31 de agosto de 2010

CRISTOLOGIA - A MORTE DE JESUS - INTERPRETAÇÃO SOTERIOLÓGICAS (aula 13)

SOTERIOLOGIA

É o estudo da salvação humana.

A palavra é formada a partir de dois termos gregos Σοτεριος [Soterios], que significa "salvação" e λογος [logos], que significa "palavra", ou "princípio".

INTRODUÇÃO:
A morte de Jesus na cruz representou para os seus discípulos o fim e o fracasso de sua missão. Eles pensavam ter encontrado nele o rei que nunca mais poderia ser derrubado. Mas viram-se no papel de seguidores de um executado.

Os discípulos estavam derrotados, desnorteados e com muito medo.
A ressurreição deu aos discípulos a certeza de que Jesus era Rei, apesar de tudo do que tinha ocorrido. Mas só aos poucos eles foram compreendendo o sentido da cruz.

COMO EXPLICAR O SENTIDO DA ENCARNAÇÃO E O DA CRUZ?
Para entender o sentido da cruz, os discípulos dispunham da Escritura (Antigo Testamento) cujas imagens procuravam interpretar sob os acontecimentos ocorridos.

Face a isto ganhou uma enorme importância o texto de Isaias sobre o “servo do Senhor” (cf Is 52,13-53,12).

Este texto pertence ao segundo livro de Isaias (40-55) que foi escrito durante o exílio da Babilônia (598 - 538 a.C.) e registra a memória de fé e esperança do povo judeu, empobrecido e escravizado. Em meio à realidade de miséria e opressão, pessoas simples se solidarizam umas com as outras para superar o desafio da sobrevivência e do sofrimento.

Mas foi neste texto que os discípulos de Jesus e as primeiras comunidades cristãs encontraram o sentido da morte de Jesus na cruz. Nas cartas do Novo Testamento (NT) encontramos várias citações que validam esta afirmação. (2Cor 5,15; Rm 6,10; 1Pd 3,18; Hb 7,27; 9,12; 10,10).

Este fato acarretou no decorrer do desenvolvimento histórico do cristianismo, no Ocidente, um afastamento progressivo entre a vida de Jesus e sua morte na cruz, de tal modo que este processo produziu uma concentração cristológica sobre a cruz de Jesus, em detrimento do restante de sua vida.

A partir de então se desenvolveu uma reflexão soteriológica apenas concentrada na morte de Jesus. Ou seja, toda a problemática da salvação girava em torno do sentido da morte de Jesus Cristo.

Até os anos 1200 d.C desenvolveram-se varias teologias com diferentes interpretações sobre a morte de Jesus Cristo.
Podemos aglutiná-las em três categorias:


INTERPRETAÇÃO RITUAL: A TEOLOGIA DO SACRIFÍCIO EXPIATÓRIO
No primeiro milênio cristão, interpretaram a morte de Cristo como sacrifício expiatório: morreu na cruz para nos resgatar da morte, do pecado e do poder do diabo que nos mantinha escravos.

Tal libertação ocorreu de maneira onerosa, porque foi fruto da luta e da vitória de Cristo contra as forças do mal, a preço de seu sangue.

Esta onerosidade produziu a afirmação de que Cristo deu sua vida em “resgate”, isto é, como preço por ele pago para a libertação da humanidade.

Esta interpretação era inspirada na experiência ritual e cúltica dos sacrifícios no templo de Jerusalém.

Existiam diversos tipos de sacrifícios, sendo de destacar os holocaustos, os sacrifícios de comunhão, os sacrifícios expiatórios e as ofertas.

Dentre todos esses, destacava-se o sacrifício expiatório chamado “Tamid” (cotidiano) que era oferecido no Templo, pela manhã e à tarde, diariamente sem interrupção, cuja finalidade era obter o perdão pelos pecados (cf. Ex 29,38; Nm 28,3).

O evangelho de João designa Jesus como o “Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29b), numa clara apropriação do “Tamid” relido como chave interpretativa do sacrifício de Cristo.

Porém, mais importante que o “Tamid” era a liturgia sacrifical do “Yom Kippur” (“Dia da Expiação”), que acontecia uma única vez ao ano (cf. Lv 16, 1-34; Nm 29, 7-11).

Neste dia, o sumo sacerdote, fazia uma espécie de procissão, trazendo sobre os ombros um grande manto, formado de muitíssimos pedaços de pano. Cada um desses pedaços representava um tipo de pecado em particular.

Desse modo, o sumo sacerdote levava simbolicamente todos os pecados do povo.

Chegando ao pátio dos sacerdotes, o sumo sacerdote, e somente ele, oferecia um novilho em sacrifício, sobre o altar, por seus pecados e pelos pecados dos sacerdotes. Em seguida, oferecia um bode pelo pecado do povo.

Depois adentrava o santuário, levando consigo o sangue dos animais imolados, e penetrava até o "Santo dos Santos", uma sala totalmente escura que guardava a "Arca da Aliança" e onde estava a presença de Deus.

Somente o sumo sacerdote podia entrar nessa sala, e assim mesmo só uma vez por ano, no dia de "Kippur". Lá dentro ele jogava, por aspersão, o sangue dos animais imolados sobre o propiciatório e obtinha, assim, o perdão para todo o povo.

O rito do bode expiatório completava a celebração. Dois bodes eram apresentados ao sumo sacerdote, que tinha em suas mãos duas pedras. Uma trazia a inscrição: “para Deus” e a outra: “para Azazel”.

O bode sorteado para Deus era sacrificado e seu sangue derramado sobre a “Arca da Aliança”, no “Santo dos Santos”.

O outro bode era levado para o deserto depois do sumo sacerdote ter rezado sobre ele, impondo-lhe as mãos. Deste modo, carregado dos pecados do povo, era destinado à morte no deserto, lugar do demônio.

Ainda no AT, encontramos a misteriosa figura do “Servo do Senhor”, presente no livro do Deutero-Isaías, único texto do AT que utiliza a imagem de uma vítima humana oferecida em sacrifício de expiação.

À semelhança dos animais oferecidos no dia do “Yom Kippur”, o “Servo de Senhor” também carrega sobre si os pecados do povo, e morre para alcançar o perdão divino para todos: (Is 53,3-5.8-11).

Dos evangelhos se deduz que a comunidade compreendeu o “Mistério Pascal” de Jesus à luz da missão do Servo do Senhor: “Pois o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate pela multidão” (Mc 10,45).

Com a efusão de seu sangue, Cristo estabeleceu uma “Nova Aliança” entre a humanidade e Deus (cf. Mt 26,28). Ele, Jesus, é o “Cordeiro de Deus”, vítima perfeita, sem mancha que expia definitivamente o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29; Hb 9,1-12.24-28).

A dignidade incomensurável daquele que se ofereceu e o amor ilimitado que o sustentou conferem um valor absoluto e definitivo à expiação de Cristo.

A morte de Jesus obtém de modo definitivo a salvação que as outras vítimas oferecidas não tinham conseguido.

Esperavam os discípulos que a morte de Cristo cessaria definitivamente o sistema de sacrifícios do Templo de Jerusalém (cf. Hb 8,13), e o fato de assim acontecer deveu-se conforme a fé que tinham na veracidade de sua interpretação.

Do fato da expiação concluíam que ninguém podia salvar-se pelas próprias obras, pois se não fosse assim Cristo não precisaria ter morrido (cf. Gl 2,21), e que o único caminho da salvação era aceitar mediante a fé o sacrifício expiatório de Cristo na cruz (cf. Rm 3,19-31).

Nenhum sacrifício humano conseguia por si mesmo aplacar definitivamente a ira divina. A encarnação criou a possibilidade de um sacrifício perfeito e imaculado que pudesse ganhar a total complacência de Deus.

Jesus aceitou livremente ser sacrificado para representar todos os homens diante de Deus e assim conquistar o total perdão divino. A ira divina como que se extravasou na morte violenta de Jesus na cruz e se aplacou. Jesus suportou como expiação e castigo pelo pecado do mundo.

A teologia patrística introduziu ainda na questão da expiação a teoria do direito do diabo. Assim, para Orígines, a morte de Cristo foi o resgate pago a Satanás que havia adquirido direitos sobre o homem depois da queda:


INTERPRETAÇÃO JURÍDICA: A TEOLOGIA DA SATISFAÇÃO
A teologia da satisfação tem sua origem na Idade Média com Santo Anselmo de Cantuária (1033-1109), e por muito tempo permaneceu o conceito chave, isto é, o conceito capaz de resumir em si todos os aspectos da redenção.

A intenção de Santo Anselmo de Cantuária (1033-1109) tinha sido a de provar que a obra de Cristo foi conseqüência de causas necessárias, para demonstrar que essa obra tinha de acontecer justamente da maneira como aconteceu.

Em linhas gerais, o seu raciocínio dizia o seguinte: pelo pecado do homem, dirigido contra Deus, a ordem da justiça foi infringida de uma maneira infinita, e Deus foi infinitamente ofendido.

Na base dessa conclusão está a idéia que a gravidade da ofensa se orienta no ofendido, ou seja, o peso da ofensa varia de acordo com o objeto da ofensa.

Como Deus é infinito, também a ofensa cometida contra ele pelo pecado da humanidade tem um peso infinito.

O direito violado precisa ser restabelecido, porque Deus é um Deus da ordem e da justiça, ou melhor, ele é a própria justiça.

Como a medida da ofensa é infinita, exige-se também uma reparação infinita. Ora, o ser humano não é capaz de oferecer uma reparação infinita, porque como ser finito, ele sempre só pode oferecer algo que será finito. A sua força destruidora ultrapassa sua capacidade de construir. Por isso haverá sempre uma distância infinita entre todas as reparações tentadas pelo ser humano e o tamanho de sua culpa, ou seja, um abismo que ele nunca será capaz de superar.

Qualquer gesto de desagravo só há de provar-lhe a sua incapacidade de fechar o abismo que ele mesmo abriu.

Isso significa que a ordem permaneceria destruída para sempre e que o ser humano continuaria eternamente preso ao abismo de sua culpa?

Nesse ponto, Santo Anselmo aponta para a figura de Cristo. A sua resposta afirma, então:
Deus mesmo corrige a injustiça; mas ele não recorre simplesmente à decretação de uma anistia (apesar de ter essa possibilidade), porque esta não superaria intrinsecamente o acontecido. Então o Deus infinito se torna ele próprio ser humano, e como ser humano que faz parte dos ofensores, mas que possui também o poder de reparação infinita que é negada ao ser humano comum, ele presta o desagravo exigido.

Dessa maneira, a salvação se realiza totalmente pela graça e restabelece, ao mesmo tempo, toda a ordem de direito. Com esse raciocínio, santo Anselmo pensa ter dado uma resposta definitiva àquela pergunta difícil formulada em “Cur Deus homo?”, ou seja, a pergunta do porquê da encarnação e da cruz.

A sua reflexão marcou profundamente o segundo milênio da cristandade ocidental que estava convencida de que Cristo precisou morrer na cruz para reparar a ofensa infinita que tinha sido cometida pelos homens, e para restabelecer a ordem violada.

A redenção tornou-se, assim, sinônimo de "satisfação" da justiça divina, no sentido de que a morte de Jesus na cruz foi o preço do "resgate" da humanidade, pago, não ao diabo, como se dizia, em certas orientações, na teologia patrística, mas a Deus, para satisfazer a sua justiça e torná-lo propício aos homens.


INTERPRETAÇÃO MORAL: A TEOLOGIA DO MÉRITO
Nos séculos que se seguiram, a teoria de Santo Anselmo alcançou ampla aceitação no ocidente cristão, embora nunca tenha sido assumida como dogma pela Igreja.

Entretanto, ao longo do tempo, várias modificações foram introduzidas à soteriologia da satisfação. A mais significativa foi promovida por São Tomás de Aquino, que se opôs à idéia de que a encarnação era necessária à redenção.

Segundo São Tomás, a encarnação era bastante “apropriada” (conveniente), algo razoável e adequado para Deus realizar, mas não obrigatoriamente necessário. A encarnação só pode ser considerada necessária numa única situação: enquanto plena satisfação pela ofensa cometida contra Deus.

Embora reconheça a necessidade de reparar a ofensa feita a Deus, São Tomás coloca como objetivo principal da redenção a restauração do próprio ser humano. A misericórdia divina é o primeiro e principal motivo da redenção:
A prioridade do amor na soteriologia tomista estabelece uma nova chave hermenêutica para a redenção: o “mérito”.

Em razão do amor com que Jesus se entregou à morte, mereceu para si mesmo a ressurreição, e para a humanidade, a salvação. Dessa forma, a vida e a morte de Cristo foram “meritórias”.

A salvação é a recompensa que Jesus obteve para nós. Se Jesus não tivesse renunciado à sua glória divina, se não tivesse sido fielmente obediente à vontade do Pai, a humanidade não obteria a salvação.

Afirmar que Cristo mereceu nossa salvação com sua paixão e morte equivale a dizer que estas foram as verdadeiras causas de nossa redenção pelo valor moral que têm diante de Deus.

As interpretações soteriológicas fundamentadas nas categorias de expiação, satisfação e mérito produziram uma grande devoção popular à cruz de Jesus Cristo.

Porém uma devoção que desvinculou a cruz de seu contexto histórico. E aí se encontra um dos grandes danos que essa devoção produziu, e ainda produz, à espiritualidade cristã.

Desvincular a cruz de seu contexto histórico significa reduzi-la somente a símbolo da morte expiatória de Jesus Cristo.

O resultado é a redução da pessoa de Jesus ao papel de vítima expiatória e compensatória.

Desse modo, Jesus é privado de sua existência histórica.

As soteriologias tradicionais mutilam Jesus, fazendo dele apenas uma vítima para sofrer.

Transformam especificamente a dor de Cristo na cruz a causa da salvação da humanidade, além de transmitir uma imagem vingativa e colérica de Deus: somente o sofrimento físico do Filho é capaz de compensar a ofensa que a humanidade fez ao Pai.

A morte de Jesus é vista como a condição prévia para que Deus voltasse a amar a humanidade. Sem sofrimento não há perdão. Essa é a idéia de fundo que inspira toda uma espiritualidade centrada tão somente na dor.

Além disso, a dor provocada pelos sofrimentos é vista equivocadamente como méritos adquiridos diante de Deus; méritos que compensam os pecados cometidos.

Isso explica porque tantos Santos na história da Igreja usaram a criatividade para inventar instrumentos e ocasiões para sofrer. Era preciso buscar a cruz, o sofrimento diariamente, para compensar os pecados cometidos. A dor era o caminho real da salvação.


MEDO DE DEUS E SENTIMENTO DE CULPA

Medo de Deus, medo do inferno.

Um Deus implacável, sempre atento a punir com rigor os pecadores.
Esse discurso atemorizante norteou por muitos séculos a espiritualidade cristã.

Formou o inconsciente coletivo de muitas gerações de cristãos. E está ainda arraigado no íntimo de muitas pessoas.

É evidente que essa imagem de Deus criou uma espiritualidade do medo. Medo de ofender a Deus e de acabar no inferno.

Muitos cristãos foram verdadeiramente massacrados por essa angústia, que gerava, por sua vez, um escrúpulo exagerado e um mórbido sentimento de culpa, isto é, o pensamento fixo de que apesar das muitas penitências praticadas, não conseguiriam escapar da danação eterna.


BIBLIOGRAFIA

RATZINGER, J., Introdução ao cristianismo, São Paulo, Loyola, 2009.

RAUSCH, Thomas P., Quem é Jesus?, Aparecida-SP, Santuário, 2006.

NAKANOSE, S ; Paula Pedro, E, Como ler o segundo Isaias (40-55), São Paulo, Paulus, 2009

Parte do texto acima exposto foi extraído da apostila elaborada pelo Prof. Dr. Pe. José Roberto Palau do curso de Cristologia, do Instituto de Teologia e Filosofia Santa Terezinha (ITEFIST), São José dos Campos, 2009.

26 de agosto de 2010

CRISTOLOGIA - O PROCESSO E EXECUÇÃO DE JESUS (aula 12)

PERSONAGENS


Saduceus:
Representava a aristocracia sacerdotal e seus dependentes e sustentadores (classe conservadora dos latifundiários e dos comerciantes). Eles negavam a ressurreição dos mortos, a existência de anjos e do juízo final. Aceitavam só a Torá (Pentateuco), a lei escrita como normativa e rejeitavam a doutrina dos fariseus quanto das tradições dos anciãos. Tinha a maioria no Sinédrio. Este grupo foi totalmente extinto após a destruição do templo em 70 d.C.

Fariseus:
Concebiam o judaísmo como uma religião centrada na observância da lei e interpretavam as obrigações da lei da maneira mais rígida. Defendiam um estado teocrático. Eles eram opositores aos Saduceus e mantinham um estreito relacionamento com os escribas (os mestres e interpretes da lei). Desprezavam os ignorantes que não conheciam a Lei ou os que não praticavam as observâncias farisaicas. Somente este grupo sobreviveu após a sangrenta ação dos romanos junto a comunidade judaica da Palestina em 70 d.C.

Sinédrio:
Tribunal supremo da nação judaica, o que se coadunava com a pratica romana de se manter nas províncias os tribunais locais administrados por elementos locais (Na época de Jesus a jurisdição do Sinédrio se limitava a Judéia). Sua competência tinha o caráter religioso e secular, tendo a Lei judaica como a norma para as suas decisões. Este fórum não podia ordenar a execução de penas capitais. As sentenças de morte eram submetidas ao procurador romano para confirmação.

Sumo Sacerdotes:
Era a pessoa mais importante na comunidade judaica palestinense do período pós-exílico. Era o chefe do culto, presidente do Sinédrio e o representante chefe do povo diante dos funcionários governamentais dos poderes estrangeiros que dominaram a Palestina durante esses séculos. (Caifás)

Procurador:
Era a pessoa responsável por uma província, respondia ao Governador e era nomeado pelo Imperador. Tinha tropas auxiliares (não legiões) sob seu comando. Ele administrava a cobrança de impostos. Tinha jurisdição exclusiva em sentenças capitais. Tinha o poder de nomear e destituir o sumo sacerdote. (Pilatos - Judéia; Herodes - Galiléia)

Zelotas:
Partido político / seita judaica que representava o extremo do fanatismo nacional. Acreditavam somente no culto de Iahweh, e estavam convencidos de que a aceitação de uma dominação estrangeira e o pagamento de tributos a um soberano estrangeiro era uma blasfêmia contra Iahweh. Tinha poucos seguidores e era considerada, pelos outros judeus, como subversiva e hiper radical.

A PRISÃO
“Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras”. (Mc 14, 26).

Com esta observação se encerra a narrativa da ceia e inicia-se a narrativa da prisão.

As informações colhidas dos quatro evangelhos quanto a prisão são estas:
Mc 14,43:
“Jesus ainda falava, quando chegou Judas, um dos Doze, acompanhado de uma multidão com espadas e paus; eles vinham da parte dos sumos sacerdotes, escribas e anciãos”

Mt 26,47
“Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus; vinham da parte dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo.”

Lc 22,52
“Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos comandantes da guarda do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo: “Saístes com espadas e paus, como se eu fosse um bandido?”

Jo 18,3
“Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e armas.”

Os evangelistas Marcos e Mateus mencionam que a ordem para prender Jesus foi dada pelo Sinédrio, já Lucas insere os membros do Sinédrio presentes na cena da prisão e João menciona que a prisão foi efetuada pela “coorte” romana.

É muito pouco provável que os membros do Sinédrio tenham se dirigido até o Monte das Oliveiras para presenciar a prisão de Jesus e muito mais improvável a participação dos romanos nesta ação, pois uma “coorte” abrangia 600 homens além do fato que o Império Romano tinha delegado ao Sinédrio, portanto a jurisdição judaica, todo poder de decisão excetuando para os casos de penas capitais.

A tropa que prendeu Jesus estava armada.

Isto nos leva a intuir que consideravam Jesus uma pessoa perigosa ou então contavam com uma eventual resistência dos seus seguidores.

Não há elementos que possam afirmar que houve resistência e violência.

O provável é que a prisão tenha sido pacífica, pois não há duvidas que só Jesus tenha sido preso. “Então, abandonando-o, todos os discípulos fugiram” (Mc 14,50). Se um deles tivesse resistido, com certeza também seria preso.

Outro personagem importante na prisão de Jesus é Judas Iscariotes.

Os evangelistas silenciam sobre os possíveis motivos que levaram Judas Iscariotes a entregar Jesus.

Por que os adversários de Jesus utilizaram os serviços de Judas?
A resposta mais imediata é que ele conhecia o lugar da permanência noturna de Jesus, e que Jesus certamente não era bem conhecido dos que o prenderam.

Chama a atenção que para prendê-lo fosse escolhida uma hora no meio da noite.

Também aqui não podemos fazer mais que suposições.

Havia pressa!

O sumo sacerdote contava com a possibilidade de que houvesse reação entre os discípulos e simpatizantes de Jesus, e que estes poderiam impedir sua prisão.

A fuga dos discípulos teve como destino último a Galiléia, sua pátria. É pouco provável que eles tenham permanecido por mais tempo em Jerusalém. Nenhum dos Doze aparece na “via-sacra”.

A volta para a Galiléia é importante para a reconstituição dos acontecimentos da Páscoa.

Jesus é então levado ao sumo sacerdote.

JESUS PERANTE O TRIBUNAL JUDAICO
Mc 14,53-65
Fica evidente por este texto que Jesus foi condenado por ter alegado ser o “Messias”.

No entanto, hoje em dia, a grande maioria dos estudiosos concorda que há uma conexão direta entre a atitude de Jesus no Templo e sua morte.
Jesus desafiou não apenas o mais importante símbolo da vida judaica, como também a autoridade do sumo-sacerdote, toda ela baseada no culto feito no interior do Templo.

Evidentemente, a casta sacerdotal de Jerusalém tinha que conspirar contra Jesus.

JESUS PERANTE O TRIBUNAL ROMANO
Mc 15,1-15
O procurador do Império Romano era o supremo juiz da província, cabendo-lhe também o comando militar, e sua tarefa principal consistia em manter a tranqüilidade e a ordem. Era o representante da justiça imperial.
Como sinal de seu poder era-lhe permitido portar a espada. Pilatos poderia se quisesse, sem quaisquer formalidades, executar Jesus.

Jesus teve seu processo, de maneira imperfeita, mas o teve.

O processo de Jesus consistiu basicamente da acusação, apresentada pelos chefes dos sacerdotes e da audiência realizada por Pilatos.

O fato de Pilatos empenhar-se por um processo próprio contra Jesus mostra que ele não devia estar disposto a simplesmente aceitar a opinião da alta hierarquia religiosa de Israel, mas que queria tirar conclusões próprias.

Os relatos dos evangelhos deram motivo a que surgisse a idéia de que Pilatos, no final, não teria pronunciado nenhuma sentença formal de morte, mas que a entrega de Jesus para ser crucificado deveria ser considerada como uma simples medida administrativa no processo de coerção, uma ordem ou sentença de execução, ou coisa semelhante.

Somente em Jo 19,13 é que se fala da cátedra do juiz em que Pilatos se teria sentado, o que permitiria supor uma sentença formal (cf. Mt 27,19).
O palácio de Herodes pode ser considerado como o lugar onde Jesus ouviu a sentença de Pilatos. Diante do palácio encontrava-se uma praça livre, que era apropriada como local para julgamentos públicos.

Também Lc 23,24 introduz a palavra “sentenciar”, nos demais casos predomina a frase: “Entregou-o para ser crucificado” (Mc 15,15; Mt 27,26; Jo 19,16).

Por que os evangelistas evitam falar de uma sentença de morte proferida por Pilatos?
Uma hipótese muito viável diz que era para diminuir a culpa do romano Pilatos e aumentar a responsabilidade dos judeus.

Uma segunda hipótese, defendida por alguns historiadores do direito, é da opinião que o processo teria terminado com uma confissão de Jesus. Como a confissão tornava a sentença supérflua, ele poderia ser entregue à morte na cruz. Como base para isto toma-se a resposta de Jesus à pergunta de Pilatos, se ele era o rei dos judeus, e Jesus responde: “Tu o dizes” (Mc 15,2).

Ainda segundo relatos dos evangelhos, o processo de Jesus sofre uma interrupção com a cena de Barrabás.

Segundo Mc 15,6; Mt 27,15; Jo 18,39, Pilatos tinha o costume por ocasião da Páscoa de libertar um prisioneiro. Era uma anistia de Páscoa.

Chama a atenção que em Lc 23,18 não menciona a anistia de Páscoa. Nele a soltura de Barrabás aparece como um ato imposto por “aclamação” pela multidão reunida em frente à tribuna.

Uma anistia concedida regularmente pelo Imperador na festa da Páscoa é uma questão muito discutida. O historiador Flávio Josefo nada sabe a tal respeito.

Qual das duas versões deve ser preferida? Anistia de Páscoa ou aclamação?
Com base nas dificuldades relacionadas à historicidade da anistia de Páscoa, os estudiosos recomendam dar preferência à versão de Lucas: a libertação de Barrabás se deu por aclamação de seus simpatizantes.

O episódio Barrabás forneceu a possibilidade dos evangelhos envolverem ativamente o povo na condenação de Jesus.

Sobre uma participação nem que seja indireta do soberano da província Galiléia, Herodes Antipas, no processo, não é possível estabelecer coisa alguma historicamente confiável.

A “CAUSA MORTIS”
Mc 15,26
Na Palestina daquele tempo as crucifixões sempre tinham motivação política.

A queixa que foi levantada contra Jesus e que conseguiu convencer Pilatos tem que se enquadrar dentro dessa moldura mais ampla.

Temos em primeiro lugar a inscrição da cruz. A versão mais breve que nos foi transmitida pelo evangelho de Marcos, pode ser considerada como sendo a versão original: “E acima dele estava a inscrição de sua culpa: “O Rei dos judeus” (Mc 15, 26).

A versão era pública. Este costume é comprovado nas execuções do século I d.C. Carregada à frente do condenado, a inscrição sobre uma placa deve dar a conhecer ao maior público possível a causa de sua pena.

O título da cruz nos transmite com credibilidade a “causa mortis” de Jesus.
Ele era acusado de haver pretendido a realeza.

A cooperação entre Caifás e Pilatos, ou seja, entre as instâncias judaica e romana no processo de Jesus, demonstram como eram próximas as relações entre eles e quanto ambos sabiam tirar proveito desta colaboração mútua.

Uma colaboração processual entre as instâncias judaica e romana pode muito bem ser imaginada nos crimes referentes ao Templo.

No tempo dos procuradores judeus, quando os sumos-sacerdotes eram nomeados por Roma, a capital do império tinha também a supervisão sobre o Templo.

Ali diariamente eram oferecidos sacrifícios pelo imperador e pelo povo romano.

Certamente o protesto de Jesus no Templo, sua investida contra os cambistas e vendedores de pombas no átrio dos pagãos, constitui o fator determinante de sua prisão.

Todavia, por mais plausível que um delito contra o Templo nos possa parecer como uma ocasião para proceder contra Jesus, isto ainda não é suficiente para acusá-lo de usurpar a realeza do povo judeu.

É certo que Pilatos condenou Jesus porque viu nele uma ameaça à ordem do estado.

Mas por que ele não fez nada contra seus discípulos?
O objetivo do processo era unicamente a eliminação de Jesus.

Por parte dos acusadores, Jesus deve ter sido apresentado como alguém que ameaçava a ordem pública.

O processo do Sinédrio era um processo de motivação religiosa, mas neste período, a religião e o poder civil caminhavam muito próximos.

Levado a Pilatos, Jesus só podia ser apresentado sob o ponto de vista da razão do estado. Desta forma a acusação de “Rei dos judeus” constituiu o pano de fundo para a condenação.

O direito penal romano apresenta dois fatos capazes de abranger juridicamente a acusação apresentada pelo Sinédrio:
- Grave inimizade contra a pátria.
- Dano infligido ao prestígio do povo romano.

Ainda não há dados objetivos para afirmar qual das formulações de delito foi utilizada por Pilatos.

A VIA-SACRA E A EXECUÇÃO
Mc 15,16-47

A flagelação fazia parte da crucifixão, era o começo da execução. Para a flagelação os soldados usavam uma correia de couro que muitas vezes continha fragmentos de ossos ou grumos de chumbo.

Aquele que ia ser flagelado era despido e atirado ao chão, ou amarrado a uma coluna. O direito hebraico fixava o número de golpes a serem desferidos: quarenta menos um (cf. 2Cor 11,24). O direito romano, não estabelecia limites.

O relato da paixão prossegue com a ridicularizarão de Jesus como rei dos judeus pelos soldados (cf. Mc 15,16-20a).

A placa com a inscrição da culpa era levada à frente de Jesus, ou pendurada ao seu pescoço. O cortejo público para a execução, assim como a execução, tinham o objetivo de intimidar.

De acordo com o direito romano e em correspondência com os costumes judaicos, as execuções eram realizadas fora da cidade. Os condenados tinha que carregar eles próprios a trave transversal.

O lugar da execução é o “Gólgota”. Os evangelistas traduzem a palavra como “lugar da Caveira” (cf. Mc 15,22).

Gólgota provavelmente era o nome do terreno, pois era uma colina em forma de crânio.

Jesus sofreu a tortura da crucifixão. Também aqui os evangelhos são extremamente discretos em sua apresentação: “Então o crucificaram” (Mc 15,24a).

Para Jesus crucificado podemos admitir que seus braços foram fixados à cruz com cravos, e provavelmente também os pés. É mais provável que os cravos atravessaram os pulsos. Portanto a crucifixão era uma morte sangrenta.

Para que o corpo não se desprendesse da cruz, era colocado um pequeno bloco para o assento dos pés, na estaca vertical.

Por via de regra, as cruzes eram apenas um pouco mais altas do que a altura de um homem.

Os crucificados eram privados de todas as suas roupas e pendiam da cruz nus.

Qual tenha sido a última palavra de Jesus, quando mais uma vez ele quebrou o silêncio, é difícil de dizer.

Cada evangelista deu à cena da morte uma configuração própria.

Marcos e Mateus dramatizam-na através do grito do crucificado anunciando seu abandono por Deus (cf. Mc 15, 34; Mt 27, 46). Aqui devemos levar em conta que este grito de abandono é apenas o início do Sl 22.

Na versão de Lucas, Jesus reza uma oração vespertina judaica e pede perdão para os seus algozes (cf. Lc 23, 34).

Já na versão de João, o Cristo devolve ao Pai a obra que lhe fora confiada e que agora está consumada (cf. Jo 19, 30).

Teria sido sua última palavra apenas o tão humano “tenho sede” (Jo 19, 28)?

Ou teria sido um grito sem palavras: “Jesus, então, dando um grande grito, expirou” (Mc 15, 37)?

Ou teria sido um ato de total confiança em Deus: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46)?

Certamente, pelo seu histórico de vida, Jesus morreu confiante na bondade do Pai, a quem ele afetuosamente chamava de “Abba”.

O relato da paixão menciona nominalmente algumas mulheres que estiveram presentes na crucifixão de Jesus. Os nomes divergem (cf. Mc 15, 40; Jo 19, 25).

Se aos homens faltou a coragem de acompanhar Jesus em seu caminho mais difícil, as mulheres destacaram-se nesta hora.

O corpo de Jesus foi sepultado ainda na tarde do mesmo dia da execução por José de Arimatéia (cf. Mc 15, 42-47).

Era costume no direito romano não enterrar os cadáveres de crucificados, mas deixá-los se decomporem na cruz, enquanto eram devorados pelas aves, ou por último jogá-los fora, por exemplo num rio.

Podia ainda ser acrescentada a profanação da memória do condenado (damnatio memoriae), mas em geral esta tinha que ser conseguida através de um processo especial.

A guarda junto à cruz tinha duas tarefas: constatar a morte dos condenados ou também provocá-la (quebrando os ossos), e impedir que os cadáveres fossem retirados para ser sepultados.

Tinha-se necessidade de uma concessão especial da autoridade judicial para liberar um cadáver para o sepultamento.

Tal pedido geralmente era feito pelos parentes. Em caso de condenação pelo motivo de “grave inimizade contra a pátria” (perduellio) a liberação era difícil.

Na esfera judaica as condições eram diferentes. O sepultamento dos mortos foi desde o início um assunto altamente importante em Israel. Executados não constituíam exceção.

A razão da pressa em realizar o sepultamento não era a piedade para com o morto mas sim a idéia profundamente enraizada de que um executado prejudica a terra, cuja pureza ritual ele coloca em risco: “O cadáver não poderá ficar ali durante a noite. Mas deverás sepultá-lo no mesmo dia, pois o que foi suspenso é maldição de Deus. Não deverás manchar a terra que o Senhor Deus te dá em herança” (Dt 21, 23).

Quando José de Arimatéia pede a Pilatos a liberação do corpo de Jesus, ele age como um judeu piedoso, lembrando da instrução de Dt 21,23.

José não era discípulo de Jesus. Só assim se compreende que as mulheres não tenham participado do sepultamento.

O dia da festa não era obstáculo para o sepultamento. Para este dia existia uma proibição limitada de trabalho, em comparação com o dia seguinte, que era sábado.

A lei do sepultamento prevalecia sobre o repouso sabático. O sepultamento de Jesus é realizado com extrema simplicidade. José enrolou o cadáver num pano de linho e colocou-o num sepulcro na rocha. Nem sequer se diz que tenha feito o asseio do cadáver.

Jesus teria sido sepultado de acordo com sua desonrosa morte na cruz. Daí o fato de Mc 16, 1-2 narrar que Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé compraram aromas para ungir o corpo de Jesus, isto é, para dar uma sepultura digna para Jesus.

BIBLIOGRAFIA
Parte substancial deste texto foi extraído da apostila elaborada pelo Prof. Dr. Pe. José Roberto Palau do curso de Cristologia, do Instituto de Teologia e Filosofia Santa Terezinha (ITEFIST), São José dos Campos, 2009.

McKENZIE, John L., Dicionário Bíblico, 7ª edição, São Paulo, Paulus, 1984.

SCHILLEBEECKX, Edward., Jesus a história de um vivente, 10ª edição, São Paulo, Paulus, 2008

17 de agosto de 2010

CRISTOLOGIA - CONFLITO E ÚLTIMOS DIAS DE JESUS (aula 11)

INTRODUÇÃO
Desde o início a atuação de Jesus é marcada pelo conflito com diferentes grupos, atingindo seu auge quando conflita com o poder romano, o que o leva à morte.

Seus principais adversários foram os fariseus, muitas vezes mencionados com outros grupos: fariseus, escribas e doutores da Lei; fariseus e herodianos; fariseus e saduceus.

“Se vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20)

“Ao se retirarem, os fariseus e os herodianos imediatamente conspiraram contra ele sobre como o destruiriam” (Mc 3, 6)

“Cuidado! Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus!” (Mt 16, 6)
Quando um fariseu aparece isoladamente, fora do seu grupo, ele é visto de uma forma mais simpática:

“Enquanto falava, um fariseu convidou-o para almoçar em sua casa. Entrou e pôs-se à mesa” (Lc 11, 37)

“Entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição” (Lc 14, 1)

A mais incisiva reprovação aos fariseus está no capítulo 23 de Mateus: o discurso dos “ais” – Mt 23,13-31

Importante é a idéia de que eles atrapalham os que querem entrar no Reino através de suas doutrinas e de seu exemplo:
“Ai de vós, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens. Pois vós mesmos não entrais e nem deixais entrar os que o querem”


PRINCIPAIS CAUSAS DO CONFLITO
Absoluta e total liberdade de Jesus frente:
- Lei
- Culto
- Templo
- Sábado


A LEI
À pergunta dos fariseus de porque seus discípulos não lavavam as mãos antes de comerem o pão, Jesus responde:

“Em vão me prestam culto. As doutrinas que ensinam são apenas mandamentos humanos. Abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos homens. Sabeis muito bem desprezar o mandamento de Deus para observar a vossa tradição.” (Mc 7, 7-9)

O CULTO
“Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor!” entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade do Pai” (Mt 7, 21)

“Se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e depois virás apresentar tua oferta” (Mt 5, 23s)

O TEMPLO
“Vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4, 21.23-24)

O SÁBADO
“O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado” (Mc 2, 27s)

“Qual de vós, se seu filho ou seu boi cai num poço, não o retira imediatamente em dia de sábado?” (Lc 14, 5)

“É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?” (Mc 3, 4a)



OS ÚLTIMOS DIAS

MARCHA PARA JERUSALÉM
Seria a primeira vez?

Jesus chegou como peregrino numa cidade que, naqueles dias chegava a ter quase 180 mil pessoas.

Parece que Jesus não era muito conhecido em Jerusalém.

“Jesus enviou dois discípulos dizendo-lhes: Ide ao povoado que está à vossa frente. Entrando nele, encontrareis imediatamente um jumentinho amarrado, que ninguém montou ainda. Soltai-o e trazei-o. E se alguém vos disser, `Por que fazeis isso?`dizei: ´O Senhor precisa dele, e logo o mandará de volta´” Foram, e acharam um jumentinho amarrado na rua junto a uma porta, e o soltaram. Alguns dos que ali se encontravam disseram: “Por que soltais o jumentinho?” Responderam como Jesus havia dito, e eles o deixaram partir. Levaram a Jesus o jumentinho, sobre o qual puseram suas vestes, e ele o montou. Muitos estenderam as vestes pelo caminho, outros puseram ramos que haviam apanhado nos campos. Os que iam à frente dele e os que o seguiam clamavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino que vem, do nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus” (Mc 11, 1-10)

Este é um relato estilizado como uma história de fé, em estreita consonância com o texto do profeta Zacarias: “Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta” (Zc 9, 9b).

Também a aclamação do povo é estilizada do Salmo 118: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Sl 118, 26ª)

O PROTESTO NO TEMPLO
É um momento histórico, porém impossível de fazermos uma idéia exata de como ocorreu. Sabemos que foi no pátio dos gentios, onde também os pagãos podiam entrar.

O comércio era realizado com consentimento das autoridades do Templo.

Vejamos o relato de Marcos: “Entrando no Templo, ele começou a expulsar os vendedores e os compradores que lá estavam: virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” (Mc 11, 15-16

Os sumos sacerdotes perceberam o alcance do protesto, e “procuravam como fazê-lo perecer; eles o temiam, pois a multidão estava maravilhada com seu ensinamento.” (Mc 11, 18)

Nesta atitude de Jesus devemos considerar que a crítica não é ao Templo em si, mas a maneira como no Templo as pessoas se relacionam com Deus.

A ÚLTIMA CEIA
O centro da celebração era o Haggadá: o que presidia a ceia, lembrava a libertação do Egito e consumia-se o cordeiro pascal, enquanto bebia-se vinho.

Antes, o que presidia a mesa distribuía o pão sem fermeto e eram comidas ervas amargas.

A oração de ação de graças após o consumo do cordeiro era acompanhada pela bebida do vinho. Recitavam-se, então, os salmos.

Jesus quis comer a ceia com seus discípulos, já sabendo que seria a última, pela maneira como os fatos se iam desencadeando.

Ele fala com clareza de sua morte: “Em verdade vos digo: já não beberei deste vinho até que chegue o Reino de Deus.” (Lc 22, 18)

Jesus conta com a morte violenta, mas conserva a confiança no Pai e a esperança no Reino, centro de sua missão.

Jesus percebe o fracasso de sua missão em Israel, mas a confiança no Pai faz com que ele passe a encarar sua morte como obediência à vontade do Pai, como parte de sua tarefa messiânica. Sua morte é incluída, então no horizonte de sua missão.

Em concordância com a vontade do Pai, ele passa a dar à sua morte uma interpretação especial e de importância salvífica.

Essa interpretação inclui que ele levasse em conta os discípulos que permanecem no mundo.

Sua interpretação da morte associa-se então à oferta de um dom: o dom do pão e do vinho.

A ceia de Jesus passa a ser uma celebração especial, diferente da ceia pascal judaica.

As palavras de interpretação de Jesus sobre o pão e o vinho não tinham a ver com os atos usuais de quem presidia o banquete festivo.

O texto passa a ter um significado litúrgico, com forte significado salvífico, ínterpretando a sua morte com as idéias de “morrer por” e de “aliança”.

Jesus deixa aos discípulos uma refeição onde os homens da aliança com Deus, inaugurada com sua morte, podem candidatar-se a participar do reino definitivo de Deus, e na qual Ele permanece entre eles sob o símbolo do pão.

A última ceia continua viva na comunidade.

A comunidade de João ocupa-se com a ligação pessoal com o Cristo glorificado e, com Ele, a Deus, assegurando a vida eterna:
- “Quem come minha carne e bebe o meu sangue permance em mim e eu nele” (Jo 6, 56).
- “Quem come este pão viverá eternamente” (Jo 6,58)
Na reflexão paulina aparece com força o componente eclesial. O pão (que é único), consumido por muitos na celebração da ceia, une-os todos na unidade do corpo de Cristo, que é aquilo que a comunidade é no mundo: “Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos desse único pão” (1 Cor 10, 17)
CRISTOLOGIA - SACERDÓCIO DE JESUS (aula 10)


INTRODUÇÃO
A função sacerdotal aparece em quase todas as religiões para assegurar a mediação entre os homens e a divindade.
Nas sociedades primitivas é exercida pelos chefes de família, clã ou tribo.

Quando a sociedade se organiza, aparece a figura do sacerdote
Nos primórdios da história da Bíblia, as funções sacerdotais eram exercidas pelos patriarcas e outros chefes dos grupos que integravam a sociedade.
Os primeiros sinais de sacerdotes “profissionais” aparecem no tempo dos Juízes.

Inicialmente, o sacerdócio foi dado por Deus a Aarão e seus filhos. Era um sacerdócio transmitido por herança, para realizar a mediação entre Israel e Deus.

O sacerdote era o homem consagrado ao culto divino, era sacerdote para Deus: “Farás aproximar de ti, dentre os israelitas, Aarão e os seus filhos com ele, para que sejam meus sacerdotes...” (Ex 28, 1)

O sacerdote, por sua função de mediador entre Deus e o povo, era consagrado, ungido, distanciado dos outros homens, para conservar a santidade sacerdotal: “Aarão e seus filhos desempenharão seu ofício sacerdotal. Porém, todo profano que se aproximar será punido de morte” (Nm 3, 10).

Esta condição devia permitir-lhe dar uma resposta às exigências religiosas do povo, no campo ritual, do ensino e da palavra
A realidade não era tão ideal assim. A mediocridade da mediação explica porque o povo judeu imaginou um ideal sacerdotal, uma mediação livre de imperfeições.

Os profetas dirigiam acusações contra os sacerdotes: “Ele virá para purificar a prata. Ele purificará os filhos de Levi e os acrisolará como ouro e prata” (Ml 3, 3).

Os sonhos se dirigiram então em torno da figura do Messias. Seria Ele o Sumo Sacerdote perfeito, em que não mais existiriam as insuficiências e os pecados do sacerdócio de Aarão.

Deus mesmo promete um novo sacerdócio, liberto das imperfeições atuais: “farei surgir um sacerdote fiel, que procederá conforme meu coração e meu desejo, e lhe consolidarei uma casa que permaneça, a qual andará sempre na presença do meu ungido” (1 Sm 2, 35).

Este sacerdote fiel será o único que realizará um culto perfeito, reconciliando definitivamente o povo com Deus.

Nos círculos proféticos começa-se a identificar este Sumo-Sacerdote com a figura escatológica do Messias, filho de Davi que, ungido pelo Espírito do Senhor, exercerá um sacerdócio fiel que realizará um culto perfeito, reconciliando definitivamente o povo com Deus. Enfim, será um sacerdócio:

- Profético – “O Espírito do Senhor me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres” (Is 61, 1)
- Real – “Virão dias em que suscitarei a Davi um germe justo, um rei reinará... Exercerá na terra o direito e a justiça” (Jr 23, 5)

O Messias se apresentará como o “Bom Pastor”, modelo ideal de serviço ao povo de Deus.

Deus reprova o comportamento dos maus pastores e anuncia que dará a seu povo novos pastores, que apascentarão na justiça e na paz.

“Eu mesmo cuidarei do meu rebanho e o procurarei. Como um pastor cuida de seu rebanho, assim cuidarei das minhas ovelhas e as recolherei de todos os lugares por onde se dispersaram em um dia de nuvem e escuridão... Eu mesmo apascentarei o meu rebanho, eu mesmo lhe darei repouso” (Ez 34, 11-12.15)


SACERDÓCIO DE JESUS
Jesus nunca usou para si o título de “sacerdote”, para que não lhe atribuíssem um sacerdócio semelhante ao judaico de sua época. Sua pessoa e seu ministério não correspondiam àquele conceito.

O ministério de Jesus foi do tipo profético-sapiencial. Pregava como os profetas e coloca-se claramente no número deles: “...devo prosseguir o meu caminho, pois não convém que um profeta pereça fora de Jerusalém” (Lc 13, 33)

Mesmo alguns de seus milagres remetem a milagres dos tempos dos profetas Elias e Eliseu, como por exemplo a multiplicação dos pães:

“Um homem trouxe para o homem de Deus pão das primícias, vinte pães de cevada e trigo novo. Eliseu ordenou: “Oferece a esta gente para que coma”. Mas o servo respondeu: “Como hei de servir isso para cem pessoas?” Ele repetiu: “Oferece a esta gente para que coma, pois assim falou Iahweh: ´Comerão e ainda sobrará`” Serviu-lhes, eles comeram e ainda sobrou” (2Rs 4, 42-44).

Jesus deu prosseguimento à tradição profética de crítica ao formalismo religioso. Ele não absolutizava a pureza ritual: “Não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isto sim o torna impuro” (Mt 15, 11), nem mesmo as prescrições referentes ao sábado: “O Filho do Homem é senhor do sábado”(Mt 12, 8).

Não aceitou o conceito de santificação através da separação ritual.
Ele retoma o profeta Oséas e declara: “Misericórida é o que eu quero, e não sacrifício” (Os 6, 6; Mt 9, 13)

Deus prefere a dedicação ao próximo como critério de santidade, e não meros rituais, separações, etc.

Ele se afasta do antigo sacerdócio e introduz um novo sacerdócio, não centrado num culto anexo a um prédio, mas na edificação de uma comunidade nutrida pela vida do Senhor, onde os “verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”(Jo 4, 23)

O verdadeiro “templo” agora é o santuário do seu corpo ressuscitado, “reconstruído em três dias”. Todo o sacerdócio futuro tem seu alicerce no Senhor ressuscitado.

O sacerdócio de Jesus é refletido na Carta aos Hebreus, único documento que atribui ao Cristo o título de sacerdote. Nesta carta, o sacerdócio de Cristo é refletido em alguns aspectos.

Cristo é o Sumo Sacerdote, ao mesmo tempo sacerdote e vítima e apresenta ao Pai um sacrifício único e perfeito, tornando-se princípio de salvação para todos.

Ele intercede continuamente em favor de todos:

“Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, réplica do verdadeiro, e sim no próprio céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus a nosso favor. E não foi para oferecer-se muitas vezes, como o sumo sacerdote qu entra no Santuário cada ano com sangue de outrem. Mas foi uma vez por todas, agora, no fim dos tempos, que ele se manifestou para abolir o pecado por meio do seu próprio sacrifício” (Hb 9, 24-26)

A sua realeza se manifesta na caridade e na entrega de si, e não no poder opressor, segregador, opressor. Seu sacerdócio é pastoral, é o sacerdócio do Bom Pastor, que dá sua vida.

Jesus é o verdadeiro sacerdote, único mediador entre Deus e os homens, através da livre oferta de sua vida, que reconcilia a humanidade com Deus: “Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizado uma vez por todas” (Hb 10,10)

Seu sacerdócio é para sempre: “Tu és sacerdote para sempre” (Hb 7, 21). O sacerdócio do Antigo Testamento era limitado pela morte de seus membros. Mas o de Jesus é perpétuo, pois o “Cristo ressuscitado já não morre.” (Rm 6, 9)

Na sinagoga de Nazaré Jesus revela sua identidade e missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me a proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18-19)

A Carta aos Hebreus ainda comenta sobre o sacerdócio: “Todo sumo sacerdote, tirado do meio dos homens, é constituído em favor dos homens em suas relações com Deus” (Hb 5, 1).

Jesus é verdadeiro sumo sacerdote em virtude de sua situação divina e da situação humana que possui.

Ele pertence ao mundo dos homens e ao mundo de Deus. Ao mundo dos homens, para interceder por eles junto do Pai, e comunicar-lhes sua Palavra. Pertence ao mundo de Deus para dar aos homens a vida divina
Jesus é o verdadeiro sumo sacerdote em virtude mesmo de sua condição junto de Deus, que lhe dá o poder de intervir em favor dos homens.

Ele é “o sacerdote” em virtude de sua união hipostática, pois o Cristo-Homem pertence ao mundo divino.

Sua consagração, ou seja, sua subtração do mundo profano para ser transferido ao mundo de Deus, é a sua própria união hipostática. A unção original da humanidade de Jesus é Pessoa do Verbo.

Jesus também é plena e verdadeiramente homem. Ele é “tirado do meio dos homens”, e esta sua comunhão com a humanidade é essencial para a intercessão.

A vocação do sumo sacerdote é levar a humanidade à perfeição.

Para isto, Jesus percorre todas as etapas da vida humana: ele viveu uma condição humana semelhante à nossa, menos o pecado. Assim, toda sua vida, não apenas sua Paixão/Ressurreição são redentoras.

A situação humana e divina de Jesus fundamentam seu ofício de mediador. Sua vocação é intervir em favor dos homens em suas relações com Deus.

Essa mediação coincide com sua função reveladora: partilha com os homens os mistérios divinos. Com sua função santificadora: transforma os homens em imagem de Deus. Com sua função intercessora: pede a Deus por seus irmãos, e por eles morre para que obtenham a salvação.

Estamos longe, pois, de uma idéia exclusivamente cultual ou ritual do sacerdócio.

Concluamos que há duas épocas nesta mediação: ela se concretizou primeiramente na vida terrestre de Jesus. Por seu sacrifício, Ele santificou em sua humanidade a nossa humanidade, e de uma vez por todas: “De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, aqueles que ele santifica” (Hb 10, 14).

Sua mediação agora se exerce no santuário celeste, onde Ele entrou em virtude de seu sacrifício. Esta mediação não repete simplesmente sua obra terrestre, apenas se fundamenta nela.

Jesus agora exerce seu sacerdócio intercedendo por nós, dando-nos sua graça para que alcancemos o Pai. Possuidor do Espírito, em virtude de sua ressurreição, Ele é seu dispensador.

A vida cristã existe na dependência atual e total do sacerdócio do Cristo

“Sendo assim, irmãos, temos toda a liberdade de entrar no Santuário pelo sangue de Jesus. Nele temos um caminho novo e vivo, que ele mesmo inaugurou através do véu, quer dizer: através da sua humanidade. Temos um sacerdote eminente constituído sobre a casa de Deus. Aproximemo-nos, então, de coração reto e cheios de fé, tendo o coração purificado de toda má consciência. Sem esmorecer, continuemos a afirmar nossa esperança, porque fiel é quem fez a promessa. Velemos uns pelos outros para nos estimularmos à caridade e às boas obras.” (Hb 10, 19-21)
BÍBLIA - ÊXODO (aula 07)


Segundo livro do Pentateuco, por vezes, chamado “Evangelho do Antigo Testamento”. Ele anuncia a “boa nova” fundamental da intervenção de Deus na existência de um grupo de pessoas (4,31), a fim de fazê-los nascer para a liberdade e congregá-los em uma nação santa (19, 4-6).

A matéria de Êxodo abrange o período da história de Israel que vai desde a morte de José (Gn 50) até a organização do santuário móvel do deserto (a Tenda).

O livro começa com o acesso ao poder de um novo faraó que “não conheceu José” nem os benefícios que trouxe e que oprime os “filhos de Israel” com trabalhos forçados e genocídios (Ex 1,1-12). Mas Deus, ouvindo o grito do povo, chama Moisés para libertador (Ex 2-3).

A saída do Egito foi sempre considerada por Israel como um momento singular de sua história. É o evento criador de Israel, fato predominante a outros acontecimentos históricos.

Toda a reflexão teológica e histórica de Israel tem sido iluminada pelo “êxodo".

Foi a juventude de um povo que Deus tomou sob seus cuidados (Os 11,1-4; Dt 8, 11-16).

A festa da Páscoa, dos Pães sem fermento, traz sua origem na recordação da saída do Egito.

O êxodo foi também para Israel o tempo privilegiado do encontro com Deus.

Lendo o livro com atenção, percebemos que é perpassado por uma série de questões essenciais, ou seja, de contestações.

A essa questão de fé e dúvidas, o livro dá a resposta da fé do povo de Israel, fé que amadureceu incessantemente no decurso dos séculos até a elaboração final do Êxodo.

A saída do Egito é uma realidade sempre viva. Israel foi sempre guiado pela fé. Não é um livro acabado, mas o livro de um povo a caminho.

Alimenta a esperança de uma liberdade mais fundamental e mais definitiva.
Como já acenamos, vários grupos contribuíram para que se formasse o povo de Israel (patriarcas, êxodo, deserto do Sinai...).

Estamos diante de um grupo que sai do Egito para pedir auxílio para o Faraó.

São necessidades de subsistência.

Num período de muita seca e carestia, muita gente ia para o Egito, esperando condições de sobrevivência.

Um desses grupos recebe o nome de hebreus, que na época, significava gente sem origem definitiva.

Cuidavam de plantações próximas ao rio Nilo e quando não se dava para plantar, o Faraó ocupava a mão de obra para fazer construções públicas.

A pobreza crescia e os hebreus não mais suportavam esse sistema.

Moisés é a figura que vem libertar esse povo.

Ele também um hebreu de nascimento. Tentam a liberdade com o Faraó, mas diante de uma resposta negativa, fogem pelo deserto. A escravidão desperta neles o ideal adormecido: lutarem e escaparem.

O Egito tinha seus deuses, mas os hebreus não queriam adorar esses deuses, eles tinham o seu Deus. (Ex 3,16-20)

Esse Deus estava presente, Ele libertou o povo da escravidão.

O Deus que estende seu braço e sua mão forte. O Deus de Abraão, Isaac e Jacó é o mesmo Deus dos hebreus.

TEMAS ESPECÍFICOS:
- O êxodo do Egito como evento referencial de Israel.
- Deus é quem age.
- O povo é resgatado por Deus para ser seu povo e dele receber a Instrução – o Senhor da Aliança (Deus ciumento).
- O povo não compreende, é “duro de cabeça”, “murmura”, rompe a Aliança. Deus se mostra compassivo.

O Senhor está ou não está no meio de nós? (17,7).
Esquema:
. 1,1-15,21: Libertação do povo para a Aliança.
. 15,22-18,27: Marcha dos israelitas até o Sinai.
. 19,1-24-11: A Aliança do Sinai – manifestação de Deus.
. 24,12-31,18: Prescrições para a construção do santuário.
. 32-34: Ruptura e renovação da Aliança.
. 35-40: Execução da organização do santuário.

Figura central é Moisés, ajudante do sogro na criação de carneiros (2,11-22)

O Deus de Moisés é adorado nas montanhas, mas que sai das montanhas e acompanha o grupo no deserto para a terra de Canaã.

A caminhada pelo deserto é a dura luta para manter-se livre e não ser de novo oprimido. Deus responde ao clamor do povo.

O objetivo é sair da terra da opressão a fim de conquistar uma terra onde o povo possa viver a liberdade e encontrar a vida.

A fertilidade, o espaço, o leite e o mel indicam uma realidade nova e cheia de vida.

Deus faz a Aliança. A Aliança é um compromisso. Estar em aliança com Deus não significa pura e simplesmente ser escolhido, mas ser escolhido para uma missão: manter na história a memória viva do Deus libertador.

O Decálogo é o documento fundante de uma sociedade que pretende uma vida digna para todos os seus membros e onde todos possam ter acesso aos bens da liberdade e da vida.

Este livro, contudo, não acaba totalmente.

O êxodo termina e o povo continua no deserto.

Por acaso o deserto é a última parada?

Êxodo é um livro com um final aberto. Esta abertura é um convite para que continue lendo os outros livros do Pentateuco e da Bíblia...

Êxodo faz com que leitor compreenda que Javé se revela no caminho, que este caminho possui conotações de deserto, e que a descoberta e o processo de identidade do povo e do leitor correm paralelo à descoberta de Deus que eles foram realizando.

Ele está presente! Aí estão os sinais da sua presença e de sua companhia, de seu pacto e de sua fidelidade.
BÍBLIA - GÊNESIS (aula 06)


Gênesis é uma palavra grega que significa nascimento, origem. Esse primeiro livro da Bíblia traz as narrativas sobre as origens do mundo, da humanidade e do povo de Deus.

Distinguimos duas grandes partes neste livro: capítulos 1-11 (origens do mundo, processo da história da humanidade) e 12-50 (narrativas populares sobre as raízes da história do povo de Deus).

O conteúdo do livro é como uma “colcha de retalhos”, lendas, historias, fatos... escrito em três momentos importantes: o tempo do rei Salomão (971-931 a.C.); o período entre 800-700 a.C. e o período do exílio na Babilônia e do pós-exílio (586-400 a.C).

A história das origens volta-se principalmente para a linha de Adão e Jacó e seus doze filhos, também Abraão e Isaac, Noé e outros.

Em Gn 1-11 encontramos a humanidade após a queda e a promessa de Deus.

Em Gn 11-25 Deus vai cumprindo sua promessa e faz a aliança com Abraão e dos capítulos 25 ao 36, mostra como a providência de deus se utiliza até mesmo dos pecados humanos para cumprir o seu plano.

Os temas básicos deste livro voltam-se para:
- as promessas de salvação (13,15 e 12,3),
- a livre escolha do povo para o cumprimento das suas promessas (25-26)
- a realização dessas promessas e sentido da aliança (13,15).

Encontramos na Bíblia duas narrativas de criação do homem:
- Javista (Gn 2, 4b-25)
- Sacerdotal (Gn 1,1-2,4a)

TRADIÇÃO / FONTE JAVISTA:
Não mostra tanto interesse pela origem do mundo quanto pelo surgimento do mal: como pode se explicar a existência do mal em uma realidade que procede e depende de um Deus bom?

O Senhor Deus modelou o homem com o pó apanhado do solo. Ele insuflou nas suas narinas o hálito da vida e o homem se tornou um ser vivo.
Aqui se destaca a relação do homem e da terra”adam procede da adamá (= terra) e no final da vida seu destino será a terra da qual teve origem (Gn 3,19).

O ser humano é tão frágil quanto o barro de que foi formado.
“Deus disse: Façamos o homem...”


TRADIÇÃO / FONTE SACERDOTAL:
Descreve a criação do universo de um modo pedagógico e estereotipado, sobressai repentinamente um “façamos”.

O homem que vai ser criado é o ser humano em geral, a humanidade, não um personagem. “Imagem” (= tselem) alude a uma representação plástica, ao passo que “semelhança” (= demut) designa uma imagem abstrata, com menor parecença.

O homem é relação com Deus, “imagem de Deus”.

O homem é simultaneamente “quase como um Deus”.

A afirmação central de que Deus criou todos os seres tem grandes conseqüências. Ele passa a ser visto como o Senhor supremo do universo, como criador universal , des-divinizando a natureza com seus seres e forças.

Há uma preocupação com a ordem (seis dias) e no sexto-dia Deus cria a humanidade. Toda a narrativa é pontilhada com a apreciação de Deus: “E Deus viu que tudo era bom... E Deus viu que era muito bom” (1,12.18.21.25.31).


DESTACAMOS:

1. A ambigüidade humana – (Gn 3):
Serpente trazida do Egito por Salomão, poder da diplomacia que sustentava a política egípcia. Em Canaã, a serpente era símbolo de fertilidade.

Torna-se, pois, o símbolo da pretensão de um discernimento que leva o homem à auto-suficiência.

2. A ambigüidade da história – (Gn 4-11):
Relação social representada em Caim e Abel. A humanidade produz violência que leva à própria destruição. Encontramos as catástrofes históricas, uma volta ao caos primitivo.

É o sonho do homem justo, o fim de um mundo corrupto e o início de um novo tempo. A pretensão da cidade, o desejo de chegar mais alto (11,4) elevando ao máximo a auto-suficiência.

3. As raízes do povo de Deus (Gn 12-36):
Abraão e o dinamismo da fé. A fé como abertura histórica, um dinamismo que provoca mudança, deixando uma situação para produzir uma realidade alternativa.

4. Esaú e Jacó:
Jacó ocupa grande parte da narrativa, pois foram os grupos que tiveram maior representação na formação do povo.A história de Esaú e Jacó é uma história de conflito (25,19-28).

5. Deus age através dos acontecimentos( Gn 37-50):
A história de José apresenta-se claramente como ponte entre as narrativas patriarcais e o relato do livro do Êxodo.

Ë o início de uma história dramática e encontramos a providência de Deus e a previdência do homem.

Ao contrário das precedentes, a história de José se desenvolve sem a intervenção visível de Deus, sem nova revelação, mas toda ela é um novo ensinamento:
José é salvo e o crime dos seus irmãos se torna instrumento do desígnio de Deus, a vinda dos filhos de Jacó ao Egito prepara o nascimento do povo eleito.
BÍBLIA - PENTATEUCO (aula 05)


Pentateuco é uma palavra grega que significa “cinco livros”. Os judeus chamam esta parte da Bíblia com o nome de Tora, que significa Lei.

Os livros do Pentateuco falam da formação do mundo, da humanidade e do povo escolhido por Deus. Esta divisão em cinco livros é atestada antes de nossa era pela versão grega dos Setenta.

- Gênesis: origens do mundo

- Êxodo: Saída do Egito

- Levítico: Lei dos sacerdotes da tribo de Levi na legislação cultual

- Número: recenseamentos das comunidades dos filhos de Israel

- Deuteronômio: interpretação grega da lei para sacerdotes e levitas



Encontramos quatro correntes que contribuíram para a formação deste conjunto:

I. Tradição sacerdotal (P): (Priesterkodex – código sacerdotal) camada literária mais identificável e que dá ao Pentateuco sua estrutura atual. As características mais marcantes de seu estilo são as repetições, uma certa rigidez, o gosto da precisão numérica, genealogias, listas e predileção pelo culto e pela liturgia. É considerada a corrente mais antiga da tradição e que serve de fio condutor a todo o Pentateuco.

II. Tradição deuteronômica (D): é a tradição compilada no Deuteronômio, designada pela letra D. Centrada no ensinamento da lei. Seu gênero literário é o da pregação, oratórias, com a conclamação à obediência, as exortações, ameaças e as promessas. O longo trabalho de redação deuteronomista não atingiu apenas o Deuteronômio, mas enriqueceu visivelmente várias passagens mais antigas do Êxodo (12-13; 32-33) e até do Gênesis (18,17-19).

III. Tradição javista (J) a primeira camada decorrente da tradição que chama Deus por seu nome pessoal “YHWH”. Por isso é chamada javista (J). A narração javista conservou o caráter pitoresco e a variedade das tradições orais relacionadas a certos santuários e ao folclore do clã. Estilo concreto, colorido, cheio de imagens, contador de histórias.

IV. Tradição eloísta (E): vários fragmentos narrativos quase sempre combinados com a camada J. Distingue-se pela utilização do nome “Elohim” para falar de Deus. É dessa camada que deriva a mais primitiva coletânea das leis do Pentateuco, o “código da aliança” (Ex 10,23-23,33).



Os textos do Pentateuco têm sua origem num passado que só conhecemos de maneira limitada. Uma boa proporção destes textos não tem origem simples, a formulação que chega até nós é resultado de longo processo. O início, como já recordamos, é oral e que aos poucos vai se passando para a fixação escrita.

A “Lei”, à medida que designa o conjunto desses cinco livros, não se restringe a uma significação jurídica, mas engloba, com as partes narrativas, uma visão da história da eleição e da salvação.

O Pentateuco não tem uma forma dogmática, seu povo é um povo santo, inteiramente consagrado a Deus. A autoridade suprema pertence à palavra de Deus e Moisés é seu mediador. É ela que o sacedócio transmite, que os profetas proclamam e que o livro da Lei conserva. É o livro da Lei que apareceu como sinal de unidade frente a dispersão do povo de Israel.

Os acontecimentos atestados pelo Pentateuco anunciam e prefiguram a obra que deus realizou por Cristo na Igreja.
BÍBLIA - A REVELAÇÃO DE DEUS NA REALIZAÇÃO HUMANA (aula 04)


A palavra “Deus” não contém uma idéia imutável; ao contrário, contém todo um espectro de significados. Ao longo da história humana, cada geração tem de criar a imagem de Deus que “funciona” para ela. Apesar do caráter transcendental, uma religião é muitíssimo pragmática.

É muito mais importante uma determinada idéia de Deus funcionar do que ser lógica ou cientificamente válida. É impossível descrever essa transcendência por meio da linguagem conceitual. Há semelhantes idéias no conceito do divino proposta por judeus, muçulmanos e cristãos.

O deus dos judeus, cristãos e muçulmanos é um Deus que – em algum sentido – fala. Sua Palavra é crucial em todas as três “fés”.

A teologia sempre termina parecendo aborrecida e abstrata, mas a história de Deus tem sido apaixonada e intensa.

Assim os seres humanos criaram um Deus que era a Causa Primeira de todas as coisas, o Senhor do Céu e da Terra. Ele não era representado por imagens. Todos, homens e mulheres, aspiravam pelo divino, era esse Deus o protótipo da existência humana.

Assim Deus se revela. Essa revelação tem a ver com o sagrado, com o mistério.

As crises e rejeições da fé na Revelação, nascem dos choques e entre concepções infantis e os questionamentos de uma cultura crítica.

A Revelação é a descoberta do divino que se manifesta. Nem todas as religiosidades ou manifestações tem o mesmo caráter revelador.

A abstração pode ameaçar a essência da revelação. A experiência do divino não é sempre facilmente exprimível.

E na Sagrada Escritura, como se apresenta a experiência da religião?

Os homens da Bíblia não vivam sua religiosidade como algo revelado. Não havia clara distinção entre sagrado/profano, o ambiente era impregnado de religiosidade. Não falamos no “fato”ou “acontecimento” da Revelação, mas fatos e acontecimentos onde o homem bíblico sentiu a presença divina.

Todo esse processo da Revelação foi ganhando importância na palavra, verbalização – a Revelação foi compreendida no modelo da palavra humana –“falar categorial de Deus” – que dita os livros sagrados.

A compreensão teórica da Revelação foi se estreitando numa compreensão verbal, oracular e abstrata. Tal “dizer” não é sempre necessariamente verbal – ações simbólicas dos profetas.

Só no momento em que Deus, em vez de fazer ver e sentir, fala, é que a verdadeira revelação torna-se definitivamente assentada.

A partir do exílio a palavra ganha intensidade nos próprios escritos – “palavra de Iahweh” – formação do cânon, nascimento da Tora.

A letra bíblica é a pura revelação de Deus – de revelação para inspiração. Se Deus ditou a Bíblia, ali não pode haver erros. Mas há na Bíblia uma necessidade histórica e criação das condições de sua possibilidade. A Revelação é para Israel a visão global do mundo e a experiência religiosa. Deus está além das instituições religiosas.

A Revelação não deve ser buscada nas letras das narrações, mas na experiência narrada. Os profetas irão indicar o processo revelador em ação – o profetismo não era exclusivo de Israel, mas anterior. Deus se encarna na palavra humana e assim o profeta revela a profundidade do coração de Deus.

Pertence à Palavra de Deus não só o que ela tem a nos dizer, mas o que nós temos a ouvir, a palavra do homem a Deus. A leitura sapiencial é o caminho pelo qual o homem descobrir em seu esforço reflexivo, a presença de deus (iluminadora), saindo da simples leitura para o mistério.

SITZ IN LIEBEN – a estreita inter-relação entre a história efetiva vivida pelo povo de Israel e os modos de vivenciar a experiência reveladora – situação vital.

DEUS, PURO AMOR EM ATO, ESTÁ SEMPRE SE REVELANDO AO HOMEM NA MÁXIMA MEDIDA QUE LHE É POSSÍVEL. DEUS NÃO SE CANSA DE NOS ATRAIR PELO SEU AMOR.
A Revelação alcança sua plenitude em Cristo – Deus continua se revelando.

16 de agosto de 2010


BÍBLIA - CONHECENDO A BÍBLIA (aula 03)

INTRODUÇÃO:
Bíblia é uma palavra grega que significa livros.
Não se trata de um livro, mas de uma biblioteca, uma coleção de livros.

Encontramos aí a história de um povo que teve um encontro com Deus.

A Bíblia mostra, portanto, dois pontos fundamentais:

- Quem é Deus (não em si mesmo, mas sua presença na vida do homem)
- Quem são os homens.


O centro e o fio condutor de toda a Bíblia é a aliança.

Lendo a Bíblia, vamos percebendo como se dá a história da aliança entre Deus e os homens. Esse aliança é um diálogo que vai se tornando cada vez mais próximo e íntimo.

O diálogo entre Deus e os homens atinge seu ápice na pessoa de Jesus Cristo.

Os originais dos livros bíblicos foram escritos em hebraico, aramaico e grego.O Antigo Testamento (AT) foi escrito, na sua maior parte, em hebraico, alguns livros em grego e trechos de Daniel e Esdras em aramaico.

O Novo Testamento (NT) foi escrito todo em grego.

QUAL A DIFERENÇA DA BÍBLIA CATÓLICA E DA BÍBLIA DOS PROTESTANTES?
Na bíblia dos protestantes faltam alguns livros que estão no AT: Baruc, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, os dois livros dos Macabeus, boa parte do livro de Éster e alguns trechos de Daniel (livros deuterocanônicos).

Os protestantes consideram como Palavra de Deus só os livros do AT que fazem parte da bíblia hebraica. O NT é igual, diferenciando apenas nas traduções.

O QUE É O ANTIGO TESTAMENTO (AT)?
Testamento = Aliança

O AT é uma coleção de livros onde se encontra a história de Israel, o povo que Deus escolheu para Ele fazer sua aliança. Narra os costumes desse povo, a travessia, o governo, as lutas, as leis, a religiosidade do povo escolhido.

O AT (46 LIVROS) se divide em:

PENTATEUCO – cinco primeiros livros da Bíblia: criação do mundo, formação do povo de Israel, sua libertação e condução pelo deserto, normas e leis.

LIVROS HISTÓRICOS – momentos da vida do povo de Israel na terra prometida e no exílio. (16 livros)

LIVROS POÉTICOS E SAPIENCIAIS – experiências concretas de vida. (7 livros)

LIVROS PROFÉTICOS – crítica profunda do presente para abrir caminhos para o futuro. Os profetas criticam as estruturas políticas, econômicas, sociais e religiosas injustas e opressoras, exigindo mudanças. (18 livros)

O QUE É O NOVO TESTAMENTO (NT)?
O anúncio da pessoa de Jesus Cristo. Sua mensagem central e o próprio Filho de

Deus. Jesus inaugura a nova aliança – o Reino de Deus.

Em Jesus, Deus quer reunir toda a humanidade como uma família em que todos são chamados a viver como irmãos.

O NT (27 LIVROS) se divide em:

EVANGELHOS – a pessoa, as palavras e as ações de Jesus.

ATOS DOS APÓSTOLOS – é a segunda parte do Evangelho. O anúncio de Jesus e formação das comunidades cristãs.

CARTAS – dirigidas às primeiras comunidades. (21 epístolas – 14 de Paulo e 7 pastorais)

APOCALIPSE – escrito e linguagem figurada, porque se dirige aos cristãos em tempo de perseguição.

Não se trata de uma palavra sem importância para vós: é a vossa vida (Dt 32,47). Estes sinais foram escritos neste livro para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (Jo 20,30s).

O leitor é livre para resistir e pode apreciar a Bíblia apenas como um literato ou apreciador de história antiga. Mas se entrar em diálogo com os autores, não deixará de ser enfrentado por ele.

A Bíblia sempre remete o leitor à fé vivenciada, como também a vivência da fé sempre remete à Bíblia, na qual a fé lança suas raízes.

SAGRADA ESCRITURA
A Bíblia não é um livro de ciências naturais e não é um livro de história erudita
A Bíblia é um livro da caminhada do povo escolhido por Deus.
Sua leitura se dá na comunidade eclesial.
- Comunidade de Israel
- Comunidade a partir de Jesus
- Comunidade hoje

OS PATRIARCAS:
Os filhos de Israel e os primeiros pais e fundadores do povo da Bíblia.
- ABRAÃO -     Terra de Canaã (Gn 12)
- JACÓ     -      Momento de Carestia (Gn 47 - após a morte de José, tempo de escravidão).
- MOISÉS -      Êxodo (Ex 6 - Javé... aliança de Moisés)
- JOSUÉ -        Introduz o povo na terra prometida (Governo dos líderes locais: juízes)


REIS
PRIMEIROS REIS:
- SAUL
- DAVI
- SALOMÃO
    Construiu o templo de Jerusalém.   
    Durante o reinado de Salomão (900 a.C) que surgem os primeiros escritos da Bíblia. Antes as histórias do povo são transmitidas de boca em boca, de pai para filho.

DIVISÃO DO REINO:
Após a morte do rei Salomão há muitas lutas políticas e brigas. O Reino é dividido em dois.

Reino do Norte: ISRAEL
Capital: Samaria
Norte – Jeroboão – (Elias – Eliseu – Miquéias)
722 a.C.invasão dos assírios.

Reino do Sul: JUDÁ
Capital: Jerusalém.
Sul – linhagem de Davi – Josias (reforma deuteronomista) – Jeremias/Sofonias.

EXÍLIO BABILÔNICCO:
Dura até 538 a.C., quando Ciro se torna"dono do mundo"e decreta a libertação
Primeira deportação (597 a.C.).
Segunda deportação (586 a.C.)

PERÍODO PERSA:
NASCE O JUDAÍSMO
Restauração de Jerusalém (Isaías – Ageu – Zacarias)

Construído por Josué e Zorobabel

A unidade dos povos e do templo está em Judá (reinado) – por isso o nome JUDAÍSMO.

HELENISMO
Conquista de Alexandre Magno

Morte de A. Magno – o reino se divide / separação: samaritanos – judeus
167 a.C. 
– profanação do Templo
- Resistência de Judas Macabeus: "a luta dos Macabeus" (1Mc 4, 36-61)
    
SADUCEUS       - sacerdotes do templo
FARISEUS        - leigos
ESSÊNIOS        - sacerdotes
SELÊUCIDAS    - reis helenistas
HASMONEUS    - dinastias criada pelos macabeus

ROMANISMO
Luta dos hasmoneus – Judá recorre aos romanos
63 a.C. – Roma governa

Fim do governo de Herodes, no tempo do imperador Augusto – nasce Jesus Cristo ( 5 a.C.)

Nasce a comunidade dos seguidores de Jesus (Pedro/Tiago/...Paulo) (CRISTIANISMO)

JUDAÍSMO RABÍNICO:
66 d.C. – zelotas(movimento nacionalista) em guerra contra os romanos
        * destruição do Templo (70 d.C.)
* refundação do judaísmo pelos escribas (estudo da Lei) – presidido pelos rabinos

A Sagrada Escritura foi assim:
- gestada no êxodo do Egito (1.200 a.C.)
- dada à luz no exílio da Babilônia ( 500 a.C.)

LEI – profetas anteriores / profetas posteriores / escritos

BIBLÍA - CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM (aula 02)

"Vos anunciamos esta Vida eterna, que estava voltada para o Pai e que nos apareceu - o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo" (1Jo 1,2-3).

A REVELAÇÃO (Cap. I):
Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9), mediante Jesus Cristo, Verbo encarnado. Em virtude desta Revelação, Deus invisível, no seu imenso amor, fala aos homens como a amigos e conversa com eles

Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus ultimamente, nestes nossos dias, por meio de seu Filho (Hb 1, 1-2). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado como "homem aos homens", fala, portanto, as palavras de Deus e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cf. Jo 5,36).

A Deus que revela é devida a obediência da fé, entregue livremente a Deus. Para entendermos cada vez mais profundamente a Revelação, o Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons.

Deus, princípio e fim de todas as coisas, "tornou-se intelegível pela luz natural da razão através das criaturas" (cf. Rm 1,20).

A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA (Cap. II)
Para que permanecesse íntegra a sua revelação, Deus em Jesus Cristo, preparou os apóstolos para pregarem a todos os povos a mensagem divina. Este mandato foi cumprido com fidelidade e para que continuasse o anúncio do Evangelho, esses deixaram como seus sucessores os bispos, transmitindo-lhes a sua função de ensinar.

Os apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis que mantenham as tradições que aprenderam quer por palavra, quer por escrito e que lutem pela fé.

Esta Tradição que se origina dos apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Assim, Deus que outrora falou, continua sempre a falar com a Esposa do seu amado Filho.

A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão estreitamente relacionadas entre si. Formam como que uma coisa só, partindo da mesma fonte divina. A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo e a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a palavra de Deus, para que a conservem e a difundam fielmente. É um só depósito sagrado da Palavra de Deus.

O múnus (missão) de interpretar autenticamente a Palavra de Deus só foi confiada ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo e cuja papel não está acima da própria Palavra, mas a seu serviço. Neste depósito da fé encontra-se tudo quanto propõe para se crer como divinamente revelado.

A INSPIRAÇÃO DIVINA E A INTERPRETAÇÃO DA S. ESCRITURA (Cap. III)
As coisas reveladas por Deus que se encontram e se manifestam na Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. A Igreja considera como sagrados e canônicos os livros inteiros tantos do AT como do NT, tendo Deus como autor e confiados à própria Igreja.

Como Deus na Sagrada Escritura falou por meio de homens e à maneira humana, o intérprete da SE, para saber o que ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e aprouve a Deus manifestar por meio da palavra deles.

A Palavra de Deus deve ser lida e interpretada com a ajuda do Espírito Santo. Cabe aos exegetas, trabalhar por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura.

O ANTIGO TESTAMENTO (Cap. IV)
Deus escolheu, no seu infinito amor, um povo a quem confiou as suas promessas. Tendo estabelecido aliança com Abraão e com o povo de Israel, revelou-se como único Deus.

O AT nos relata essa escolha e a preparação do povo eleito e o anúncio profético que constrói uma sociedade mais justa e solidária.

O AT manifesta o conhecimento de Deus e dos homens e de como Deus trata os homens.

O NOVO TESTAMENTO (Cap. V)
A plenitude da mensagem de Deus se dá com o mistério da Encarnação. O Verbo se faz carne e habita entre nós, cheio de graça e verdade (cf. Jo 1,14). Mistério não revelado às gerações passadas, mas agora manifestada em Jesus Cristo.

A Igreja defende que os Evangelhos transmitem com fidelidade o que Jesus, Filho de Deus, realmente operou e ensinou.

O cânone do NT encerra, além dos quatro Evangelhos, as epístolas de S. Paulo e outros escritos, redigidos sob inspiração do Espírito Santo.

A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA
A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, sobretudo na sagrada liturgia. Sempre considerou as divinas Escrituras e continua a considerá-las, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra suprema de fé.

É preciso que os fiéis tenham amplo acesso à Sagrada Escritura. Por este motivo, a Igreja logo oferece a tradução grega do AT nomeada dos Setenta e continua outras traduções, quer orientais, quer latinas, sobretudo a chamada Vulgata. Assim, essa mesma Igreja esforça-se por conseguir sempre inteligência mais profunda das Sagradas Escrituras, para alimentar continuamente seus filhos.

A Teologia apóia-se na Palavra de Deus, que é seu fundamente perene. O estudo desses livros sagrados deve ser como a alma da Teologia. É convite do Concílio que se leia a Sagrada Escritura freqüentemente. "Desconhecimento das Escrituras é desconhecimento de Cristo" (S. Jerônimo).

Compete aos pastores "depositários da doutrina apostólica" (S. Irineu), ensinar convenientemente os fiéis a usarem como devem os livros divinos.

Assim como a vida da Igreja cresce com a assídua freqüência do Mistério Eucarístico, assim é lícito esperar também novo impulso de vida espiritual, do aumento de veneração pela palavra de Deus, que "permanece para sempre" (Is 40,8).