21 de setembro de 2010

BÍBLIA - DEUTERONÔMIO (aula 10)

O livro do Deuteronômio sempre foi muito importante para o judaísmo. Nele está o Shemá (6, 4-9), que os judeus recitam diariamente e é o centro do livro.

É um dos livros mais citados no NT ao lado de Isaías e Salmos, além de influenciar a eclesiologia de Paulo e a perspectiva de Deus como um Pai amoroso.

Para os alexandrinos, o livro é uma atualização da Lei (17,18) contida no Código da Aliança (Ex 20-23).

É uma atualização da antiga aliança, procurando adaptá-la a novos tempos e situações.

Neste livro temos as últimas palavras de Moisés e o seu destino. É o grande conjunto do Pentateuco. Estamos na terra de Moab, no além Jordão, no último ano de marcha pelo deserto (1,1-3) antes da entrada na Palestina central.

O Deuteronômio foi colocado entre os acontecimentos importantes: de um lado, a libertação da escravidão no Egito, a aliança com Javé e a marcha pelo deserto (Ex, Num, Lv) – de outro, a posse de Canaã, a Terra Prometida (Js, Jz).

É preciso pois, que o povo aprenda a viver a liberdade.

O Deuteronômio é, portanto, um aprendizado, uma pedagogia da liberdade e da justiça, a fim de construir uma sociedade em aliança fiel com Deus que liberta e dá a vida para todos (4,40; 6, 24-25; 8, 1-5).

É um apelo de conversão ao povo que vai atravessar o Jordão e tomar posse da terra. Isso depende da fidelidade do povo a Javé.

O seu aspecto particular é a legislação fundada no decálogo (5, 1-21), confiada a Moisés para ser exposta ao povo.


ESTILO E GÊNERO LITERÁRIO:

O estilo utilizado no livro do Deuteronômio é marcado e diferente de qualquer outro livro do AT. Nele encontramos uma oratória fluente e solene, buscando atingir, comover, convencer e influenciar os ouvintes pelo sentimento.

Trata-se de uma obra cheia de vida, dentro de um gênero monótono (legislação). Encontramos três elementos: leis, narrativa e exortações.

Leis:
Apresentadas de modo caloroso, apelando para o bom-senso e sentimento, apoiando-se em argumentos que questionam diretamente a consciência (15,12-18).

Narrativas:
Falam de um passado, dirigindo-se ao presente, visando formar a consciência histórica que constrói o futuro (5, 1-3)

Exortações:
Se dirigem à liberdade e pedem uma decisão (28; 30)

Seu gênero literário é bastante complexo e resulta de uma confluência das instituições do tempo do reino dividido.

Temos sacerdotes (leis e instruções), profetas (oratória fluente e emotiva) e sábios (conselheiros perspicazes).


VISÃO PANORÂMICA:

A estrutura geral apresenta quatro grandes partes:

I. Introdução histórica e teológica (1-11)

II. Código Deuteronômico (12-16)

III. Ritos de conclusão da aliança (27-30)

IV. Apêndices (31-34)



I. Introdução Histórica e Teológica (1-11)
1. Primeiro discurso de Moisés (1,1-4,40)
2. Segundo discurso de Moisés (4,44-11,32)

II. Código Deuteronômico (12-26)
1. Relações com Deus: leis cultuais (12,1-16,17)

2. Relações com as mediações: leis sobre as autoridades (16, 18-18,22)

3. Tribunal superior no santuário para causas difíceis (17,8-13)

4. Situação das autoridades (17,14-18,22)

5. Relações sociais: leis civis (19, 1-21,19)
- Respeito pelo homem e pela vida (19,1-21,9)
- Direito familiar e social (21, 10-25,19)
- Respeito pela vida: animais (22, 22-23)
- Respeito pela vida: nas relações sociais (22,13-23,1)
- Critérios para pertencer à comunidade (23, 2-15)
- Respeito para com os pobres e necessitados (23, 16-24,22)
- Respeito pela dignidade, boa fama e lealdade para com o próximo (25, 1-16)
- Destruição de Amalec (25, 17-19)

6. Prescrições rituais e conclusão (26, 1-19)
- Os primeiros frutos (26, 1-11)
- O dízimo trienal (26, 12-15)
- Conclusão (26, 16-19)

III. Preparação e conclusão da Aliança (27-30)
1. Preparação e ritos da aliança (27)
- Pedras da lei com a legislação (27, 1-10) (27, 1-10)
- 12 maldições sancionando a infidelidade (27, 11-26)

2. Bênçãos (28, 1-14) e maldições (28, 15-68)

3. Terceiro discurso de Moisés (29-30)

IV. Apêndices (31-34)
1. De Moisés a Josué (31):
- exortação ao povo e eleição de Josué (31,1-8. 14-15.23); - livro da Lei para ser lido a cada sete anos (31, 9-13);
- introdução ao cântico de Moisés (31, 16-22) e convite ao povo (31, 28-30);
- o livro é guardado ao lado da Arca (31, 24-27).

2. O cântico de Moisés (32, 1-47):
- profecia e celebração (32, 1-43);
- exortação: Lei como fonte de vida (32, 44-47).

3. Último ato de Moisés (32, 48-33,29):
- Moisés sobe ao monte Nebo e contempla a terra (32, 48-52);
- Bênção de Moisés (33).

4. Morte de Moisés (34):
- a morte (34, 1-9);
- elogio (34, 10-12).

Javé é o Pai que ama o seu povo, adotando-o como filho. A esse amor, o povo responde com o temor e o amor.

O amor de Javé por seu povo é testemunhado pelos seus dons:
- ele dá a liberdade (êxodo)
- e a vida (terra).

Esse dom é fruto, também, da conquista do povo.

Na conquista da liberdade, se tem a relação política.

Na conquista de terra, se tem a relação econômica.

A JUSTIÇA DE DEUS NASCE DO AMOR E SE REALIZA NO DOM DA LIBERDADE E DA VIDA PARA TODOS.

A justiça do homem nasce do temor-amor que conquista a liberdade e a vida, transformando-a em partilha e fraternidade.



O Deuteronômio fornece uma metodologia pastoral para a atualização da fé dentro dos problemas e conflitos de um novo contexto histórico, com seus aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais.

Atualizando sua leitura, podemos avaliar, de forma crítica, os problemas e desafios que um determinado contexto histórico-social levanta, tomar desse parâmetro ou modelo do passado a tradição válida ou a atitude básica permanente, aplicar a tradição válida ou a atitude básica permanente para responder aos problemas do presente e, essa resposta, deve conservar a natureza da tradição válida ou a atitude básica permanente.

Assim, o deuteronômio, lança o alicerce da ética. Apresenta a Lei que não é imposta de fora, mas que provoca o emergir da consciência e pede uma decisão.

Temer e amar javé, é uma tarefa que engloba toda vida

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