21 de agosto de 2011

ECLESIOLOGIA (AULA 1)

INTRODUÇÃO À ECLESIOLOGIA
IGREJA - CONCEITOS FUNDAMENTAIS


INTRODUÇÃO:

Ekklesía, tradução do hebraico qahal, significa “aviso de convocação” e “assembléia reunida”.

É a convocação divina e é a assembléia dos convocados.

Aparece duas únicas vezes nos Evangelhos e 144 vezes no restante do Novo Testamento.

O documento do Vaticano II que nos fala especificamente sobre a Igreja é a Constituição dogmática Lumen Gentium, que assim começa:
“Cristo é a luz dos povos. Por isso, este sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente, anunciando o Evangelho a toda criatura, iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja.
E retomando o ensino dos concílios anteriores, propõe-se explicar com maior rigor aos fiéis  e  a toda  gente a natureza e a missão universal da Igreja, a qual é em Cristo como que sacramento ou sinal, e também instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (Lumen Gentium 1)

Mais do que definida, a Igreja, realidade divina e humana, pode ser apenas descrita. O Concílio a chama de mistério e  afirma:
“Não é criar uma analogia inconsistente comparar a Igreja ao mistério da encarnação. Pois assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve de órgão vivo de salvação, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu corpo místico” (Lumen Gentium 8)

Várias são as imagens utilizadas para melhor conhecer a natureza da Igreja:
Redil, vinha, construção, família, templo santo, Jerusalém celeste, esposa imaculada do Cordeiro.

Veremos a Igreja sob sete enfoques:
  • Como sacramento
  • Como comunhão
  • Como povo de Deus
  • Como corpo de Cristo
  • Como tradição viva
  • Como sociedade
  • Como instituição


IGREJA COMO SACRAMENTO:

É uma realidade divina portadora de salvação, que se revela de modo visível, encarnada na história.

Cristo é a luz dos povos. A Igreja é, nele, sinal e instrumento da união com Deus e da unidade com o gênero humano.

Jesus é o autor da salvação e a Igreja é o sacramento visível desta unidade salvífica.

Cristo continua a agir através da estrutura visível da Igreja, por intermédio do seu Espírito.

O Reino de Deus se manifesta nas palavras, obras, milagres e pela presença pessoal do Cristo. A Igreja é “o Reino de Cristo já presente em mistério” (Lumen Gentium 3) é o “germe e início deste Reino na terra” (Lumen Gentium 5)

O Senhor ressuscitado derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo Pai, e desde então, enriquece a Igreja com os dons do seu fundador, e a estabelece na terra e na história como germe e início deste reino.

“A Igreja que abriga em seu seio os pecadores, santa e ao mesmo tempo necessitada de purificação, aplica-se incessantemente à penitência e à sua renovação” (GS 42)


IGREJA COMO COMUNHÃO:

É comunhão com Deus, da qual se participa por meio da palavra e dos sacramentos, e que leva à comunhão com os cristãos entre si e se realiza concretamente  na comunhão das igrejas locais.

A nível estrutural, os bispos são individualmente o princípio visível e o fundamento da unidade em suas igrejas particulares, formadas à imagem da Igreja universal.


A IGREJA COMO POVO DE DEUS:

É um conceito que vem desde o Antigo Testamento, e que guarda relação com a categoria da aliança.

A Igreja realiza definitivamente a vocação universal a que era chamado Israel pelo seu Deus como “sinal entre as nações” (Is 11, 12),e se torna “povo messiânico, instrumento de redenção de todos” (Lumen Gentium IX)

Os que crêem em Cristo e o vêem como autor da salvação e princípio de unidade e paz constituem a “estirpe eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo conquistado [...] que em tempos não o era, mas agora é o povo de Deus” (1 Pd 2, 9-10)

Este povo tem por cabeça o Cristo, por condição a dignidade e liberdade dos filhos de Deus, por lei o mandamento do amor e tem por fim o reino de Deus, já começado e que deve ser continuamente desenvolvido até à consumação final quando Cristo, nossa vida, aparecer.


A IGREJA COMO CORPO DE CRISTO:

Pela comunicação do Espírito, o Cristo constituiu com seus irmãos o seu corpo místico.

Ele reparte conosco seu Espírito, que sendo um só na cabeça e nos membros, vivifica, unifica e dirige.

Neste corpo, a vida de Cristo se comunica a nós de modo real, por meio dos sacramentos, especialmente o Batismo e a Eucaristia.

Cristo é a cabeça deste corpo, e todos os membros, com seus diversos dons e funções, devem conformar-se com Ele.

Ele enche a Igreja com seus dons para que ela procure e alcance toda a plenitude de Deus.


A IGREJA COMO TRADIÇÃO VIVA:

Cristo envia seus apóstolos para pregarem o Evangelho a todos os homens, como fonte de verdade salvífica, comunicando a eles seus dons divinos.

O que foi transmitido pelos Apóstolos compreende tudo o que contribui para conduzir a vida e fazer crescer o povo de Deus. A Igreja, com sua doutrina, vida e culto perpetua e transmite historicamente o que ela é e o que ela crê.

A tradição viva tem em comum com a Escritura o ser princípio de continuidade e identidade entre a Igreja apostólica e as gerações posteriores até o fim dos tempos, no plano do conhecimento, do culto e da vida.

Neste contexto se situa o magistério dos bispos, como garantia da sucessão apostólica.

A tradição aparece em dois sentidos: para descrever o que não está escrito na Escritura e tem origem apostólica; e para exprimir todo o processo de transmissão viva da revelação através dos tempos.

“A tradição é a expressão do Espírito Santo que anima a comunidade dos fiéis. Ela corre através de todos os tempos, vive em cada momento e toma corpo continuamente. Esta força vital, espiritual, que herdamos de nossos pais e que se perpetua na Igreja, é a tradição viva” (J A Möhler)


A IGREJA COMO SOCIEDADE:

Ela é “estrutura visível e social”, “grupo visível”, “sociedade dotada de organismos hierárquicos”, “Igreja terrena”, “estabelecida e estruturada neste mundo como sociedade”, “uma única sociedade visível de crentes unidos por uma mesma fé, pelos mesmos sacramentos e pela submissão a uma mesma hierarquia”.

Toda esta concepção de sociedade não pode ser desvinculada da visão de Corpo Místico e de sacramento.

A esta sociedade se incorpora não só com “o corpo”, mas também com “o coração”.

As formas concretas com as quais a Igreja exercita sua missão fundamenta a importância da eclesiologia “jurídico-prática”.


A IGREJA COMO INSTITUIÇÃO:

Por instituição se entende um conjunto de formas e atividades típicas de uma sociedade que, ainda que se tenham desenvolvido historicamente, têm certa permanência (subdivisão de funções e poderes, tradições consolidadas, ritos e símbolos permanentes, normas morais reconhecidas, etc...)

Há que se superar o risco de situar a Igreja apenas como uma realidade sociológica, pois, apesar de composta por homens, tem sua origem e fim último em Deus, e sua razão de ser e seu sentido consiste em ser “sacramento universal de salvação”.

A instituição aparece como sinal identificador do Espírito, que a ajuda a identificar-se com a mensagem originária do Evangelho.

É sinal da força integradora do Espírito, que incorpora cada fiel e as diversas igrejas na unidade originária da Igreja universal.

É sinal da força libertadora do Espírito.

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