologia pré-escolástica – Graça como auxílio, socorro para viver as virtudes;

    Teologia escolástica – Aspecto metafísico, graça como princípio gerador;

    Teologia do século XIX – Ênfase trinitária. Deus mesmo se dá e mora no homem;

    Teologia moderna – Ênfase no diálogo e abertura do homem para o infinito.



    Homem criado à imagem e semelhança de Deus – é graça, consequência do dom de Cristo que nos é dado pelo Pai, no Espírito.

    Para São Paulo graça é:
    - O próprio Jesus
    - Situação do homem incorporado no Cristo
    - Gratuidade do amor divino
    - Potência de Deus que nos fortalece

    Âmbito da graça é o mundo todo e todo mundo – vontade salvífica universal.

    Predestinados para a salvação:
    "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele, ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele, no amor.Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácido da sua vontade, para louvor e glória da sua graça, com a qual ele nos agraciou, no Amado. É por ele que temos a redenção e remissão dos pecados, segundo a riqueza de sua graça que ele derramou profusamente sobre nós." (Ef 1, 3-8)


    A graça derramada sobre homens frágeis e pecadores, por pura e livre iniciativa de Deus.
    Pelágio e Agostinho.

    Só Jesus pode salvar, sem mérito algum de nossa parte.

    Salvação não é só remissão de pecados, mas é justiça que vem de Deus e que se torna inerente a nós, nos salva “por dentro”.

    Pela graça nos tornamos filhos, no Filho.
    "Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial. E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abba, Pai! Já não és mais escravo, mas filho. E se és filho és também herdeiro, graças a Deus." (Gl 4, 4-6)

    O Espírito habita em nós por pura graça, e esta presença é o fundamento de nossa divinização.
    Plenitude do homem como conformação ao Cristo, em sua relação original com o Pai.

    É o Espírito que torna possível a encarnação, que o unge no batismo, que o faz pregar em sua potência, que o ressuscita dos mortos.

    Jesus ressuscitado dá seu Espírito, que realiza em nós o mesmo que realizou em Jesus.

    Graça é o horizonte da salvação. O homem na graça é o homem salvo. A graça é o dom do próprio Deus. Salvação é o homem que só é, se está em Deus.

    Nossa salvação se faz história concreta.


    DONS E CARISMAS

    Os dons são disposições que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do Espírito.

    Carismas são dons do Espírito concedidos a cada um para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e para a edificação da Igreja.
    PNEUMATOLOGIA - VIDA NO ESPÍRITO E SEGUNDO O ESPÍRITO (AULA 5)


    O ESPÍRITO REALIZA, PERSONALIZA E INTERIORIZA A VIDA "EM CRISTO"

    Ser cristão é fazer de Cristo o princípio da própria vida, levar a vida por Cristo.

    São Paulo usa as expressões “Cristo em nós”, “nós em Cristo”. Ele exorta as comunidades “em Cristo” ou “no Senhor”

    O cristão vive nova vida, fundamentada na vitória do Cristo sobre a morte, que revelou o poder do Espírito Santo.

    Na ressurreição de Jesus, o Espírito revela-se como aquele que dá a vida: “Aquele que ressuscitou Cristo dos mortos, vivificará os vossos corpos mortais, por meio do Espírito que habita em vós” (Rm 8, 11)

    Em nome da ressurreição, anunciamos a vida que se manifestou para além das fronteiras da morte, a vida mais forte que a morte.

    Aquele que dá esta vida é o Espírito santo vivificante, presente e atuante em nós.

    O mesmo Espírito que fez Maria fecunda de Cristo - “O Espírito Santo virá sobre ti...” (Lc 1, 35) e que tornou e faz a Igreja fecunda - “Encheram-se todos do Espírito Santo...” (At 2, 4), é o mesmo que nos torna fecundos e nos dá a semente da identidade cristã, até a consumação final.

    São João nos fala sobre a “semente de Deus”, da qual nascemos de Deus. Esta semente é o Espírito: “Ninguém que seja filho de Deus comete pecado, pois conserva sua semente, porque foi gerado por Deus” (1 Jo 3, 9)

    Esta semente é o Espírito e é também o Verbo que foi recebido pela fé, o que mostra como o Cristo e o Espírito estão unidos em nós.

    Paulo diz tanto “no Espírito” quanto “em Cristo”

    Claro que Paulo também diz do Cristo coisas que não diz do Espírito e vice-versa. Por exemplo Paulo não diz que somos templos do Cristo e nem que somos membros do Espírito.

    É o Espírito que opera esta identificação mística entre nós e o Cristo.

    Assim, Deus Pai, pelo seu Espírito, faz com que Cristo habite em nossa profundeza, onde se forma a orientação de nossa vida: “Dobro os joelhos diante do Pai para que vos conceda: fortalecer-vos internamente com o Espírito, que pela fé Cristo habite vosso coração, que estejais enraizados e alicerçados no amor” (Ef 3, 14-17)

    O Espírito é ativo na fé, na palavra - “...isso que agora têm anunciado os que trazem a boa notícia, inspirados pelo Espírito Santo” (1 Pd 1,12), na escuta - “o Senhor lhe abriu o coração para que prestasse atenção ao discurso de Paulo” (At 16, 14), no testemunho de Jesus - “quando vier o Paráclito, ele dará testemunho de mim e vós também dareis” (Jo 15, 26-27)

    A semente de que fala João é o Verbo e o Espírito, que unge o cristão, e lhe comunica a mesma unção profética e messiânica recebida por Jesus. E esta unção é ativa em toda a vida de fé do batizado. O Espírito aprofunda a fé, pois ele é o Espírito da verdade.

    O Espírito revela o Filho, assim como o Filho revela o Pai. O Paráclito é sempre relativo a Cristo - “Eu pedirei ao Pai que vos envie outro Consolador, que esteja convosco sempre” (Jo 14, 16). O Espírito, o único que conhece o que está em Deus, é o único que pode nos fazer conhecer a verdade do Cristo profundamente.

    Presente em Cristo desde o princípio, é ele sua testemunha privilegiada e insubstituível, “pois o Espírito explora tudo, inclusive as profundidades de Deus. Qual homem conhece o homem senão a consciência do homem? Ninguém conhece o próprio Deus a não ser o Espírito de Deus.” (1 Cor 2, 10b-11)


    A VIDA EM CRISTO É UMA VIDA FILIAL

    Cristo é o centro e o cume, mas não é o termo. Ele está todo voltado em direção ao Pai: o Espírito nos leva ao Filho, que nos leva ao Pai”: “Meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo 4, 34); “Eu sempre faço o que lhe agrada” (Jo 8, 29); “Não procuro minha vontade, mas a vontade do que me enviou” (Jo 5, 30)

    Durante toda a vida de Jesus, o Pai não cessou de dizer: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” e Jesus não cansou de dizer: “Tu és o meu Pai, vim para fazer a tua vontade”.

    Nossa vida de filhos é nossa busca de conformidade à vontade de Deus, sem negar nossa inteligência e dignidade.

    Juntamo-nos a Jesus também em sua oração, principalmente a oração ao “Pai nosso que está nos céus”.

    “Nós todos, refletindo com o rosto descoberto da glória do Senhor, vamos nos transformando em sua imagem, com brilho crescente, sob a ação do Espírito do Senhor” (2 Cor 3, 18)


    JÁ E AINDA NÃO

    Toda nossa vida está nesta tensão entre o já e o ainda não.

    “Possuindo as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando ser verdadeiramente tratados como filhos” (Ef 8, 23)

    “Nele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos adotivos, por Jesus Cristo. Fostes selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo, que é penhor da nossa herança” (Ef 1, 4-6.13-14)

    “Fostes marcados com o sinete do Espírito Santo, adiantamento de nossa herança, até a libertação final em que dela tomaremos posse, para o louvor da sua glória” (2 Cor 1, 21-22)

    O Espírito, com fez com o corpo de Cristo, provocará nossa ressurreição, e seremos plenamente filhos de Deus.

    É a ressurreição e glória de Jesus que também nos asseguram, em Cristo, a ressurreição e a glória: “esse Espírito é que atesta ao nosso Espírito que somos filhos de Deus. Filhos, portanto herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo, visto que, participando de seus sofrimentos, teremos parte na sua glória” (Rom 8, 16)

    Somos amados pelo mesmo amor com que o Pai ama o Filho.

    Formamos com o Filho um único ser filial. Ele é Filho único, mas também o filho primogênito de uma multidão de irmãos. Em Jesus, e graças a Ele, o Pai também diz a cada um de nós: “Tu és meu filho”.


    O ESPÍRITO E NOSSA ORAÇÃO

    O Espírito assiste nossa leitura das Escrituras, nossa meditação e nossa oração, pois “quanto mais o Pai do céu dará o Espírito santo aos que lho pedirem” (Lc 11, 13) e “o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza, pois não sabemos rezar como convém” (Rm 8, 26)

    O pressuposto essencial é que amemos verdadeiramente a Deus, que Ele seja uma Pessoa viva para nós, o pensamento mais importante de nossa vida, em todas as situações práticas.


    RESUMINDO...

    O Espírito enxerta em nós a “raiz da imortalidade”, da qual desponta a vida nova, do homem em Deus, que como fruto da divina autocomunicação só pode desenvolver-se e consolidar-se sob a ação do Espírito Santo.

    Sob a influência do Espírito Santo, o homem interior se fortalece. Graças à comunicação divina, o espírito humano, que “conhece a consciência do homem”, encontra-se com o “Espírito que conhece as profundezas de Deus”.

    Nesse Espírito, Deus abre-se totalmente ao homem

    Sob o mesmo o Espírito o homem abre-se diante de Deus e entra numa vida nova, é introduzido na realidade da própria vida divina e torna-se habitação de Deus. O Pai, o Filho e o Espírito vêm a ele e fazem nele sua morada.

    A íntima relação com Deus faz com que o homem também se compreenda e à humanidade de maneira nova, e realize, à luz de Cristo, protótipo da relação com Deus, aquela imagem e semelhança de Deus, que o homem é desde sempre e para sempre.

    Tudo isso só é possível porque o mesmo Espírito existe em Cristo nossa cabeça, e em nós, seu corpo.

    Por sermos filhos no Filho, primogênito de uma multidão de irmãos, corresponde o fato de que é pelo mesmo Espírito, identicamente o mesmo, que nós o somos.