15 de novembro de 2010

PNEUMATOLOGIA - O ESPÍRITO SANTO ANIMA A IGREJA (AULA 3)


A IGREJA É FEITA PELO ESPÍRITO

“Consumada a obra que o Pai tinha confiado ao Filho sobre a terra”, no dia de Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja e, assim, os que viessem a acreditar, tivessem, mediante Cristo, acesso ao Pai, num só Espírito”. (LG 4)

Assim, dá-se o nascimento da Igreja, manifestação do que já ocorrera no Cenáculo, quando o Cristo sopra sobre os apóstolos e diz: “Recebei o Espírito Santo...”

O que ocorreu “estando as portas fechadas”, agora manifesta-se publicamente diante dos homens.

É claro que o Espírito já agia no mundo, mas em Pentecostes ele desceu sobre os discípulos para permanecer com eles eternamente (Jo 14, 16) e a Igreja nasce e dá-se o início da difusão do Evangelho através da pregação.

O “tempo da Igreja” começa com a vinda do Espírito Santo, no momento em que as promessas e os anúncios, sobre o Espírito consolador, o Espírito da verdade, passaram a verificar-se sobre sobre os apóstolos, com toda a evidência. O Espírito assumiu a orientação invisível daqueles homens fracos.

“O Espírito Santo habita na Igreja e no coração dos fiéis como num templo (cf 1Cor 3,16); neles ora e dá testemunho da sua adoção filial (cf Gl 4,6).Ele introduz a Igreja no conhecimento de toda a verdade (cf Jo 16,13), unifica-a na comunhão e no ministério, edifica-a, dirige-a e enriquece-a com seus frutos” (cf Ef 4, 11-12)

Os discípulos formam uma comunidade guiada pelo Espírito Santo, portadora de uma mensagem de salvação, solidária com todos os homens e com sua história, pois o Espírito de Deus dirige o curso dos tempos e renova a face da terra.

É significativo que Jesus, no seu discurso de adeus, anuncie não apenas sua partida, mas também a sua nova vinda: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para junto de vós” (Jo 14,18), e no momento da ascensão diga: “Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 18, 20)

Esta nova vinda dá-se no âmbito do envio do Espírito Santo, realiza-se por obra do Espírito, que faz com que Cristo, que partiu, venha agora e sempre, de maneira sempre nova, na realidade sacramental da Igreja.

Nossa redenção desenvolve-se na história no ritmo da missão do Filho, que veio ao mundo, nascendo da Virgem por obra do Espírito Santo e também no ritmo da missão do Espírito, que veio e vem continuamente a nós, no mistério da Igreja.

A Igreja é realidade terrestre, destinada à História, e obra de Deus, “mistério” que só a fé conhece.

A Igreja é sinal e meio da intervenção de Deus na nossa história. É realização da promessa de Deus concretizando-se na Igreja e através da Igreja

A Igreja histórica e visível tem Jesus como seu “fundador” (mas sempre ativo e vivo) e o Espírito como aquele que lhe dá vida e a faz crescer, enquanto ela é o Corpo de Cristo.

Ela é fruto das duas missões divinas: do Filho e do Espírito.

Há uma total unidade de ação do Espírito Santo e do Cristo, pois “o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito está a liberdade” 2Cor 3,17.

Se em Deus eles são distintos, eles são de tal modo unidos que os experimentamos juntos. Quando o Pai envia o Verbo, envia sempre o seu Espírito.


O ESPÍRITO É PRINCÍPIO DE UNIDADE

O Espírito foi dado à Igreja e prometido aos apóstolos, mas em vista do novo povo:”...O Espírito da Verdade, que vem do Pai, dará testemunho de mim, e vós também dareis testemunho” (Jo 15, 26b-27a); “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo 14, 26)

Em Pentecostes são significativas duas expressões: “reunidos juntos, no mesmo lugar” e “unânimes”.

A comunidade recebe o Espírito, na unidade, o que já supõe uma primeira unidade, de consentimento, de estar juntos.

Só se recebe o Espírito quando se está junto. Porque há um só Espírito de Cristo, é que há um só corpo, que é o Corpo de Cristo: “Fomos todos batizados em um só Espírito para formarmos um só corpo” (1Cor 12,13)

A Igreja é uma comunhão, uma fraternidade, em que se unem um princípio pessoal e um princípio de unidade

É necessário nada menos que o Espírito de Deus para conduzir à unidade tantas realidades diferentes e Ele promove esta unidade não através da pressão, e sim através da delicada via da comunhão.

Somente Ele consegue, respeitando a pluralidade, promover o plano de Deus, que se expressa na comunhão, na unipluralidade.

O Espírito faz com que todos sejam um, em que todos vivem e esse comportam como membros conscientes e livres de um todo orgânico.

O mesmo Espírito, que santificou a humanidade de Jesus, faz que exista na história um só Corpo, que é o Corpo de Cristo, “na diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (1Cor 12, 12-13)

A unidade da Igreja tem seu fundamento em Deus: “Há um só Corpo e um só Espírito... um só Senhor, uma só fé, um só batismo, há um só Deus e Pai de todos...” (Ef 4, 4-6)

A Igreja é a realidade una e eficaz visada pelo plano de unidade de Deus. É a realidade do “Corpo místico” de Cristo.

O Senhor Jesus e o Espírito são, juntos, os autores da Igreja, em sua unidade. Mas Cristo é a Cabeça deste corpo, homogêneo aos seus membros. Por isso, a Igreja é o Corpo de Cristo, e não do Espírito Santo.


O ESPÍRITO É PRINCÍPIO DE CATOLICIDADE

A unidade é aquela de “muitas pessoas segundo o todo”. A unidade é de extensão universal (católica).

Jesus é o “homem universal” e a Igreja faz com que Ele chegue para os homens de todos os lugares e todos os tempos.

Ela faz esta continuidade com aquilo que vem dele para ela como instituição – palavras, sacramentos, missão – e com a comunicação de seu Espírito, como dom escatológico, já presente e ativo dentro dela. Ele a catoliciza no espaço do vasto mundo e no tempo da história.

O Espírito que residia em Jesus e operava através dele, após a experiência pascal deu início ao envio missionário: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 19-20).

Esta missão provocou a saída do domínio judeu e a ida ao encontro dos povos, das línguas e culturas.

Pentecostes foi a apresentação da Igreja ao mundo como vocação para a universalidade, com cada qual entendendo e exprimindo em sua língua as maravilhas de Deus. (At 2, 6-11)

Pela missão-dom do Espírito, a Igreja nasceu universal ao nascer múltipla, católica porque particular.

A Igreja inverteu Babel, não por uma uniformidade pré-babélica, mas anunciando uma inculturação do próprio Evangelho e da própria fé em solos culturais ou espaços humanos diferentes.

A Igreja coloca sua fé na Palavra de Deus, da qual as Escrituras inspiradas dão testemunho. A vida da Igreja é, ao longo dos séculos, uma meditação das Escrituras, que devem ser lidas com o mesmo espírito e pelo mesmo Espírito sob influência do qual ela foi escrita.

Só há leitura adequada da Escritura sob moção do Espírito.

Se a Escritura é a comunicação do mistério de Cristo, então se entende que a ela tenha sido assimilada a Tradição.

O Espírito atualiza a Palavra a cada geração e em cada ambiente. Ele dá assistência à comunidade para perceber o seu sentido.

O Espírito atua na Igreja hoje, e guia sua vida hoje tanto quanto no passado. Ele ainda fala hoje, nos acontecimentos e na vida dos homens.

A Igreja descobre nos “sinais dos tempos” o campo de sua missão, sob a inspiração do Evangelho e sob a ação e graça do Espírito.

O Espírito torna presente a Páscoa de Cristo, atualiza sua Revelação, impulsiona o Evangelho para frente, pois se o Cristo nasceu apenas uma vez, falou, morreu e ressuscitou apenas uma vez, essa “uma vez” deve ser acolhida e produzir frutos numa humanidade que se multiplica e se diversifica de maneira indefinida através das culturas e dos espaços humanos.

É obra do Espírito unir o dado e o inesperado, o adquirido uma vez por todas e o perpetuamente inédito e novo.

O Verbo é a forma e o Espírito, o sopro. Jesus anunciou um Evangelho, instituiu uma Eucaristia. O Espírito os atualiza no inédito da história, ele une o Alfa e o Ômega.

Deus nos disse tudo e nos concedeu tudo em Jesus Cristo, mas há algo de novo, que se passa na história.

O Espírito é o Espírito de Jesus. Ele não faz outra obra diferente da de Jesus. Não há uma obra do Paráclito que não seria a do Cristo. A catolicidade é a catolicidade do Cristo. A solidez da pneumatologia está na sua referência cristológica.


O ESPÍRITO MANTÉM A IGREJA APOSTÓLICA

Apostólica significa relativa aos apóstolos, conforme os apóstolos, é uma conformidade com as origens.

É também uma referência escatológica. Ela preenche o entremeio do Alfa e do Ômega, garantindo a continuidade de um e de outro, a identidade substancial do princípio e do fim.

A Igreja junta o Alfa da proposta de Deus ao seu Ômega, de modo que proposta e dom continuem idênticos no curso da história. O Espírito garante esta ligação.

Esta fidelidade se manifesta nos elementos essenciais da instituição eclesial dados por Jesus: sua palavra, os sacramentos, o ministério dos doze, etc.

A apostolicidade é a identidade da missão dada aos apóstolos através dos séculos e até o fim.

Para a continuidade da obra de Jesus, há dois elementos essenciais : os apóstolos e o Paráclito. Os dois estão juntos.

“Recebereis uma força, a força do Espírito Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8)

“ E vós sereis testemunhas disso. Da minha parte, eu vou enviar-vos o que meu Pai prometeu” (Lc 24, 48)

Os Atos dos Apóstolos e as cartas nos mostram na prática essa associação entre o Espírito e os enviados de Cristo.

Os enviados pregam “sob a ação do Espírito” (1Pd 1,12), sua palavra é poderosa “pela ação do Espírito Santo” (1Tm 1,15), foram confirmados por ele, na verdade (Jo 16, 8-13). A Igreja nasce e cresce pela pregação e graças ao apoio do Espírito (At 6,7).

O ministério apostólico é atribuído ao Espírito Santo, é um “ministério do Espírito” (2Cor 3, 4-18)

Ao longo dos séculos, a Igreja tem a consciência de ser assistida, inspirada pelo Espírito Santo, que lhe foi prometido e dado para guardar uma infalível fidelidade à fé recebida dos apóstolos, de maneira especial para o magistério do bispo de Roma.

Nós cremos na Igreja apostólica, pois o Espírito a apostoliza. É sobre ela, reunida ao redor dos apóstolos, que o Espírito desceu em Pentecostes. Quando a primeira comunidade se expandiu, foi através do acesso de novos membros que se juntaram ao núcleo primitivo.

Assim entendemos a “sucessão apostólica”, no sentido amplo da transmissão fiel da fé, em total conexão com a comunidade primitiva. Por isso a ordenação dos bispos é realizada por vários bispos, e no meio do povo, que dá testemunho que seu eleito está dentro da fé católica e apostólica.

O Espírito assiste a Igreja para que ela, intimada a confessar, afirmar ou definir sua fé, ela o faça de modo garantido, infalível.

Desde a descida do Espírito sobre os primeiros cristãos, eles “eram assíduos à fração do pão e à oração” unidos ao ensinamento dos apóstolos

Reconheciam que o Senhor ressuscitado voltava ao meio deles na comunidade eucarística da Igreja, e por meio dela.

A Eucaristia é a expressão maior da partida de Cristo, e também sua vinda, sua presença salvífica no Sacrifício e na Comunhão.

Mediante a Eucaristia, e por obra do Espírito Santo, como esclarece a “epiclese” antes da consagração, realiza-se o fortalecimento do homem interior, as pessoas aprendem a descobrir o sentido divino da vida.

A Igreja desenvolve-se sobre o fundamento da “partida” do Cristo e vive sobre sua “vinda” sempre novo, por obra do Espírito.


O ESPÍRITO É PRINCÍPIO DE SANTIDADE

É motivo de irritação em muitos proclamar a Igreja como “Santa”.

O Concílio Vaticano II teve a coragem de falar da Igreja santa e pecadora: os séculos de história da Igreja estão cheios de todo tipo de falhas humanas.

Sua santidade não se refere à santidade das pessoas, mas é uma alusão ao dom divino que lhe concede santidade em meio à imperfeição humana.

Sua santidade consiste no poder de santificação que Deus exerce nela, apesar da pecaminosidade humana.

A Nova Aliança se baseia na graça concedida por Deus, que não recua diante da infidelidade humana. Ela é expressão do amor que não se deixa vencer, que quer bem ao homem e o aceita justamente como ser pecaminoso, dirigindo-se a ele para santificá-lo.

A Igreja é continuamente santificada pelo Espírito, tornando a santidade Dele presente.

É a santidade do Cristo que brilha em meio ao pecado da Igreja.

Esse encadeamento fidelidade de Deus/infidelidade do homem é a estrutura dramática da graça, que se torna visível por mãos indignas.

Em nosso sonho de perfeição, o pecado não está misturado com a santidade.

Os críticos de Jesus já o julgavam por vê-lo misturado com os pecadores, os doentes, e pediam que ele arrancasse logo a erva daninha.

A santidade imperfeita da Igreja revela a santidade de Deus, que é um amor que não se mantém distante, mas que se mistura à sujeira do mundo para superá-la.

Essa santidade imperfeita da Igreja é para nós consolo infinito. Não desesperamos diante de uma santidade imaculada e que só poderia se manifestar nos julgando e condenando.

A Igreja nos santifica, nos sustenta, nos suporta.

A Igreja vive dentro de nós, ela vive da luta da imperfeição pela perfeição, luta que vive do dom de Deus, animada pelo espírito de tolerância e do verdadeiro amor.

A Igreja vive em processo de contínua conversão na busca da construção do Reino de Deus na história e no tempo.

24 de outubro de 2010

PNEUMATOLOGIA - O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO (AULA 1)


INTRODUÇÃO
“Crer no Espírito Santo é professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado” (CEC 685)

“O Espírito Santo está em ação com o Pai e o Filho do início até a consumação do Projeto de nossa salvação. Mas é nos “últimos tempos”, inaugurados pela Encarnação redentora do Filho, que ele é revelado e dado, reconhecido e acolhido como Pessoa.” (CEC 686)

“O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mas obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão mais clara de si mesmo” (S Gregório Nazianzeno)

A RUAH

Assim, no Antigo Testamento, temos “pistas” sobre o Espírito Santo: expressão, aliás, que só aparece três vezes.

A palavra hebraica ruah, que aparece 378 vezes, traduzida para o grego como pneuma, que significa sopro, respiração, ar, vento, é traduzida em português como espírito.

Ruah aparece basicamente com três acepções:
- Acepção básica: vento, respiração.
- Acepção antropológica: força vital, princípio de vida, sede do conhecimento, dos sentimentos, da vontade.
- Acepção teológica: força de vida de Deus, pela qual ele age e faz agir. Força profética. Espírito de Deus.

É a utilização num determinado contexto, com uma certa intenção, que determina o valor e o sentido do termo.

O sopro-espírito recebe várias qualificações conforme os efeitos dos quais ele é o princípio: entendimento, sabedoria, etc.

A qualificação que mais nos interessa é o “sopro de Deus”, que expressa o poder que produz efeitos no mundo, no homem, naqueles que recebem o dons de líder, de profeta, de homem religioso, etc.

O que sempre uniu Israel foi a certeza de que o próprio Deus o livrou da servidão no Egito e o conduziu à terra prometida. Israel mantém a certeza de que Javé continuaria a livrá-lo de toda a aflição e o manteria vivo.

OS JUÍZES

Em situações de perigo extremo, Javé, como outrora no Egito, “ouve o clamor de seu povo” e sua ruah afasta a aflição ao se apoderar de indivíduos e capacitar o povo a resistir ao inimigo.

Inicialmente, surgem os Juízes, líderes carismáticos e guerreiros.

Assim:
Otoniel: “o sopro do Senhor esteve sobre ele” (Jz 3, 10)
Gedeão: “o sopro do Senhor revestiu Gedeão” (Jz 6, 34)
Sansão: “o sopro do Senhor penetrou nele” (Jz 14, 19)

É importante frisar que o arrebatamento nesses líderes carismáticos é fenômeno episódico, único, passageiro, tendo um objetivo específico em uma dada situação.

O PROFETISMO EXTÁTICO

A ruah também surge, nos primórdios de Israel, no contexto do “profetismo extático”.

Aqui a ruah não age apenas sobre um indivíduo, mas sobre um grupo inteiro de profetas, que entram em êxtase passageiro, nunca relacionado às palavras e ações salvadoras de Javé.

O profetismo extático é fenômeno episódico e passageiro.

O espírito vindo de Deus, normalmente, comunica um discernimento e uma sabedoria dentro da normalidade, sem fenômenos exteriores.

A MONARQUIA

Saul é o último dos Juízes e o primeiro dos Reis. A ele ainda se aplica a observação de que sua unção é passageira. Após sua unção por Samuel, “O Espírito de Deus veio sobre Saul, e ele entrou em êxtase profético no meio deles” (1 Sm 10, 10). Depois, diz-se que a ruah de Javé “se retirou dele” (1 Sm 16, 14)

Com Davi algo de diferente e definitivo começou. Quando Samuel o unge,“o espírito do Senhor desceu sobre Davi daquele dia em diante” (1 Sm 16, 13).

Agora não é apenas um arrebatamento: a concessão do Espírito associa-se à pregação e instrução operadas pelo Espírito.

Segundo 2Sm 23,1s, as últimas palavras de Davi foram: “o Espírito do Senhor falou por meu intermédio, sua palavra estava em minha língua”.

O Senhor agora não intervém só em situações de perigo, mas seu espírito torna-se dádiva permanente para o ungido, o eleito.

A coalizão de Espírito de Deus e poder político torna-se frágil, mesmo em Davi, o que propicia que a fé na monarquia de Javé passe para o Messias, como rei salvífico pelo qual se anseia: “Sobre ele repousará o espírito de Javé, espírito de sabedoria... Ele não julgará pelas aparências... A justiça será o seu cinto...” (Is 11 2.3.5)

OS PROFETAS

Nós cremos que o Espírito Santo “falou pelos profetas”.

A palavra profética é atribuída a um “sopro” de Javé sobretudo durante no tempo do exílio e no pós-exílio.

Três autores nos interessam: Isaías, que utiliza o termo 50 vezes; Ezequiel, que o utiliza 46 vezes e Joel.

OS PROFETAS - ISAÍAS

Isaías expressa que tudo o que existe de digno de vida vem do sopro de Deus. É Deus que comunica a vida.

É no meio dos perigos que Isaías anuncia: “Um ramo sairá da cepa de Jessé. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de discernimento, Espírito de conselho e de valentia, espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11, 1-2)

É claramente uma profecia messiânica também o primeiro Cântico do Servo: “pus sobre ele o meu Espírito” (Is 42,1)

É através de seu sopro que o Senhor encaminha o seu desígnio, que ele continua libertando o povo

O Messias tem traços de profeta, segundo o Trito-Isaías: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim porque o Senhor me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres...” (Is 61, 1 a)

OS PROFETAS - EZEQUIEL

Ezequiel, um profeta do exílio, constata que o culto e o povo estão mortos. Mas Iahweh está mais do que nunca presente e seu Espírito reanimará as ossadas e seu sopro fará deles pessoas vivas, comunicando-se dentro de seus corações.

“Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo; tirarei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Infundirei em vós o meu sopro (espírito)” (Ez 36, 25-27)

“Não lhes ocultarei mais minha face, visto que terei derramado meu espírito sobre a casa de Israel” (Ez 39, 29)

“Filho do homem, estas ossadas podem reviver? Eu disse: “Senhor Deus, tu o sabes!” Ele me disse: “Pronuncia um oráculo sobre essas ossadas, dize-lhes: Ossadas ressequidas, escutai a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus a essas ossadas: Farei vir sobre vós um sopro para que vivais” Pronunciei o oráculo como havia recebido a ordem, o sopro entrou nelas e elas reviveram, ficaram de pé” (Ez 37, 3-5.10)

As provações do exílio levaram a uma visão do sopro de Deus mais interiorizada, purificando os corações, penetrando dentro, santificando o povo de Deus. É um novo começo, um novo êxodo, uma aliança renovada.

Deus será, através de seu sopro, princípio de vida santa para Israel.

OS PROFETAS - JOEL

Joel(350-400 a.C.), num anúncio de eventos escatológicos, estende o dom do Espírito de Deus a todos os povos: “Derramarei meu Espírito sobre toda carne. Mesmo sobre os servos e as servas, naqueles dias, derramarei o meu espírito” (Jl 1-2)

ESCRITOS SAPIENCIAIS

A partir do séc IV a.C surge uma literatura do judaísmo helenizado: os escritos sapienciais

Um de seus livros – Sabedoria – escrito por volta do ano 50 a.C. faz uma reflexão sobre a Sabedoria, quase identificando as duas realidades entre si. Ela é um espírito (Sb 1,6), possui um espírito (7, 22b), age sob a forma de espírito ( 7,7b).

A Sabedoria procede de Deus, e ela é como sua ação em benefício das pessoas, para as conduzir corretamente de acordo com a vontade de Deus.

Portanto, a ação da Sabedoria é parecida com a do Espírito, pois tem o caráter de uma força interior de transformação.

CONCLUSÕES

No Antigo Testamento, o Sopro-Espírito de Deus é ação de Deus. É aquilo pelo qual Deus se manifesta agindo para conceder a animação, a vida.

É aquilo pelo qual Deus conduz seu povo, suscitando para ele heróis, guerreiros poderosos, reis, líderes, profetas, sábios.

O Messias anunciado acumulará tudo isto.

O criador age através de sua ruah: “se envias teu Espírito, todos eles são criados e renovas a face da terra” (Sl 104, 29)

O homem vive da ruah de Deus: “Então Iahweh modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7)

A ruah de Deus recria o homem e estabele comunhão com Ele: “Porei meu espírito em vós e farei com que sigais minhas leis. Então habitareis na terra que dei a vossos pais. Vós sereis meu povo e eu serei vosso Deus” (Ez 36, 24-28)

PNEUMATOLOGIA - PROGRAMA

27 de setembro de 2010

CRISTOLOGIA - AUTOAFIRMAÇÕES E TÍTULOS DE JESUS (AULA 15)


INTRODUÇÃO
Quem é Jesus de Nazaré?

Esta é uma pergunta que aparece sempre na vida dos seguidores daquele Mestre de Nazaré.

Fundamentados na experiência pascal e em Pentecostes é que a fé em Jesus e o aprofundamento na compreensão de sua identidade se desenvolveram.

As primeiras comunidades apresentaram vários caminhos para a aproximação da rica e complexa realidade de Jesus usando elementos tomados do Antigo Testamento, das tradições judaicas e do helenismo.

Trataremos, então, alguns desses títulos
- O Cristo-Messias
- O Servo de Iahweh
- O Homem Novo
- O Senhor
- O Filho do Homem
- O Filho


JESUS É O CRISTO-MESSIAS

Cristo-Messias significa “Ungido”.

Eram ungidos o rei, o sacerdote, enfim, pessoas com alguma missão ou tarefa especial em relação ao povo de Israel.

No Antigo Testamento a ação libertadora e salvífica de Iahweh está associada à vinda de um Messias-rei, da casa de Davi.

No tempo de Jesus era predominante a interpretação político-nacionalista da figura do Messias. Daí a reserva de Jesus em relação à utilização desse título.

Ele não se afirma Messias, mas não rejeita o título, sempre corrigindo seu significado, principalmente quando lhe é dado por doentes e pelos discípulos.

Depois de sua morte-ressurreição ficou claro o messianismo de serviço de Jesus.

O título mostra a continuidade entre a expectativa de Israel e a Igreja
Ele é o esperado, o salvador de toda a humanidade, é aquele que supera as expectativas do coração humano.


JESUS É O SERVO DE IAHWEH

Ele viveu toda a sua vida em entrega filial ao Pai e em amor-serviço e solidariedade aos irmãos.

Sua entrega, em consonância com o Servo dos cantos de Isaías, foi feita:
“por amor a nós, em proveito nosso, em nosso lugar”.


JESUS É O HOMEM NOVO

Sonhamos com um ser humano melhor que o atual. Sentimos que existir o ser humano real, histórico e o ser humano ideal, desejado, sonhado.

Também os gregos tinham esta ideia: o homem originário, proveniente do divino, que era modelo para a criação do homem real.

Também no judaísmo, influenciado pelo helenismo, interpretou-se a criação do homem em Gênesis com a existência do Adão perfeito, criado à imagem de Deus e o Adão terrestre, imperfeito, feito de argila.

Este contexto cultural será retomado no Novo Testamento.

Paulo afirma que o verdadeiro homem, o homem que vem de Deus é o segundo Adão, Jesus Cristo: “O primeiro homem tirado da terra é terrestre.

O segundo homem vem do céu” (1 Cor 15, 47) e “...Adão, que é figura daquele que devia vir...” (Rm 5, 14b)

Há, para Paulo, “dois Adões”, dois modos de existir: o “corpo psíquico”, do Adão pecador, incapaz de doar vida, e o “corpo espiritual”, próprio de Jesus Cristo, fonte de vida para todos: “o último Adão tornou-se espírito que dá a vida” (1 Cor 15, 45b)

Jesus é a verdadeira imagem de Deus, e o cristão é chamado a assemelhar-se a essa imagem, morrrendo ao homem velho para poder viver a vida do homem novo.

Mas, hoje nós somos a imagem do primeiro ou do segundo Adão?

Paulo nos esclarece: “Assim, como trouxemos a imagem do homem terrestre, traremos também a imagem do homem celeste” (1 Cor 15, 49).

Estamos em transformação, do homem que trouxemos para o homem que traremos.


JESUS É O SENHOR

Com este título eclode a confissão de fé na condição divina de Jesus.

O nome de Deus no Antigo Testamento é traduzido para o grego pelo termo “Kyrios” (Senhor).

As primeiras comunidades já confessam que Jesus é o Senhor.

Sua intenção é clara: diante da multiplicidade de senhores, os cristãos confessam um único Senhor: Jesus, o Cristo. Ficam invalidados todos os outros senhores, com sua falsa intenção de divinidade.

O senhorio de Jesus é escatológico, mas já incide na vida da comunidade.
A vida cristã é vivida em relação ao Senhor Jesus: “no Senhor”, fórmula utilizada inúmeras vezes por Paulo em suas cartas, significando que a vinculação ao Senhor é para ser vivida no cotidiano, na aceitação desse senhorio.

Por isso o hino cristológico de Fl 2, 6-11 exprime a fé na origem divina de Jesus, no seu esvaziamento, assumindo todas as consequências da morte de cruz, na sua exaltação. O hino afirma ao final: “que toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”


JESUS É O FILHO DO HOMEM

É uma expressão que aparece 80 vezes no Novo Testamento, sempre utilizada por Jesus para autodesignar-se (exceto em At 7, 56)

É uma tradução para o português de “Bar nasha” ou “ben adam” que quer dizer simplesmete que alguém é humano, é homem.

Aparece frequentemente no Antigo Testamento com este significado.
Dois autores bíblicos empregam o termo num sentido diferente do comum: Ezequiel (cap 34) e Daniel (cap 7).

Deus chama o próprio Ezequiel de “filho do homem” quando lhe dá uma missão.
Escrevendo por ocasião do exílio na Babilônia, Ezequiel inverte a noção do Messias guerreiro que liberta, para a ideia de Príncipe da Paz, de Bom Pastor.

O fato de ser simplesmente homem não o impede de ser testemunha e sentinela de Deus, anunciando a verdadeira aliança e a verdadeira face de Deus, bom pastor por excelência.

Em Daniel aparece a figura apocalíptica do Filho do Homem, descrevendo um sonho.

O texto deixa na sombra a identidade do Filho do homem, mas lhe atribui qualidades que iluminam seu ser e sua função.

O personagem não surge da terra, do abismo primitivo como os outros seres, mas vem por sobre as nuvens, tem origem no céu.

Ele surge durante o julgamento final, e recebe de Deus a soberania, torna-se o substituto de Deus no governo do mundo.

O Filho do Homem é um personagem escatológico, e esta figura funde-se com outro personagem: o Messias sempre aguardado.

O Filho do Homem pertence a dois mundos: o mundo de Deus, do qual ele é o Revelador, e ao mundo dos homens, onde traduz em linguagem humana a eterna intenção de Deus.

Jesus emprega a expressão com três significados diferentes:

1- Ele é o Filho do Homem que atua em sua existência terrena em meio aos outros homens, vivendo as limitações dessa existência: “Veio o filho do homem que come e bebe, e dizem: eis aí um glutão e beberrão” (Mt 11,19)

2- Ele é o Filho do Homem que realiza a missão do Servo: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos... Ser morto e ressuscitar” (Mc 8, 31); “O Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores” (Mt 26, 45)

3- Ele é o Filho do Homem que virá no final dos tempos, com glória e poder, para julgar, o que o coloca na perspectiva própria de Daniel: “E quando vires o Filho do Homem subir aonde estava antes?” (Jo 6, 62); “Quando o Filho do Homem vier em sua glória...então se assentará no trono de sua glória” (Mt 25, 31)

O Filho do Homem evoca uma origem celeste enquanto essa tiver uma correspondente terrestre, e toma forma concreta na encarnação, na humilhação, na existência do Servo.

É a encarnação que estabelece que a escatologia gloriosa não despreza a história concreta dos homens.

O Jesus da história é o Filho do Homem que conduz a humanidade, com toda limitação e sofrimento, à glória apocalíptica de que fala Daniel.

A vocação do Filho do Homem não é diferente daquela do Servo.

Jesus é o Filho do Homem porque sendo de condição divina possui uma existência histórica.

O título Filho do Homem é apenas formal enquanto não assumir carne e sangue. Ele se manifestará na Parusia, quando a dualidade entre o projeto de Deus e o concreto da história for superada, quando a identificação de Jesus com a humanidade for manifesta, no julgamento.

O julgamento é, na verdade, a revelação da identidade entre Jesus e os homens.

Título de majestade, o Filho do Homem define a missão de Jesus, enquanto realiza na história uma intenção divina: a unidade dos homens entre si e com o Filho de Deus


JESUS É O FILHO

O título “Filho” é diferente do título “Filho de Deus”. Este último tem origem na teologia política do antigo Oriente.

O rei era visto como tendo origem divina.

Em Israel essa “geração” era tida como “eleição”.

A simples palavra “Filho”, nos Evangelhos, nós só encontramos na boca de Jesus.

O Evangelho de João – na qual a palavra aparece 18 vezes – é que melhor aprofunda o significado da filiação única de Jesus: ela implica uma íntima e perfeita comunhão de conhecimento, de vontade e de ser com o Pai.

O Filho identifica toda a sua atividade com a atividade do Pai: “O Filho, por si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; tudo o que este faz o Filho o faz igualmente” (Jo 5, 19).

Ele tem a vida em si: “Como o Pai tem a vida em si também concedeu ao Filho ter a vida em si” (Jo 5, 26). Possui comunhão de conhecimento: “como o Pai me conhece eu conheço o Pai” (Jo 10, 15)

Ele está no Pai como o Pai está nele: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós.” (Jo 17, 21)

A vontade do Filho constitui uma unidade com a do Pai, como nos é apresentado no Jardim das Oliveiras: “não a minha vontade, mas a tua seja feita.” (Lc 22, 42)

De tal modo é íntima e total a comunhão entre Pai e Filho que Jesus pode dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30)

21 de setembro de 2010

BÍBLIA - DEUTERONÔMIO (aula 10)

O livro do Deuteronômio sempre foi muito importante para o judaísmo. Nele está o Shemá (6, 4-9), que os judeus recitam diariamente e é o centro do livro.

É um dos livros mais citados no NT ao lado de Isaías e Salmos, além de influenciar a eclesiologia de Paulo e a perspectiva de Deus como um Pai amoroso.

Para os alexandrinos, o livro é uma atualização da Lei (17,18) contida no Código da Aliança (Ex 20-23).

É uma atualização da antiga aliança, procurando adaptá-la a novos tempos e situações.

Neste livro temos as últimas palavras de Moisés e o seu destino. É o grande conjunto do Pentateuco. Estamos na terra de Moab, no além Jordão, no último ano de marcha pelo deserto (1,1-3) antes da entrada na Palestina central.

O Deuteronômio foi colocado entre os acontecimentos importantes: de um lado, a libertação da escravidão no Egito, a aliança com Javé e a marcha pelo deserto (Ex, Num, Lv) – de outro, a posse de Canaã, a Terra Prometida (Js, Jz).

É preciso pois, que o povo aprenda a viver a liberdade.

O Deuteronômio é, portanto, um aprendizado, uma pedagogia da liberdade e da justiça, a fim de construir uma sociedade em aliança fiel com Deus que liberta e dá a vida para todos (4,40; 6, 24-25; 8, 1-5).

É um apelo de conversão ao povo que vai atravessar o Jordão e tomar posse da terra. Isso depende da fidelidade do povo a Javé.

O seu aspecto particular é a legislação fundada no decálogo (5, 1-21), confiada a Moisés para ser exposta ao povo.


ESTILO E GÊNERO LITERÁRIO:

O estilo utilizado no livro do Deuteronômio é marcado e diferente de qualquer outro livro do AT. Nele encontramos uma oratória fluente e solene, buscando atingir, comover, convencer e influenciar os ouvintes pelo sentimento.

Trata-se de uma obra cheia de vida, dentro de um gênero monótono (legislação). Encontramos três elementos: leis, narrativa e exortações.

Leis:
Apresentadas de modo caloroso, apelando para o bom-senso e sentimento, apoiando-se em argumentos que questionam diretamente a consciência (15,12-18).

Narrativas:
Falam de um passado, dirigindo-se ao presente, visando formar a consciência histórica que constrói o futuro (5, 1-3)

Exortações:
Se dirigem à liberdade e pedem uma decisão (28; 30)

Seu gênero literário é bastante complexo e resulta de uma confluência das instituições do tempo do reino dividido.

Temos sacerdotes (leis e instruções), profetas (oratória fluente e emotiva) e sábios (conselheiros perspicazes).


VISÃO PANORÂMICA:

A estrutura geral apresenta quatro grandes partes:

I. Introdução histórica e teológica (1-11)

II. Código Deuteronômico (12-16)

III. Ritos de conclusão da aliança (27-30)

IV. Apêndices (31-34)



I. Introdução Histórica e Teológica (1-11)
1. Primeiro discurso de Moisés (1,1-4,40)
2. Segundo discurso de Moisés (4,44-11,32)

II. Código Deuteronômico (12-26)
1. Relações com Deus: leis cultuais (12,1-16,17)

2. Relações com as mediações: leis sobre as autoridades (16, 18-18,22)

3. Tribunal superior no santuário para causas difíceis (17,8-13)

4. Situação das autoridades (17,14-18,22)

5. Relações sociais: leis civis (19, 1-21,19)
- Respeito pelo homem e pela vida (19,1-21,9)
- Direito familiar e social (21, 10-25,19)
- Respeito pela vida: animais (22, 22-23)
- Respeito pela vida: nas relações sociais (22,13-23,1)
- Critérios para pertencer à comunidade (23, 2-15)
- Respeito para com os pobres e necessitados (23, 16-24,22)
- Respeito pela dignidade, boa fama e lealdade para com o próximo (25, 1-16)
- Destruição de Amalec (25, 17-19)

6. Prescrições rituais e conclusão (26, 1-19)
- Os primeiros frutos (26, 1-11)
- O dízimo trienal (26, 12-15)
- Conclusão (26, 16-19)

III. Preparação e conclusão da Aliança (27-30)
1. Preparação e ritos da aliança (27)
- Pedras da lei com a legislação (27, 1-10) (27, 1-10)
- 12 maldições sancionando a infidelidade (27, 11-26)

2. Bênçãos (28, 1-14) e maldições (28, 15-68)

3. Terceiro discurso de Moisés (29-30)

IV. Apêndices (31-34)
1. De Moisés a Josué (31):
- exortação ao povo e eleição de Josué (31,1-8. 14-15.23); - livro da Lei para ser lido a cada sete anos (31, 9-13);
- introdução ao cântico de Moisés (31, 16-22) e convite ao povo (31, 28-30);
- o livro é guardado ao lado da Arca (31, 24-27).

2. O cântico de Moisés (32, 1-47):
- profecia e celebração (32, 1-43);
- exortação: Lei como fonte de vida (32, 44-47).

3. Último ato de Moisés (32, 48-33,29):
- Moisés sobe ao monte Nebo e contempla a terra (32, 48-52);
- Bênção de Moisés (33).

4. Morte de Moisés (34):
- a morte (34, 1-9);
- elogio (34, 10-12).

Javé é o Pai que ama o seu povo, adotando-o como filho. A esse amor, o povo responde com o temor e o amor.

O amor de Javé por seu povo é testemunhado pelos seus dons:
- ele dá a liberdade (êxodo)
- e a vida (terra).

Esse dom é fruto, também, da conquista do povo.

Na conquista da liberdade, se tem a relação política.

Na conquista de terra, se tem a relação econômica.

A JUSTIÇA DE DEUS NASCE DO AMOR E SE REALIZA NO DOM DA LIBERDADE E DA VIDA PARA TODOS.

A justiça do homem nasce do temor-amor que conquista a liberdade e a vida, transformando-a em partilha e fraternidade.



O Deuteronômio fornece uma metodologia pastoral para a atualização da fé dentro dos problemas e conflitos de um novo contexto histórico, com seus aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais.

Atualizando sua leitura, podemos avaliar, de forma crítica, os problemas e desafios que um determinado contexto histórico-social levanta, tomar desse parâmetro ou modelo do passado a tradição válida ou a atitude básica permanente, aplicar a tradição válida ou a atitude básica permanente para responder aos problemas do presente e, essa resposta, deve conservar a natureza da tradição válida ou a atitude básica permanente.

Assim, o deuteronômio, lança o alicerce da ética. Apresenta a Lei que não é imposta de fora, mas que provoca o emergir da consciência e pede uma decisão.

Temer e amar javé, é uma tarefa que engloba toda vida

20 de setembro de 2010

BÍBLIA - NÚMEROS (aula 09)


Este livro se chama Números porque começa com um grande recenseamento do povo hebreu no deserto.

Após a libertação da escravidão no Egito (livro do êxodo) e a formação recebida no Sinai (livro do Levítico), o povo recebe as últimas instruções e se põe em marcha pelo deserto (Números) até a planície de Moab, onde Moisés profere o seu último discurso (Deuteronômio), visando à conquista e à organização do povo na Terra Prometida.

Para os hebreus, a saída do Egito foi uma lenta e penosa caminhada em busca da terra.

Neste livro, a caminhada se transforma numa majestosa marcha organizada de todo um povo. No centro de toda caminhada está a arca da Aliança, o que destaca não um relato histórico, mas uma transmissão de mensagens.

À luz da caminhada do povo para a terra prometida, estamos nós em busca do Reino de Deus. A organização mostra que, dentro do povo de Deus, as funções devem ser repartidas, mas com um único objetivo: realizar o projeto de Deus.

A arca de Deus no centro indica que, nessa caminhada, Deus está sempre presente no meio de seu povo.

Porém, nos depararemos com fortes conflitos (capítulo 16) e que seus chefes estão sujeitos a fraquezas e desânimos, por mais importantes que sejam na comunidade.

O livro se abre ao papel do profeta, que na caminhada do povo de Deus para a Terra Prometida, deve haver sempre um lugar para o profeta (22 a 24).

O nome “Números” veio da tradução grega do AT. O título do livro em hebraico é mais interessante: “No deserto” (bamidbar).

Neste livro, o deserto é o personagem principal e decisiva.

A divisão do livro
1,1-10,10: os últimos 19 dias no Sinai;
10,11-21,35: em marcha pelo deserto;
22-36: em Moab, diante da Terra Prometida.

A primeira parte prolonga e completa a apresentação das instituições descritas no Êxodo e no Levítico.

A segunda parte é a saída de Israel do Sinai, atravessando o deserto, chegando aos limites da terra de Moab.

A terceira parte começa com um novo recenseamento (26) e contém as disposições de Moisés para a partilha dos territórios conquistados (32).

O livro Números é bastante complexo e suas tradições possuem materiais que vieram à luz num período de mais de oitocentos anos, entre 1230 e 400 a.C.

Nele encontramos textos javistas (preocupações da corte Davi e Salomão, significação universal do povo), eloístas (preocupação com as tribos, Moisés é o profeta e comunica o espírito profético) e sacerdotais (refletindo a preocupação com os sacerdotes em torno do culto). Trata-se de um relato, com elementos legislativos.

Compreendendo que o conflito de sistemas é o cerne da Bíblia e que ele foi instaurado pelo próprio Deus, cabe a todas as pessoas que se dedicam à evangelização, vencer o conformismo que aprisiona o povo no velho sistema para instaurar o conflito e instigar à luta pela construção de um novo sistema.

O Deserto
É o lugar da educação, onde o povo deve aprender um novo modo de viver. A passagem do Egito para a Terra Prometida foi longa... tempo para transformações...

Deserto é lugar de dificuldades e desgraças (11,1-3)...
Deserto é lugar de fome (11,4-9)...
Deserto é lugar de racionamento (11,4.13.31-34)...
Deserto é lugar de pragas e doenças (17, 6-15)...
Deserto é lugar de sede (20, 2-13)...
Deserto é lugar de cansaço (21, 4-9).

O quadro de conflitos mostra que as coisas não são pacíficas no processo de conquistar a vida. Damos valor ao que conquistamos. O deserto é um tempo de rever as próprias atitudes, projetar vida, projetar sonhos... dar passos.

Moisés demonstra grande paciência e é descrito como “o homem mais humilde entre todos os homens da terra” (12,3), mas tal qualidade não o pouparam do desânimo, da dúvida e até do espírito de vingança.

O resultado da caminhada no deserto é sombrio, nenhum dos que saíram do Egito entraram na Terra, nem o povo, nem Moisés e Aarão.

Quem vai entrar na Terra é a nova geração (14,31; 26, 63-65), que poderá aprender com erros e acertos da geração anterior.

É graças a Moisés que o povo liberto recebe a sua primeira organização.

O Decálogo é incompreensível sem o movimento de libertação.

Todos vêem as coisas ou os acontecimentos, mas em geral, as pessoas ficam na casca ou na aparência dos acontecimentos. O profeta penetra a casca e vai ao seu núcleo profundo, que é o segredo que o acontecimento possui.

SEGREDO
- COISA = ACONTECIMENTO
- VONTADE DE DEUS
(sentido do acontecimento)

Assim, Números nos confirma a presença de Javé como Deus libertador, Deus da vida.

Um Deus que está no meio do povo, presente na “tenda do encontro”, não se encontra em edifícios ou estruturas, mas está no meio do povo. Deus é popular: não quer estar acima e nem longe do povo.

Estamos diante de um Deus que acompanha e guia o seu povo, um Deus vigilante, compassivo, exigente.

O livro todo é pontilhado pela expressão “Javé disse a Moisés” ou “Javé disse a Moisés e Aarão” (1, 1.54; 2, 1.34).

Israel é o povo que ouve a voz de Javé mediada pelo seu profeta.

Assim é a experiência vivida no deserto, um lugar da educação ideológica de Israel: deixar os mitos do antigo sistema e começar a cultivar a memória, formando a consciência histórica capaz de produzir e solidificar um novo sistema.

O Salmo 78 nos convida a rezarmos esse momento, essa lembrança e esse esquecimento.

É no deserto que se encontra a solidariedade.

É no deserto que a solidariedade social despertará a nova comunidade, na luta e na conquista da nova terra.

Um povo que não conheça a solidariedade social é um povo fraco e vulnerável, totalmente impotente diante da liberdade e da vida.
BÍBLIA - LEVÍTICO (aula 08)



Encontramo-nos no momento em que se dá a formação de um povo santo.

Levítico provém do nome Levi, a tribo de Israel que foi escolhida para exercer a função sacerdotal no meio do seu povo.

Dentre os livros da Bíblia, o Levítico é o mais enfadonho para ser lido e o mais difícil para ser entendido. Muitos nunca o leram, outros pararam na metade e, os que conseguiram chegar até o fim, deram um suspiro de alívio.

Fala do culto, do sacerdócio e das práticas religiosas de Israel e do judaísmo. Sua riqueza se dá no conhecimento do período pós-exílico e na ascensão progressiva da classe sacerdotal. É o livro que define o estatuto do poder e do governo sacerdotal no pós-exílio.

Encontramos nesse livro um emaranhado de leis, cerimônias, rituais, festas e costumes, que nos desanimam e nos fazem perguntar: Para que ler isso?

Não podemos esquecer, porém, que tal livro é parte da revelação de Deus e, que por isso, tem sua mensagem válida.

É no Levítico que podemos descobrir a preocupação minuciosa de mostrar que o Deus santo está presente em todos os setores da nossa vida, curando, julgando, salvando e chamando-nos continuamente a sermos santos (19,2).

Também nesse livro se encontra a regra de ouro: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (19,18).

O livro do Levítico é um livro mais para ser consultado do que para uma leitura contínua, pelo caráter de leitura monótona e bastante árida.

O centro da ideologia presente em Levítico é a função de mediador que, enraizada na herança de Moisés e Aarão, pouco a pouco invadirá todos os campos da vida judaica, desde o religioso até o moral e social.

Como justificar o poder sacerdotal?
A justificativa está no poder mediação: o sacerdote é o mediador entre Deus e o povo. O povo só pode chegar até Deus por meio do sacerdote. E Deus só pode chegar até o povo por meio do sacerdote.

POVO -> Profano
SACERDOTE -> Intermediário
DEUS -> Sagrado


Estrutura do Livro:
Fruto de longa evolução, o livro do Levítico deixa ver, contudo, uma estruturação bastante marcada.

1.Os sacrifícios (1-7)
2.O sacerdócio mediador (8-10)
3.Pureza e impureza (11-16)
4.O Código de Santidade (17-26)
5.Apêndice: o resgate (27)

O livro do Êxodo, termina com a construção da Tenda do Encontro (40, 16-33) e as primeiras palavras do Levítico exprimem a legitimação dessa tenda.

Deus transmite, ao longo do livro, “suas leis e costumes”, explicando o bom uso dessa tenda para que seja verdadeiramente, o “lugar do encontro”. O título hebraico consiste na primeira palavra do texto: wayyiqrá = ele chamou.

SACRIFÍCIOS
Em todas as religiões, o sacrifício é uma tentativa de entrar em relação mais íntima com a divindade. Sacrifício enquanto “dom” oferecido à divindade; sacrifício operando uma “comunhão” com a divindade e sacrifício visando a uma “expiação” dos pecados.

SACERDÓCIO
As funções sacerdotais não parecem ser exercidas só por especialistas. Os patriarcas das famílias também as exerciam. Contudo, em torno dos lugares de culto, estabeleceram-se famílias sacerdotais que garantiam o serviço do santuário e conservavam as tradições e os costumes.

PURO E IMPURO
A noção de impureza é bem próxima a de “tabu”. Na impureza, o homem não entra em relação com Deus no culto. O ato culpável acontece quando, estando em impureza, a pessoa age como se estivesse pura (15,31).

SANTIDADE
Uma das noções capitais do Levítico. A santidade aponta todo o mistério insondável do Deus transcendente, inapreensível, inefável. E sendo transcendente, Deus permite ao homem aproximar-se dele (23) Este Deus incompreensível dá-se a conhecer e comunica sua vontade (19).
CRISTOLOGIA - SOTERIOLOGIA CONTEMPORÂNEA (aula 14)

INTRODUÇÃO
O Deus salvador e a decepção dos discípulos.
A cruz como grande escândalo.
O Servo sofredor de Isaías como uma explicação do acontecido com Jesus.

Os modelos de interpretação da morte de Jesus
- Sacrifício expiatório
- Satisfação substitutiva

O modelo do sacrifício expiatório
Jesus morreu pelo pecado do seu povo.

Pelos sacrifícios os homens veneravam a Deus e julgavam aplacar sua ira provocada pela maldade humana. Deus se tornava bom novamente.

Nenhum sacrifício conseguia aplacar definitivamente a ira divina.
A encarnação criou esta possibilidade de sacrifício perfeito.

O Deus irado não combina com o Deus-Pai misericordioso que Jesus nos revelou: o Deus amor e perdão.

Jesus insiste na primazia do amor ao próximo e da misericórdia sobre os sacrifícios e holocaustos.

Deus não espera os sacrifícios para oferecer sua graça. Ele se antecipa.

O verdadeiro sacrifício é abrir-se e entregar-se filialmente para Ele.

A vida humana possui uma estrutura sacrificial.

A vida só é humana mesmo quando sai de si, se abre para a comunhão, morre-para-si-mesma e se realiza no outro.

“Quem ama sua vida a perde e quem odeia sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna” (Jo 12, 25).

Deus sempre espera de nós este tipo de sacrifício.

Jesus foi assim o sacrifício perfeito: entregou toda sua vida e morte pelos outros e pelo Outro.

O modelo da satisfação substitutiva
No século XI, o bispo Anselmo de Cantuária formula este conceito: o pecado ofendeu infinitamente a Deus, e o homem não seria capaz de oferecer uma satisfação infinita.

Só Deus mesmo pode proceder esta satisfação.

É necessário que Deus se faça homem para oferecer a Deus esta safistação infinita. A morte cruenta na cruz é que verdadeiramente nos salva.

Este modelo é fruto duma visão feudal de Deus, e ajudou a formar uma imagem de um Deus cruel, sanguinário e vingativo, infelizmente ainda presente em muitas cabeças piedosas.

Deus surge como injusto: pede a vida de um inocente, e alegra-se com sua morte até o extremo de não poder perdoar o mundo sem ela.

É uma visão também absurda: nos reconciliamos com Deus por um ato que objetivamente é um crime maior do que o pecado que pretende reparar.
Deus Pai, mais do que um colaborador na salvação é, na verdade, um grande obstáculo a ser vencido.

Não! Deus não é sádico, injusto, sanguinário.

Em que consiste, afinal, a salvação?

Em ser o homem plenamente ele mesmo, realizando todas as aspirações do seu coração, nas mais diversas ramificações da existência: em suas relações com si mesmo, com Deus, com os outros, com o cosmos, com o meio ambiente, etc.

Salvação é ser fiel ao “conceito” que Deus pronuncia em mim. Se sou fiel ao pensamente que deveria encarnar, estarei salvo.

O homem sente-se incapaz desta realização. Nunca satisfaz às exigências que experimenta em si mesmo.

Nunca está satisfeito = feito o bastante, o suficiente. O homem fechou-se sobre si mesmo.

Só a Jesus, Deus concedeu realizar plenamente todas as aspirações do homem. Só Ele satisfez as exigências de abertura ontológica do homem.

Deus se encarnou não apenas para divinizar o homem, mas para plenamente humanizá-lo. Jesus nos mostra que a abertura plena, o verdadeiro homem, não é uma utopia, mas sim uma topia: somos salvos na medida de nosso empenho de satisfação de nossa vocação humana.

Soteriologia contemporânea

As noções de “sacrifício expiatório” e “satisfação” não mais encontram horizonte na sociedade contemporânea.

Os teólogos buscam na expressão “solidariedade” uma formulação mais acessível para a ação salvífica de Jesus.

O eixo central desloca-se para a expressão “por nós”. A existência toda de Jesus é uma existência para os outros.

Esta entrega está presente em toda a sua vida e perdura até hoje, na eucaristia, que é seu corpo “entregue por vós” (1 Cor 11, 24b) e seu sangue “derramado por muitos” (Mc 14,24).

O que é redentor em Jesus é toda sua vida: encarnação, vida, morte, ressurreição, ascensão, entrega do Espírito Santo.

A solidariedade do Cristo com a humanidade é singular: ele morreu “em nosso lugar”.

Ele salva ao experimentar e superar, na condição humana, o distanciamento que o pecado produziu entre a humanidade e Deus.

Ele faz com que o amor de Deus exista no lugar dos pecadores: ele toma sobre si os efeitos da humanidade distante de Deus e a carrega como o Servo.

Jesus, que está associado inteiramente a Deus, padece o mais radical abandono de Deus (Mc 15, 34). A distância de Deus, que é o pecado, é assumida no seio da relação divina do Pai e do Filho, que, no fim, foi transformada e superada na vitória da ressurreição.

Na morte e ressurreição de Jesus o máximo do amor redentor de Deus e do homem acontecem.

A salvação do Cristo age “a partir de dentro”.

Ele não é apenas um bom exemplo a ser seguido. Seu Espírito foi derramado em nossos corações. Nossa vida foi incorporada à sua vida: vivermos agora em Cristo (Cl 2,11), com Cristo (Cl 2, 12-20), por Cristo (Rm 7, 4), de Cristo (Gl 5, 24).

Mas... e a cruz?
Damos valor à cruz como consequência de toda sua vida. Ela foi o momento em que se manifestou até onde chegava o seu amor. A cruz foi “um acidente de trabalho”.

O Pai não desejou a morte de seu filho, como fica claro na parábola dos vinhateiros assassinos (Mc 12, 1-8).

É verdade que o Pai não evitou a execução de Jesus, mas para defender um valor maior: a absoluta e total seriedade e autonomia da história, respeitada por Deus mesmo quando a liberdade humana volta-se contra Ele.

O Pai não desejou a morte de Jesus. O que o Pai queria era que seu Filho fosse fiel à sua missão até o fim, até suas últimas consequências.

O Deus revelado por Jesus não é um Deus que se impõe pela força, mas sim o Pai que respeita a decisão humana. Se Jesus tivesse assumido o caminho do poder dominador teria deturpado a revelação do Deus Ágape.

A morte do Cristo foi desejada unicamente pela maldade humana.

Uma vez assumido este caminho, abrem-se duas possibilidades diante de Jesus:
O povo e seus dirigentes aceitarem a proposta do reino, vivendo a conversão ou rejeitarem Jesus e sua proposta.

Sabemos que historicamente foi a segunda possibilidade que se concretizou. Deus só queria, diretamente, que Jesus fosse aceito, mas, indiretamente, a possibilidade de rejeição está incluída na vontade do Deus que não se impõe pela força.

Jesus não buscou a cruz, apenas viveu o amor. O mundo sim, fechou-se a ele e criou-lhe cruzes pelo caminho.

Jesus não fugiu, não deixou de anunciar o Reino. Assumiu a cruz como sinal da fidelidade para com Deus e com a humanidade.

Este é o paradoxo da cruz: o que era obra do ódio, Jesus transformou em fonte de amor.

Pregado à cruz, Ele perdoa, inverte o movimento que mata.

Na morte violenta de Jesus, o amor vai ao extremo: revela que na luta entre o perdão e o ódio, aquele saiu vitorioso.

A vida venceu a morte!

Jesus não buscou o sofrimento. Este lhe foi imposto. Sua vontade não foi sofrer, mas amar.

A salvação foi realizada pelo amor, apesar de ter sido concretizada através do sofrimento. O que faltava ao mundo não era (e não é) a dor, mas sim o amor.

O que o Cristo nos pede é o seguimento, e não a dor.

Não é necessário buscarmos o sofrimento: já bastam as cruzes de cada dia.
O Senhor nos é totalmente solidário em nossas cruzes. Ele não está com aqueles que produzem a cruz, mas com aqueles que padecem com ela.

O amor de Deus não nos protege de todo sofrimento, mas nos protege em todo sofrimento.

Mas por que Ele não nos protege também de toda dor?

Porque o recurso ao “milagroso” ao “extraordinário” não teria limites e o mundo deixaria de ser mundo para ser um grande teatro onde Deus brincaria de marionetes com suas criaturas, privadas de toda liberdade, autonomia e iniciativa.

Mas apesar de todas as explicações, quando a dor aparece, continuamos achando que “não deveria ser assim”...

Nesses momentos, o homem de fé dá caminho à confiança, e sonha com o dia em que viveremos a plenitude do Reino, pois o Cristo nos prometeu que “Neste dia, nada mais me perguntareis” (Jo 16, 23)

O que importa é ser fiel a Cristo a qualquer custo, aceitando todo risco, esquecendo-se de si mesmo por ele, colocando o Evangelho no centro dos próprios interesses e dos próprios projetos pessoais.

A cruz que brota de nosso compromisso contra as cruzes do mundo, é a cruz que importa, e é a nossa incorporação à cruz do Mestre.

31 de agosto de 2010

CRISTOLOGIA - A MORTE DE JESUS - INTERPRETAÇÃO SOTERIOLÓGICAS (aula 13)

SOTERIOLOGIA

É o estudo da salvação humana.

A palavra é formada a partir de dois termos gregos Σοτεριος [Soterios], que significa "salvação" e λογος [logos], que significa "palavra", ou "princípio".

INTRODUÇÃO:
A morte de Jesus na cruz representou para os seus discípulos o fim e o fracasso de sua missão. Eles pensavam ter encontrado nele o rei que nunca mais poderia ser derrubado. Mas viram-se no papel de seguidores de um executado.

Os discípulos estavam derrotados, desnorteados e com muito medo.
A ressurreição deu aos discípulos a certeza de que Jesus era Rei, apesar de tudo do que tinha ocorrido. Mas só aos poucos eles foram compreendendo o sentido da cruz.

COMO EXPLICAR O SENTIDO DA ENCARNAÇÃO E O DA CRUZ?
Para entender o sentido da cruz, os discípulos dispunham da Escritura (Antigo Testamento) cujas imagens procuravam interpretar sob os acontecimentos ocorridos.

Face a isto ganhou uma enorme importância o texto de Isaias sobre o “servo do Senhor” (cf Is 52,13-53,12).

Este texto pertence ao segundo livro de Isaias (40-55) que foi escrito durante o exílio da Babilônia (598 - 538 a.C.) e registra a memória de fé e esperança do povo judeu, empobrecido e escravizado. Em meio à realidade de miséria e opressão, pessoas simples se solidarizam umas com as outras para superar o desafio da sobrevivência e do sofrimento.

Mas foi neste texto que os discípulos de Jesus e as primeiras comunidades cristãs encontraram o sentido da morte de Jesus na cruz. Nas cartas do Novo Testamento (NT) encontramos várias citações que validam esta afirmação. (2Cor 5,15; Rm 6,10; 1Pd 3,18; Hb 7,27; 9,12; 10,10).

Este fato acarretou no decorrer do desenvolvimento histórico do cristianismo, no Ocidente, um afastamento progressivo entre a vida de Jesus e sua morte na cruz, de tal modo que este processo produziu uma concentração cristológica sobre a cruz de Jesus, em detrimento do restante de sua vida.

A partir de então se desenvolveu uma reflexão soteriológica apenas concentrada na morte de Jesus. Ou seja, toda a problemática da salvação girava em torno do sentido da morte de Jesus Cristo.

Até os anos 1200 d.C desenvolveram-se varias teologias com diferentes interpretações sobre a morte de Jesus Cristo.
Podemos aglutiná-las em três categorias:


INTERPRETAÇÃO RITUAL: A TEOLOGIA DO SACRIFÍCIO EXPIATÓRIO
No primeiro milênio cristão, interpretaram a morte de Cristo como sacrifício expiatório: morreu na cruz para nos resgatar da morte, do pecado e do poder do diabo que nos mantinha escravos.

Tal libertação ocorreu de maneira onerosa, porque foi fruto da luta e da vitória de Cristo contra as forças do mal, a preço de seu sangue.

Esta onerosidade produziu a afirmação de que Cristo deu sua vida em “resgate”, isto é, como preço por ele pago para a libertação da humanidade.

Esta interpretação era inspirada na experiência ritual e cúltica dos sacrifícios no templo de Jerusalém.

Existiam diversos tipos de sacrifícios, sendo de destacar os holocaustos, os sacrifícios de comunhão, os sacrifícios expiatórios e as ofertas.

Dentre todos esses, destacava-se o sacrifício expiatório chamado “Tamid” (cotidiano) que era oferecido no Templo, pela manhã e à tarde, diariamente sem interrupção, cuja finalidade era obter o perdão pelos pecados (cf. Ex 29,38; Nm 28,3).

O evangelho de João designa Jesus como o “Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29b), numa clara apropriação do “Tamid” relido como chave interpretativa do sacrifício de Cristo.

Porém, mais importante que o “Tamid” era a liturgia sacrifical do “Yom Kippur” (“Dia da Expiação”), que acontecia uma única vez ao ano (cf. Lv 16, 1-34; Nm 29, 7-11).

Neste dia, o sumo sacerdote, fazia uma espécie de procissão, trazendo sobre os ombros um grande manto, formado de muitíssimos pedaços de pano. Cada um desses pedaços representava um tipo de pecado em particular.

Desse modo, o sumo sacerdote levava simbolicamente todos os pecados do povo.

Chegando ao pátio dos sacerdotes, o sumo sacerdote, e somente ele, oferecia um novilho em sacrifício, sobre o altar, por seus pecados e pelos pecados dos sacerdotes. Em seguida, oferecia um bode pelo pecado do povo.

Depois adentrava o santuário, levando consigo o sangue dos animais imolados, e penetrava até o "Santo dos Santos", uma sala totalmente escura que guardava a "Arca da Aliança" e onde estava a presença de Deus.

Somente o sumo sacerdote podia entrar nessa sala, e assim mesmo só uma vez por ano, no dia de "Kippur". Lá dentro ele jogava, por aspersão, o sangue dos animais imolados sobre o propiciatório e obtinha, assim, o perdão para todo o povo.

O rito do bode expiatório completava a celebração. Dois bodes eram apresentados ao sumo sacerdote, que tinha em suas mãos duas pedras. Uma trazia a inscrição: “para Deus” e a outra: “para Azazel”.

O bode sorteado para Deus era sacrificado e seu sangue derramado sobre a “Arca da Aliança”, no “Santo dos Santos”.

O outro bode era levado para o deserto depois do sumo sacerdote ter rezado sobre ele, impondo-lhe as mãos. Deste modo, carregado dos pecados do povo, era destinado à morte no deserto, lugar do demônio.

Ainda no AT, encontramos a misteriosa figura do “Servo do Senhor”, presente no livro do Deutero-Isaías, único texto do AT que utiliza a imagem de uma vítima humana oferecida em sacrifício de expiação.

À semelhança dos animais oferecidos no dia do “Yom Kippur”, o “Servo de Senhor” também carrega sobre si os pecados do povo, e morre para alcançar o perdão divino para todos: (Is 53,3-5.8-11).

Dos evangelhos se deduz que a comunidade compreendeu o “Mistério Pascal” de Jesus à luz da missão do Servo do Senhor: “Pois o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate pela multidão” (Mc 10,45).

Com a efusão de seu sangue, Cristo estabeleceu uma “Nova Aliança” entre a humanidade e Deus (cf. Mt 26,28). Ele, Jesus, é o “Cordeiro de Deus”, vítima perfeita, sem mancha que expia definitivamente o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29; Hb 9,1-12.24-28).

A dignidade incomensurável daquele que se ofereceu e o amor ilimitado que o sustentou conferem um valor absoluto e definitivo à expiação de Cristo.

A morte de Jesus obtém de modo definitivo a salvação que as outras vítimas oferecidas não tinham conseguido.

Esperavam os discípulos que a morte de Cristo cessaria definitivamente o sistema de sacrifícios do Templo de Jerusalém (cf. Hb 8,13), e o fato de assim acontecer deveu-se conforme a fé que tinham na veracidade de sua interpretação.

Do fato da expiação concluíam que ninguém podia salvar-se pelas próprias obras, pois se não fosse assim Cristo não precisaria ter morrido (cf. Gl 2,21), e que o único caminho da salvação era aceitar mediante a fé o sacrifício expiatório de Cristo na cruz (cf. Rm 3,19-31).

Nenhum sacrifício humano conseguia por si mesmo aplacar definitivamente a ira divina. A encarnação criou a possibilidade de um sacrifício perfeito e imaculado que pudesse ganhar a total complacência de Deus.

Jesus aceitou livremente ser sacrificado para representar todos os homens diante de Deus e assim conquistar o total perdão divino. A ira divina como que se extravasou na morte violenta de Jesus na cruz e se aplacou. Jesus suportou como expiação e castigo pelo pecado do mundo.

A teologia patrística introduziu ainda na questão da expiação a teoria do direito do diabo. Assim, para Orígines, a morte de Cristo foi o resgate pago a Satanás que havia adquirido direitos sobre o homem depois da queda:


INTERPRETAÇÃO JURÍDICA: A TEOLOGIA DA SATISFAÇÃO
A teologia da satisfação tem sua origem na Idade Média com Santo Anselmo de Cantuária (1033-1109), e por muito tempo permaneceu o conceito chave, isto é, o conceito capaz de resumir em si todos os aspectos da redenção.

A intenção de Santo Anselmo de Cantuária (1033-1109) tinha sido a de provar que a obra de Cristo foi conseqüência de causas necessárias, para demonstrar que essa obra tinha de acontecer justamente da maneira como aconteceu.

Em linhas gerais, o seu raciocínio dizia o seguinte: pelo pecado do homem, dirigido contra Deus, a ordem da justiça foi infringida de uma maneira infinita, e Deus foi infinitamente ofendido.

Na base dessa conclusão está a idéia que a gravidade da ofensa se orienta no ofendido, ou seja, o peso da ofensa varia de acordo com o objeto da ofensa.

Como Deus é infinito, também a ofensa cometida contra ele pelo pecado da humanidade tem um peso infinito.

O direito violado precisa ser restabelecido, porque Deus é um Deus da ordem e da justiça, ou melhor, ele é a própria justiça.

Como a medida da ofensa é infinita, exige-se também uma reparação infinita. Ora, o ser humano não é capaz de oferecer uma reparação infinita, porque como ser finito, ele sempre só pode oferecer algo que será finito. A sua força destruidora ultrapassa sua capacidade de construir. Por isso haverá sempre uma distância infinita entre todas as reparações tentadas pelo ser humano e o tamanho de sua culpa, ou seja, um abismo que ele nunca será capaz de superar.

Qualquer gesto de desagravo só há de provar-lhe a sua incapacidade de fechar o abismo que ele mesmo abriu.

Isso significa que a ordem permaneceria destruída para sempre e que o ser humano continuaria eternamente preso ao abismo de sua culpa?

Nesse ponto, Santo Anselmo aponta para a figura de Cristo. A sua resposta afirma, então:
Deus mesmo corrige a injustiça; mas ele não recorre simplesmente à decretação de uma anistia (apesar de ter essa possibilidade), porque esta não superaria intrinsecamente o acontecido. Então o Deus infinito se torna ele próprio ser humano, e como ser humano que faz parte dos ofensores, mas que possui também o poder de reparação infinita que é negada ao ser humano comum, ele presta o desagravo exigido.

Dessa maneira, a salvação se realiza totalmente pela graça e restabelece, ao mesmo tempo, toda a ordem de direito. Com esse raciocínio, santo Anselmo pensa ter dado uma resposta definitiva àquela pergunta difícil formulada em “Cur Deus homo?”, ou seja, a pergunta do porquê da encarnação e da cruz.

A sua reflexão marcou profundamente o segundo milênio da cristandade ocidental que estava convencida de que Cristo precisou morrer na cruz para reparar a ofensa infinita que tinha sido cometida pelos homens, e para restabelecer a ordem violada.

A redenção tornou-se, assim, sinônimo de "satisfação" da justiça divina, no sentido de que a morte de Jesus na cruz foi o preço do "resgate" da humanidade, pago, não ao diabo, como se dizia, em certas orientações, na teologia patrística, mas a Deus, para satisfazer a sua justiça e torná-lo propício aos homens.


INTERPRETAÇÃO MORAL: A TEOLOGIA DO MÉRITO
Nos séculos que se seguiram, a teoria de Santo Anselmo alcançou ampla aceitação no ocidente cristão, embora nunca tenha sido assumida como dogma pela Igreja.

Entretanto, ao longo do tempo, várias modificações foram introduzidas à soteriologia da satisfação. A mais significativa foi promovida por São Tomás de Aquino, que se opôs à idéia de que a encarnação era necessária à redenção.

Segundo São Tomás, a encarnação era bastante “apropriada” (conveniente), algo razoável e adequado para Deus realizar, mas não obrigatoriamente necessário. A encarnação só pode ser considerada necessária numa única situação: enquanto plena satisfação pela ofensa cometida contra Deus.

Embora reconheça a necessidade de reparar a ofensa feita a Deus, São Tomás coloca como objetivo principal da redenção a restauração do próprio ser humano. A misericórdia divina é o primeiro e principal motivo da redenção:
A prioridade do amor na soteriologia tomista estabelece uma nova chave hermenêutica para a redenção: o “mérito”.

Em razão do amor com que Jesus se entregou à morte, mereceu para si mesmo a ressurreição, e para a humanidade, a salvação. Dessa forma, a vida e a morte de Cristo foram “meritórias”.

A salvação é a recompensa que Jesus obteve para nós. Se Jesus não tivesse renunciado à sua glória divina, se não tivesse sido fielmente obediente à vontade do Pai, a humanidade não obteria a salvação.

Afirmar que Cristo mereceu nossa salvação com sua paixão e morte equivale a dizer que estas foram as verdadeiras causas de nossa redenção pelo valor moral que têm diante de Deus.

As interpretações soteriológicas fundamentadas nas categorias de expiação, satisfação e mérito produziram uma grande devoção popular à cruz de Jesus Cristo.

Porém uma devoção que desvinculou a cruz de seu contexto histórico. E aí se encontra um dos grandes danos que essa devoção produziu, e ainda produz, à espiritualidade cristã.

Desvincular a cruz de seu contexto histórico significa reduzi-la somente a símbolo da morte expiatória de Jesus Cristo.

O resultado é a redução da pessoa de Jesus ao papel de vítima expiatória e compensatória.

Desse modo, Jesus é privado de sua existência histórica.

As soteriologias tradicionais mutilam Jesus, fazendo dele apenas uma vítima para sofrer.

Transformam especificamente a dor de Cristo na cruz a causa da salvação da humanidade, além de transmitir uma imagem vingativa e colérica de Deus: somente o sofrimento físico do Filho é capaz de compensar a ofensa que a humanidade fez ao Pai.

A morte de Jesus é vista como a condição prévia para que Deus voltasse a amar a humanidade. Sem sofrimento não há perdão. Essa é a idéia de fundo que inspira toda uma espiritualidade centrada tão somente na dor.

Além disso, a dor provocada pelos sofrimentos é vista equivocadamente como méritos adquiridos diante de Deus; méritos que compensam os pecados cometidos.

Isso explica porque tantos Santos na história da Igreja usaram a criatividade para inventar instrumentos e ocasiões para sofrer. Era preciso buscar a cruz, o sofrimento diariamente, para compensar os pecados cometidos. A dor era o caminho real da salvação.


MEDO DE DEUS E SENTIMENTO DE CULPA

Medo de Deus, medo do inferno.

Um Deus implacável, sempre atento a punir com rigor os pecadores.
Esse discurso atemorizante norteou por muitos séculos a espiritualidade cristã.

Formou o inconsciente coletivo de muitas gerações de cristãos. E está ainda arraigado no íntimo de muitas pessoas.

É evidente que essa imagem de Deus criou uma espiritualidade do medo. Medo de ofender a Deus e de acabar no inferno.

Muitos cristãos foram verdadeiramente massacrados por essa angústia, que gerava, por sua vez, um escrúpulo exagerado e um mórbido sentimento de culpa, isto é, o pensamento fixo de que apesar das muitas penitências praticadas, não conseguiriam escapar da danação eterna.


BIBLIOGRAFIA

RATZINGER, J., Introdução ao cristianismo, São Paulo, Loyola, 2009.

RAUSCH, Thomas P., Quem é Jesus?, Aparecida-SP, Santuário, 2006.

NAKANOSE, S ; Paula Pedro, E, Como ler o segundo Isaias (40-55), São Paulo, Paulus, 2009

Parte do texto acima exposto foi extraído da apostila elaborada pelo Prof. Dr. Pe. José Roberto Palau do curso de Cristologia, do Instituto de Teologia e Filosofia Santa Terezinha (ITEFIST), São José dos Campos, 2009.

26 de agosto de 2010

CRISTOLOGIA - O PROCESSO E EXECUÇÃO DE JESUS (aula 12)

PERSONAGENS


Saduceus:
Representava a aristocracia sacerdotal e seus dependentes e sustentadores (classe conservadora dos latifundiários e dos comerciantes). Eles negavam a ressurreição dos mortos, a existência de anjos e do juízo final. Aceitavam só a Torá (Pentateuco), a lei escrita como normativa e rejeitavam a doutrina dos fariseus quanto das tradições dos anciãos. Tinha a maioria no Sinédrio. Este grupo foi totalmente extinto após a destruição do templo em 70 d.C.

Fariseus:
Concebiam o judaísmo como uma religião centrada na observância da lei e interpretavam as obrigações da lei da maneira mais rígida. Defendiam um estado teocrático. Eles eram opositores aos Saduceus e mantinham um estreito relacionamento com os escribas (os mestres e interpretes da lei). Desprezavam os ignorantes que não conheciam a Lei ou os que não praticavam as observâncias farisaicas. Somente este grupo sobreviveu após a sangrenta ação dos romanos junto a comunidade judaica da Palestina em 70 d.C.

Sinédrio:
Tribunal supremo da nação judaica, o que se coadunava com a pratica romana de se manter nas províncias os tribunais locais administrados por elementos locais (Na época de Jesus a jurisdição do Sinédrio se limitava a Judéia). Sua competência tinha o caráter religioso e secular, tendo a Lei judaica como a norma para as suas decisões. Este fórum não podia ordenar a execução de penas capitais. As sentenças de morte eram submetidas ao procurador romano para confirmação.

Sumo Sacerdotes:
Era a pessoa mais importante na comunidade judaica palestinense do período pós-exílico. Era o chefe do culto, presidente do Sinédrio e o representante chefe do povo diante dos funcionários governamentais dos poderes estrangeiros que dominaram a Palestina durante esses séculos. (Caifás)

Procurador:
Era a pessoa responsável por uma província, respondia ao Governador e era nomeado pelo Imperador. Tinha tropas auxiliares (não legiões) sob seu comando. Ele administrava a cobrança de impostos. Tinha jurisdição exclusiva em sentenças capitais. Tinha o poder de nomear e destituir o sumo sacerdote. (Pilatos - Judéia; Herodes - Galiléia)

Zelotas:
Partido político / seita judaica que representava o extremo do fanatismo nacional. Acreditavam somente no culto de Iahweh, e estavam convencidos de que a aceitação de uma dominação estrangeira e o pagamento de tributos a um soberano estrangeiro era uma blasfêmia contra Iahweh. Tinha poucos seguidores e era considerada, pelos outros judeus, como subversiva e hiper radical.

A PRISÃO
“Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras”. (Mc 14, 26).

Com esta observação se encerra a narrativa da ceia e inicia-se a narrativa da prisão.

As informações colhidas dos quatro evangelhos quanto a prisão são estas:
Mc 14,43:
“Jesus ainda falava, quando chegou Judas, um dos Doze, acompanhado de uma multidão com espadas e paus; eles vinham da parte dos sumos sacerdotes, escribas e anciãos”

Mt 26,47
“Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus; vinham da parte dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo.”

Lc 22,52
“Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos comandantes da guarda do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo: “Saístes com espadas e paus, como se eu fosse um bandido?”

Jo 18,3
“Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e armas.”

Os evangelistas Marcos e Mateus mencionam que a ordem para prender Jesus foi dada pelo Sinédrio, já Lucas insere os membros do Sinédrio presentes na cena da prisão e João menciona que a prisão foi efetuada pela “coorte” romana.

É muito pouco provável que os membros do Sinédrio tenham se dirigido até o Monte das Oliveiras para presenciar a prisão de Jesus e muito mais improvável a participação dos romanos nesta ação, pois uma “coorte” abrangia 600 homens além do fato que o Império Romano tinha delegado ao Sinédrio, portanto a jurisdição judaica, todo poder de decisão excetuando para os casos de penas capitais.

A tropa que prendeu Jesus estava armada.

Isto nos leva a intuir que consideravam Jesus uma pessoa perigosa ou então contavam com uma eventual resistência dos seus seguidores.

Não há elementos que possam afirmar que houve resistência e violência.

O provável é que a prisão tenha sido pacífica, pois não há duvidas que só Jesus tenha sido preso. “Então, abandonando-o, todos os discípulos fugiram” (Mc 14,50). Se um deles tivesse resistido, com certeza também seria preso.

Outro personagem importante na prisão de Jesus é Judas Iscariotes.

Os evangelistas silenciam sobre os possíveis motivos que levaram Judas Iscariotes a entregar Jesus.

Por que os adversários de Jesus utilizaram os serviços de Judas?
A resposta mais imediata é que ele conhecia o lugar da permanência noturna de Jesus, e que Jesus certamente não era bem conhecido dos que o prenderam.

Chama a atenção que para prendê-lo fosse escolhida uma hora no meio da noite.

Também aqui não podemos fazer mais que suposições.

Havia pressa!

O sumo sacerdote contava com a possibilidade de que houvesse reação entre os discípulos e simpatizantes de Jesus, e que estes poderiam impedir sua prisão.

A fuga dos discípulos teve como destino último a Galiléia, sua pátria. É pouco provável que eles tenham permanecido por mais tempo em Jerusalém. Nenhum dos Doze aparece na “via-sacra”.

A volta para a Galiléia é importante para a reconstituição dos acontecimentos da Páscoa.

Jesus é então levado ao sumo sacerdote.

JESUS PERANTE O TRIBUNAL JUDAICO
Mc 14,53-65
Fica evidente por este texto que Jesus foi condenado por ter alegado ser o “Messias”.

No entanto, hoje em dia, a grande maioria dos estudiosos concorda que há uma conexão direta entre a atitude de Jesus no Templo e sua morte.
Jesus desafiou não apenas o mais importante símbolo da vida judaica, como também a autoridade do sumo-sacerdote, toda ela baseada no culto feito no interior do Templo.

Evidentemente, a casta sacerdotal de Jerusalém tinha que conspirar contra Jesus.

JESUS PERANTE O TRIBUNAL ROMANO
Mc 15,1-15
O procurador do Império Romano era o supremo juiz da província, cabendo-lhe também o comando militar, e sua tarefa principal consistia em manter a tranqüilidade e a ordem. Era o representante da justiça imperial.
Como sinal de seu poder era-lhe permitido portar a espada. Pilatos poderia se quisesse, sem quaisquer formalidades, executar Jesus.

Jesus teve seu processo, de maneira imperfeita, mas o teve.

O processo de Jesus consistiu basicamente da acusação, apresentada pelos chefes dos sacerdotes e da audiência realizada por Pilatos.

O fato de Pilatos empenhar-se por um processo próprio contra Jesus mostra que ele não devia estar disposto a simplesmente aceitar a opinião da alta hierarquia religiosa de Israel, mas que queria tirar conclusões próprias.

Os relatos dos evangelhos deram motivo a que surgisse a idéia de que Pilatos, no final, não teria pronunciado nenhuma sentença formal de morte, mas que a entrega de Jesus para ser crucificado deveria ser considerada como uma simples medida administrativa no processo de coerção, uma ordem ou sentença de execução, ou coisa semelhante.

Somente em Jo 19,13 é que se fala da cátedra do juiz em que Pilatos se teria sentado, o que permitiria supor uma sentença formal (cf. Mt 27,19).
O palácio de Herodes pode ser considerado como o lugar onde Jesus ouviu a sentença de Pilatos. Diante do palácio encontrava-se uma praça livre, que era apropriada como local para julgamentos públicos.

Também Lc 23,24 introduz a palavra “sentenciar”, nos demais casos predomina a frase: “Entregou-o para ser crucificado” (Mc 15,15; Mt 27,26; Jo 19,16).

Por que os evangelistas evitam falar de uma sentença de morte proferida por Pilatos?
Uma hipótese muito viável diz que era para diminuir a culpa do romano Pilatos e aumentar a responsabilidade dos judeus.

Uma segunda hipótese, defendida por alguns historiadores do direito, é da opinião que o processo teria terminado com uma confissão de Jesus. Como a confissão tornava a sentença supérflua, ele poderia ser entregue à morte na cruz. Como base para isto toma-se a resposta de Jesus à pergunta de Pilatos, se ele era o rei dos judeus, e Jesus responde: “Tu o dizes” (Mc 15,2).

Ainda segundo relatos dos evangelhos, o processo de Jesus sofre uma interrupção com a cena de Barrabás.

Segundo Mc 15,6; Mt 27,15; Jo 18,39, Pilatos tinha o costume por ocasião da Páscoa de libertar um prisioneiro. Era uma anistia de Páscoa.

Chama a atenção que em Lc 23,18 não menciona a anistia de Páscoa. Nele a soltura de Barrabás aparece como um ato imposto por “aclamação” pela multidão reunida em frente à tribuna.

Uma anistia concedida regularmente pelo Imperador na festa da Páscoa é uma questão muito discutida. O historiador Flávio Josefo nada sabe a tal respeito.

Qual das duas versões deve ser preferida? Anistia de Páscoa ou aclamação?
Com base nas dificuldades relacionadas à historicidade da anistia de Páscoa, os estudiosos recomendam dar preferência à versão de Lucas: a libertação de Barrabás se deu por aclamação de seus simpatizantes.

O episódio Barrabás forneceu a possibilidade dos evangelhos envolverem ativamente o povo na condenação de Jesus.

Sobre uma participação nem que seja indireta do soberano da província Galiléia, Herodes Antipas, no processo, não é possível estabelecer coisa alguma historicamente confiável.

A “CAUSA MORTIS”
Mc 15,26
Na Palestina daquele tempo as crucifixões sempre tinham motivação política.

A queixa que foi levantada contra Jesus e que conseguiu convencer Pilatos tem que se enquadrar dentro dessa moldura mais ampla.

Temos em primeiro lugar a inscrição da cruz. A versão mais breve que nos foi transmitida pelo evangelho de Marcos, pode ser considerada como sendo a versão original: “E acima dele estava a inscrição de sua culpa: “O Rei dos judeus” (Mc 15, 26).

A versão era pública. Este costume é comprovado nas execuções do século I d.C. Carregada à frente do condenado, a inscrição sobre uma placa deve dar a conhecer ao maior público possível a causa de sua pena.

O título da cruz nos transmite com credibilidade a “causa mortis” de Jesus.
Ele era acusado de haver pretendido a realeza.

A cooperação entre Caifás e Pilatos, ou seja, entre as instâncias judaica e romana no processo de Jesus, demonstram como eram próximas as relações entre eles e quanto ambos sabiam tirar proveito desta colaboração mútua.

Uma colaboração processual entre as instâncias judaica e romana pode muito bem ser imaginada nos crimes referentes ao Templo.

No tempo dos procuradores judeus, quando os sumos-sacerdotes eram nomeados por Roma, a capital do império tinha também a supervisão sobre o Templo.

Ali diariamente eram oferecidos sacrifícios pelo imperador e pelo povo romano.

Certamente o protesto de Jesus no Templo, sua investida contra os cambistas e vendedores de pombas no átrio dos pagãos, constitui o fator determinante de sua prisão.

Todavia, por mais plausível que um delito contra o Templo nos possa parecer como uma ocasião para proceder contra Jesus, isto ainda não é suficiente para acusá-lo de usurpar a realeza do povo judeu.

É certo que Pilatos condenou Jesus porque viu nele uma ameaça à ordem do estado.

Mas por que ele não fez nada contra seus discípulos?
O objetivo do processo era unicamente a eliminação de Jesus.

Por parte dos acusadores, Jesus deve ter sido apresentado como alguém que ameaçava a ordem pública.

O processo do Sinédrio era um processo de motivação religiosa, mas neste período, a religião e o poder civil caminhavam muito próximos.

Levado a Pilatos, Jesus só podia ser apresentado sob o ponto de vista da razão do estado. Desta forma a acusação de “Rei dos judeus” constituiu o pano de fundo para a condenação.

O direito penal romano apresenta dois fatos capazes de abranger juridicamente a acusação apresentada pelo Sinédrio:
- Grave inimizade contra a pátria.
- Dano infligido ao prestígio do povo romano.

Ainda não há dados objetivos para afirmar qual das formulações de delito foi utilizada por Pilatos.

A VIA-SACRA E A EXECUÇÃO
Mc 15,16-47

A flagelação fazia parte da crucifixão, era o começo da execução. Para a flagelação os soldados usavam uma correia de couro que muitas vezes continha fragmentos de ossos ou grumos de chumbo.

Aquele que ia ser flagelado era despido e atirado ao chão, ou amarrado a uma coluna. O direito hebraico fixava o número de golpes a serem desferidos: quarenta menos um (cf. 2Cor 11,24). O direito romano, não estabelecia limites.

O relato da paixão prossegue com a ridicularizarão de Jesus como rei dos judeus pelos soldados (cf. Mc 15,16-20a).

A placa com a inscrição da culpa era levada à frente de Jesus, ou pendurada ao seu pescoço. O cortejo público para a execução, assim como a execução, tinham o objetivo de intimidar.

De acordo com o direito romano e em correspondência com os costumes judaicos, as execuções eram realizadas fora da cidade. Os condenados tinha que carregar eles próprios a trave transversal.

O lugar da execução é o “Gólgota”. Os evangelistas traduzem a palavra como “lugar da Caveira” (cf. Mc 15,22).

Gólgota provavelmente era o nome do terreno, pois era uma colina em forma de crânio.

Jesus sofreu a tortura da crucifixão. Também aqui os evangelhos são extremamente discretos em sua apresentação: “Então o crucificaram” (Mc 15,24a).

Para Jesus crucificado podemos admitir que seus braços foram fixados à cruz com cravos, e provavelmente também os pés. É mais provável que os cravos atravessaram os pulsos. Portanto a crucifixão era uma morte sangrenta.

Para que o corpo não se desprendesse da cruz, era colocado um pequeno bloco para o assento dos pés, na estaca vertical.

Por via de regra, as cruzes eram apenas um pouco mais altas do que a altura de um homem.

Os crucificados eram privados de todas as suas roupas e pendiam da cruz nus.

Qual tenha sido a última palavra de Jesus, quando mais uma vez ele quebrou o silêncio, é difícil de dizer.

Cada evangelista deu à cena da morte uma configuração própria.

Marcos e Mateus dramatizam-na através do grito do crucificado anunciando seu abandono por Deus (cf. Mc 15, 34; Mt 27, 46). Aqui devemos levar em conta que este grito de abandono é apenas o início do Sl 22.

Na versão de Lucas, Jesus reza uma oração vespertina judaica e pede perdão para os seus algozes (cf. Lc 23, 34).

Já na versão de João, o Cristo devolve ao Pai a obra que lhe fora confiada e que agora está consumada (cf. Jo 19, 30).

Teria sido sua última palavra apenas o tão humano “tenho sede” (Jo 19, 28)?

Ou teria sido um grito sem palavras: “Jesus, então, dando um grande grito, expirou” (Mc 15, 37)?

Ou teria sido um ato de total confiança em Deus: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46)?

Certamente, pelo seu histórico de vida, Jesus morreu confiante na bondade do Pai, a quem ele afetuosamente chamava de “Abba”.

O relato da paixão menciona nominalmente algumas mulheres que estiveram presentes na crucifixão de Jesus. Os nomes divergem (cf. Mc 15, 40; Jo 19, 25).

Se aos homens faltou a coragem de acompanhar Jesus em seu caminho mais difícil, as mulheres destacaram-se nesta hora.

O corpo de Jesus foi sepultado ainda na tarde do mesmo dia da execução por José de Arimatéia (cf. Mc 15, 42-47).

Era costume no direito romano não enterrar os cadáveres de crucificados, mas deixá-los se decomporem na cruz, enquanto eram devorados pelas aves, ou por último jogá-los fora, por exemplo num rio.

Podia ainda ser acrescentada a profanação da memória do condenado (damnatio memoriae), mas em geral esta tinha que ser conseguida através de um processo especial.

A guarda junto à cruz tinha duas tarefas: constatar a morte dos condenados ou também provocá-la (quebrando os ossos), e impedir que os cadáveres fossem retirados para ser sepultados.

Tinha-se necessidade de uma concessão especial da autoridade judicial para liberar um cadáver para o sepultamento.

Tal pedido geralmente era feito pelos parentes. Em caso de condenação pelo motivo de “grave inimizade contra a pátria” (perduellio) a liberação era difícil.

Na esfera judaica as condições eram diferentes. O sepultamento dos mortos foi desde o início um assunto altamente importante em Israel. Executados não constituíam exceção.

A razão da pressa em realizar o sepultamento não era a piedade para com o morto mas sim a idéia profundamente enraizada de que um executado prejudica a terra, cuja pureza ritual ele coloca em risco: “O cadáver não poderá ficar ali durante a noite. Mas deverás sepultá-lo no mesmo dia, pois o que foi suspenso é maldição de Deus. Não deverás manchar a terra que o Senhor Deus te dá em herança” (Dt 21, 23).

Quando José de Arimatéia pede a Pilatos a liberação do corpo de Jesus, ele age como um judeu piedoso, lembrando da instrução de Dt 21,23.

José não era discípulo de Jesus. Só assim se compreende que as mulheres não tenham participado do sepultamento.

O dia da festa não era obstáculo para o sepultamento. Para este dia existia uma proibição limitada de trabalho, em comparação com o dia seguinte, que era sábado.

A lei do sepultamento prevalecia sobre o repouso sabático. O sepultamento de Jesus é realizado com extrema simplicidade. José enrolou o cadáver num pano de linho e colocou-o num sepulcro na rocha. Nem sequer se diz que tenha feito o asseio do cadáver.

Jesus teria sido sepultado de acordo com sua desonrosa morte na cruz. Daí o fato de Mc 16, 1-2 narrar que Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé compraram aromas para ungir o corpo de Jesus, isto é, para dar uma sepultura digna para Jesus.

BIBLIOGRAFIA
Parte substancial deste texto foi extraído da apostila elaborada pelo Prof. Dr. Pe. José Roberto Palau do curso de Cristologia, do Instituto de Teologia e Filosofia Santa Terezinha (ITEFIST), São José dos Campos, 2009.

McKENZIE, John L., Dicionário Bíblico, 7ª edição, São Paulo, Paulus, 1984.

SCHILLEBEECKX, Edward., Jesus a história de um vivente, 10ª edição, São Paulo, Paulus, 2008