CRISTOLOGIA - AUTOAFIRMAÇÕES E TÍTULOS DE JESUS (AULA 15)
INTRODUÇÃO
Quem é Jesus de Nazaré?
Esta é uma pergunta que aparece sempre na vida dos seguidores daquele Mestre de Nazaré.
Fundamentados na experiência pascal e em Pentecostes é que a fé em Jesus e o aprofundamento na compreensão de sua identidade se desenvolveram.
As primeiras comunidades apresentaram vários caminhos para a aproximação da rica e complexa realidade de Jesus usando elementos tomados do Antigo Testamento, das tradições judaicas e do helenismo.
Trataremos, então, alguns desses títulos
- O Cristo-Messias
- O Servo de Iahweh
- O Homem Novo
- O Senhor
- O Filho do Homem
- O Filho
JESUS É O CRISTO-MESSIAS
Cristo-Messias significa “Ungido”.
Eram ungidos o rei, o sacerdote, enfim, pessoas com alguma missão ou tarefa especial em relação ao povo de Israel.
No Antigo Testamento a ação libertadora e salvífica de Iahweh está associada à vinda de um Messias-rei, da casa de Davi.
No tempo de Jesus era predominante a interpretação político-nacionalista da figura do Messias. Daí a reserva de Jesus em relação à utilização desse título.
Ele não se afirma Messias, mas não rejeita o título, sempre corrigindo seu significado, principalmente quando lhe é dado por doentes e pelos discípulos.
Depois de sua morte-ressurreição ficou claro o messianismo de serviço de Jesus.
O título mostra a continuidade entre a expectativa de Israel e a Igreja
Ele é o esperado, o salvador de toda a humanidade, é aquele que supera as expectativas do coração humano.
JESUS É O SERVO DE IAHWEH
Ele viveu toda a sua vida em entrega filial ao Pai e em amor-serviço e solidariedade aos irmãos.
Sua entrega, em consonância com o Servo dos cantos de Isaías, foi feita:
“por amor a nós, em proveito nosso, em nosso lugar”.
JESUS É O HOMEM NOVO
Sonhamos com um ser humano melhor que o atual. Sentimos que existir o ser humano real, histórico e o ser humano ideal, desejado, sonhado.
Também os gregos tinham esta ideia: o homem originário, proveniente do divino, que era modelo para a criação do homem real.
Também no judaísmo, influenciado pelo helenismo, interpretou-se a criação do homem em Gênesis com a existência do Adão perfeito, criado à imagem de Deus e o Adão terrestre, imperfeito, feito de argila.
Este contexto cultural será retomado no Novo Testamento.
Paulo afirma que o verdadeiro homem, o homem que vem de Deus é o segundo Adão, Jesus Cristo: “O primeiro homem tirado da terra é terrestre.
O segundo homem vem do céu” (1 Cor 15, 47) e “...Adão, que é figura daquele que devia vir...” (Rm 5, 14b)
Há, para Paulo, “dois Adões”, dois modos de existir: o “corpo psíquico”, do Adão pecador, incapaz de doar vida, e o “corpo espiritual”, próprio de Jesus Cristo, fonte de vida para todos: “o último Adão tornou-se espírito que dá a vida” (1 Cor 15, 45b)
Jesus é a verdadeira imagem de Deus, e o cristão é chamado a assemelhar-se a essa imagem, morrrendo ao homem velho para poder viver a vida do homem novo.
Mas, hoje nós somos a imagem do primeiro ou do segundo Adão?
Paulo nos esclarece: “Assim, como trouxemos a imagem do homem terrestre, traremos também a imagem do homem celeste” (1 Cor 15, 49).
Estamos em transformação, do homem que trouxemos para o homem que traremos.
JESUS É O SENHOR
Com este título eclode a confissão de fé na condição divina de Jesus.
O nome de Deus no Antigo Testamento é traduzido para o grego pelo termo “Kyrios” (Senhor).
As primeiras comunidades já confessam que Jesus é o Senhor.
Sua intenção é clara: diante da multiplicidade de senhores, os cristãos confessam um único Senhor: Jesus, o Cristo. Ficam invalidados todos os outros senhores, com sua falsa intenção de divinidade.
O senhorio de Jesus é escatológico, mas já incide na vida da comunidade.
A vida cristã é vivida em relação ao Senhor Jesus: “no Senhor”, fórmula utilizada inúmeras vezes por Paulo em suas cartas, significando que a vinculação ao Senhor é para ser vivida no cotidiano, na aceitação desse senhorio.
Por isso o hino cristológico de Fl 2, 6-11 exprime a fé na origem divina de Jesus, no seu esvaziamento, assumindo todas as consequências da morte de cruz, na sua exaltação. O hino afirma ao final: “que toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”
JESUS É O FILHO DO HOMEM
É uma expressão que aparece 80 vezes no Novo Testamento, sempre utilizada por Jesus para autodesignar-se (exceto em At 7, 56)
É uma tradução para o português de “Bar nasha” ou “ben adam” que quer dizer simplesmete que alguém é humano, é homem.
Aparece frequentemente no Antigo Testamento com este significado.
Dois autores bíblicos empregam o termo num sentido diferente do comum: Ezequiel (cap 34) e Daniel (cap 7).
Deus chama o próprio Ezequiel de “filho do homem” quando lhe dá uma missão.
Escrevendo por ocasião do exílio na Babilônia, Ezequiel inverte a noção do Messias guerreiro que liberta, para a ideia de Príncipe da Paz, de Bom Pastor.
O fato de ser simplesmente homem não o impede de ser testemunha e sentinela de Deus, anunciando a verdadeira aliança e a verdadeira face de Deus, bom pastor por excelência.
Em Daniel aparece a figura apocalíptica do Filho do Homem, descrevendo um sonho.
O texto deixa na sombra a identidade do Filho do homem, mas lhe atribui qualidades que iluminam seu ser e sua função.
O personagem não surge da terra, do abismo primitivo como os outros seres, mas vem por sobre as nuvens, tem origem no céu.
Ele surge durante o julgamento final, e recebe de Deus a soberania, torna-se o substituto de Deus no governo do mundo.
O Filho do Homem é um personagem escatológico, e esta figura funde-se com outro personagem: o Messias sempre aguardado.
O Filho do Homem pertence a dois mundos: o mundo de Deus, do qual ele é o Revelador, e ao mundo dos homens, onde traduz em linguagem humana a eterna intenção de Deus.
Jesus emprega a expressão com três significados diferentes:
1- Ele é o Filho do Homem que atua em sua existência terrena em meio aos outros homens, vivendo as limitações dessa existência: “Veio o filho do homem que come e bebe, e dizem: eis aí um glutão e beberrão” (Mt 11,19)
2- Ele é o Filho do Homem que realiza a missão do Servo: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos... Ser morto e ressuscitar” (Mc 8, 31); “O Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores” (Mt 26, 45)
3- Ele é o Filho do Homem que virá no final dos tempos, com glória e poder, para julgar, o que o coloca na perspectiva própria de Daniel: “E quando vires o Filho do Homem subir aonde estava antes?” (Jo 6, 62); “Quando o Filho do Homem vier em sua glória...então se assentará no trono de sua glória” (Mt 25, 31)
O Filho do Homem evoca uma origem celeste enquanto essa tiver uma correspondente terrestre, e toma forma concreta na encarnação, na humilhação, na existência do Servo.
É a encarnação que estabelece que a escatologia gloriosa não despreza a história concreta dos homens.
O Jesus da história é o Filho do Homem que conduz a humanidade, com toda limitação e sofrimento, à glória apocalíptica de que fala Daniel.
A vocação do Filho do Homem não é diferente daquela do Servo.
Jesus é o Filho do Homem porque sendo de condição divina possui uma existência histórica.
O título Filho do Homem é apenas formal enquanto não assumir carne e sangue. Ele se manifestará na Parusia, quando a dualidade entre o projeto de Deus e o concreto da história for superada, quando a identificação de Jesus com a humanidade for manifesta, no julgamento.
O julgamento é, na verdade, a revelação da identidade entre Jesus e os homens.
Título de majestade, o Filho do Homem define a missão de Jesus, enquanto realiza na história uma intenção divina: a unidade dos homens entre si e com o Filho de Deus
JESUS É O FILHO
O título “Filho” é diferente do título “Filho de Deus”. Este último tem origem na teologia política do antigo Oriente.
O rei era visto como tendo origem divina.
Em Israel essa “geração” era tida como “eleição”.
A simples palavra “Filho”, nos Evangelhos, nós só encontramos na boca de Jesus.
O Evangelho de João – na qual a palavra aparece 18 vezes – é que melhor aprofunda o significado da filiação única de Jesus: ela implica uma íntima e perfeita comunhão de conhecimento, de vontade e de ser com o Pai.
O Filho identifica toda a sua atividade com a atividade do Pai: “O Filho, por si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; tudo o que este faz o Filho o faz igualmente” (Jo 5, 19).
Ele tem a vida em si: “Como o Pai tem a vida em si também concedeu ao Filho ter a vida em si” (Jo 5, 26). Possui comunhão de conhecimento: “como o Pai me conhece eu conheço o Pai” (Jo 10, 15)
Ele está no Pai como o Pai está nele: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós.” (Jo 17, 21)
A vontade do Filho constitui uma unidade com a do Pai, como nos é apresentado no Jardim das Oliveiras: “não a minha vontade, mas a tua seja feita.” (Lc 22, 42)
De tal modo é íntima e total a comunhão entre Pai e Filho que Jesus pode dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30)
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