PNEUMATOLOGIA - O ESPÍRITO SANTO ANIMA A IGREJA (AULA 3)
A IGREJA É FEITA PELO ESPÍRITO
“Consumada a obra que o Pai tinha confiado ao Filho sobre a terra”, no dia de Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja e, assim, os que viessem a acreditar, tivessem, mediante Cristo, acesso ao Pai, num só Espírito”. (LG 4)
Assim, dá-se o nascimento da Igreja, manifestação do que já ocorrera no Cenáculo, quando o Cristo sopra sobre os apóstolos e diz: “Recebei o Espírito Santo...”
O que ocorreu “estando as portas fechadas”, agora manifesta-se publicamente diante dos homens.
É claro que o Espírito já agia no mundo, mas em Pentecostes ele desceu sobre os discípulos para permanecer com eles eternamente (Jo 14, 16) e a Igreja nasce e dá-se o início da difusão do Evangelho através da pregação.
O “tempo da Igreja” começa com a vinda do Espírito Santo, no momento em que as promessas e os anúncios, sobre o Espírito consolador, o Espírito da verdade, passaram a verificar-se sobre sobre os apóstolos, com toda a evidência. O Espírito assumiu a orientação invisível daqueles homens fracos.
“O Espírito Santo habita na Igreja e no coração dos fiéis como num templo (cf 1Cor 3,16); neles ora e dá testemunho da sua adoção filial (cf Gl 4,6).Ele introduz a Igreja no conhecimento de toda a verdade (cf Jo 16,13), unifica-a na comunhão e no ministério, edifica-a, dirige-a e enriquece-a com seus frutos” (cf Ef 4, 11-12)
Os discípulos formam uma comunidade guiada pelo Espírito Santo, portadora de uma mensagem de salvação, solidária com todos os homens e com sua história, pois o Espírito de Deus dirige o curso dos tempos e renova a face da terra.
É significativo que Jesus, no seu discurso de adeus, anuncie não apenas sua partida, mas também a sua nova vinda: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para junto de vós” (Jo 14,18), e no momento da ascensão diga: “Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 18, 20)
Esta nova vinda dá-se no âmbito do envio do Espírito Santo, realiza-se por obra do Espírito, que faz com que Cristo, que partiu, venha agora e sempre, de maneira sempre nova, na realidade sacramental da Igreja.
Nossa redenção desenvolve-se na história no ritmo da missão do Filho, que veio ao mundo, nascendo da Virgem por obra do Espírito Santo e também no ritmo da missão do Espírito, que veio e vem continuamente a nós, no mistério da Igreja.
A Igreja é realidade terrestre, destinada à História, e obra de Deus, “mistério” que só a fé conhece.
A Igreja é sinal e meio da intervenção de Deus na nossa história. É realização da promessa de Deus concretizando-se na Igreja e através da Igreja
A Igreja histórica e visível tem Jesus como seu “fundador” (mas sempre ativo e vivo) e o Espírito como aquele que lhe dá vida e a faz crescer, enquanto ela é o Corpo de Cristo.
Ela é fruto das duas missões divinas: do Filho e do Espírito.
Há uma total unidade de ação do Espírito Santo e do Cristo, pois “o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito está a liberdade” 2Cor 3,17.
Se em Deus eles são distintos, eles são de tal modo unidos que os experimentamos juntos. Quando o Pai envia o Verbo, envia sempre o seu Espírito.
O ESPÍRITO É PRINCÍPIO DE UNIDADE
O Espírito foi dado à Igreja e prometido aos apóstolos, mas em vista do novo povo:”...O Espírito da Verdade, que vem do Pai, dará testemunho de mim, e vós também dareis testemunho” (Jo 15, 26b-27a); “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo 14, 26)
Em Pentecostes são significativas duas expressões: “reunidos juntos, no mesmo lugar” e “unânimes”.
A comunidade recebe o Espírito, na unidade, o que já supõe uma primeira unidade, de consentimento, de estar juntos.
Só se recebe o Espírito quando se está junto. Porque há um só Espírito de Cristo, é que há um só corpo, que é o Corpo de Cristo: “Fomos todos batizados em um só Espírito para formarmos um só corpo” (1Cor 12,13)
A Igreja é uma comunhão, uma fraternidade, em que se unem um princípio pessoal e um princípio de unidade
É necessário nada menos que o Espírito de Deus para conduzir à unidade tantas realidades diferentes e Ele promove esta unidade não através da pressão, e sim através da delicada via da comunhão.
Somente Ele consegue, respeitando a pluralidade, promover o plano de Deus, que se expressa na comunhão, na unipluralidade.
O Espírito faz com que todos sejam um, em que todos vivem e esse comportam como membros conscientes e livres de um todo orgânico.
O mesmo Espírito, que santificou a humanidade de Jesus, faz que exista na história um só Corpo, que é o Corpo de Cristo, “na diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (1Cor 12, 12-13)
A unidade da Igreja tem seu fundamento em Deus: “Há um só Corpo e um só Espírito... um só Senhor, uma só fé, um só batismo, há um só Deus e Pai de todos...” (Ef 4, 4-6)
A Igreja é a realidade una e eficaz visada pelo plano de unidade de Deus. É a realidade do “Corpo místico” de Cristo.
O Senhor Jesus e o Espírito são, juntos, os autores da Igreja, em sua unidade. Mas Cristo é a Cabeça deste corpo, homogêneo aos seus membros. Por isso, a Igreja é o Corpo de Cristo, e não do Espírito Santo.
O ESPÍRITO É PRINCÍPIO DE CATOLICIDADE
A unidade é aquela de “muitas pessoas segundo o todo”. A unidade é de extensão universal (católica).
Jesus é o “homem universal” e a Igreja faz com que Ele chegue para os homens de todos os lugares e todos os tempos.
Ela faz esta continuidade com aquilo que vem dele para ela como instituição – palavras, sacramentos, missão – e com a comunicação de seu Espírito, como dom escatológico, já presente e ativo dentro dela. Ele a catoliciza no espaço do vasto mundo e no tempo da história.
O Espírito que residia em Jesus e operava através dele, após a experiência pascal deu início ao envio missionário: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 19-20).
Esta missão provocou a saída do domínio judeu e a ida ao encontro dos povos, das línguas e culturas.
Pentecostes foi a apresentação da Igreja ao mundo como vocação para a universalidade, com cada qual entendendo e exprimindo em sua língua as maravilhas de Deus. (At 2, 6-11)
Pela missão-dom do Espírito, a Igreja nasceu universal ao nascer múltipla, católica porque particular.
A Igreja inverteu Babel, não por uma uniformidade pré-babélica, mas anunciando uma inculturação do próprio Evangelho e da própria fé em solos culturais ou espaços humanos diferentes.
A Igreja coloca sua fé na Palavra de Deus, da qual as Escrituras inspiradas dão testemunho. A vida da Igreja é, ao longo dos séculos, uma meditação das Escrituras, que devem ser lidas com o mesmo espírito e pelo mesmo Espírito sob influência do qual ela foi escrita.
Só há leitura adequada da Escritura sob moção do Espírito.
Se a Escritura é a comunicação do mistério de Cristo, então se entende que a ela tenha sido assimilada a Tradição.
O Espírito atualiza a Palavra a cada geração e em cada ambiente. Ele dá assistência à comunidade para perceber o seu sentido.
O Espírito atua na Igreja hoje, e guia sua vida hoje tanto quanto no passado. Ele ainda fala hoje, nos acontecimentos e na vida dos homens.
A Igreja descobre nos “sinais dos tempos” o campo de sua missão, sob a inspiração do Evangelho e sob a ação e graça do Espírito.
O Espírito torna presente a Páscoa de Cristo, atualiza sua Revelação, impulsiona o Evangelho para frente, pois se o Cristo nasceu apenas uma vez, falou, morreu e ressuscitou apenas uma vez, essa “uma vez” deve ser acolhida e produzir frutos numa humanidade que se multiplica e se diversifica de maneira indefinida através das culturas e dos espaços humanos.
É obra do Espírito unir o dado e o inesperado, o adquirido uma vez por todas e o perpetuamente inédito e novo.
O Verbo é a forma e o Espírito, o sopro. Jesus anunciou um Evangelho, instituiu uma Eucaristia. O Espírito os atualiza no inédito da história, ele une o Alfa e o Ômega.
Deus nos disse tudo e nos concedeu tudo em Jesus Cristo, mas há algo de novo, que se passa na história.
O Espírito é o Espírito de Jesus. Ele não faz outra obra diferente da de Jesus. Não há uma obra do Paráclito que não seria a do Cristo. A catolicidade é a catolicidade do Cristo. A solidez da pneumatologia está na sua referência cristológica.
O ESPÍRITO MANTÉM A IGREJA APOSTÓLICA
Apostólica significa relativa aos apóstolos, conforme os apóstolos, é uma conformidade com as origens.
É também uma referência escatológica. Ela preenche o entremeio do Alfa e do Ômega, garantindo a continuidade de um e de outro, a identidade substancial do princípio e do fim.
A Igreja junta o Alfa da proposta de Deus ao seu Ômega, de modo que proposta e dom continuem idênticos no curso da história. O Espírito garante esta ligação.
Esta fidelidade se manifesta nos elementos essenciais da instituição eclesial dados por Jesus: sua palavra, os sacramentos, o ministério dos doze, etc.
A apostolicidade é a identidade da missão dada aos apóstolos através dos séculos e até o fim.
Para a continuidade da obra de Jesus, há dois elementos essenciais : os apóstolos e o Paráclito. Os dois estão juntos.
“Recebereis uma força, a força do Espírito Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8)
“ E vós sereis testemunhas disso. Da minha parte, eu vou enviar-vos o que meu Pai prometeu” (Lc 24, 48)
Os Atos dos Apóstolos e as cartas nos mostram na prática essa associação entre o Espírito e os enviados de Cristo.
Os enviados pregam “sob a ação do Espírito” (1Pd 1,12), sua palavra é poderosa “pela ação do Espírito Santo” (1Tm 1,15), foram confirmados por ele, na verdade (Jo 16, 8-13). A Igreja nasce e cresce pela pregação e graças ao apoio do Espírito (At 6,7).
O ministério apostólico é atribuído ao Espírito Santo, é um “ministério do Espírito” (2Cor 3, 4-18)
Ao longo dos séculos, a Igreja tem a consciência de ser assistida, inspirada pelo Espírito Santo, que lhe foi prometido e dado para guardar uma infalível fidelidade à fé recebida dos apóstolos, de maneira especial para o magistério do bispo de Roma.
Nós cremos na Igreja apostólica, pois o Espírito a apostoliza. É sobre ela, reunida ao redor dos apóstolos, que o Espírito desceu em Pentecostes. Quando a primeira comunidade se expandiu, foi através do acesso de novos membros que se juntaram ao núcleo primitivo.
Assim entendemos a “sucessão apostólica”, no sentido amplo da transmissão fiel da fé, em total conexão com a comunidade primitiva. Por isso a ordenação dos bispos é realizada por vários bispos, e no meio do povo, que dá testemunho que seu eleito está dentro da fé católica e apostólica.
O Espírito assiste a Igreja para que ela, intimada a confessar, afirmar ou definir sua fé, ela o faça de modo garantido, infalível.
Desde a descida do Espírito sobre os primeiros cristãos, eles “eram assíduos à fração do pão e à oração” unidos ao ensinamento dos apóstolos
Reconheciam que o Senhor ressuscitado voltava ao meio deles na comunidade eucarística da Igreja, e por meio dela.
A Eucaristia é a expressão maior da partida de Cristo, e também sua vinda, sua presença salvífica no Sacrifício e na Comunhão.
Mediante a Eucaristia, e por obra do Espírito Santo, como esclarece a “epiclese” antes da consagração, realiza-se o fortalecimento do homem interior, as pessoas aprendem a descobrir o sentido divino da vida.
A Igreja desenvolve-se sobre o fundamento da “partida” do Cristo e vive sobre sua “vinda” sempre novo, por obra do Espírito.
O ESPÍRITO É PRINCÍPIO DE SANTIDADE
É motivo de irritação em muitos proclamar a Igreja como “Santa”.
O Concílio Vaticano II teve a coragem de falar da Igreja santa e pecadora: os séculos de história da Igreja estão cheios de todo tipo de falhas humanas.
Sua santidade não se refere à santidade das pessoas, mas é uma alusão ao dom divino que lhe concede santidade em meio à imperfeição humana.
Sua santidade consiste no poder de santificação que Deus exerce nela, apesar da pecaminosidade humana.
A Nova Aliança se baseia na graça concedida por Deus, que não recua diante da infidelidade humana. Ela é expressão do amor que não se deixa vencer, que quer bem ao homem e o aceita justamente como ser pecaminoso, dirigindo-se a ele para santificá-lo.
A Igreja é continuamente santificada pelo Espírito, tornando a santidade Dele presente.
É a santidade do Cristo que brilha em meio ao pecado da Igreja.
Esse encadeamento fidelidade de Deus/infidelidade do homem é a estrutura dramática da graça, que se torna visível por mãos indignas.
Em nosso sonho de perfeição, o pecado não está misturado com a santidade.
Os críticos de Jesus já o julgavam por vê-lo misturado com os pecadores, os doentes, e pediam que ele arrancasse logo a erva daninha.
A santidade imperfeita da Igreja revela a santidade de Deus, que é um amor que não se mantém distante, mas que se mistura à sujeira do mundo para superá-la.
Essa santidade imperfeita da Igreja é para nós consolo infinito. Não desesperamos diante de uma santidade imaculada e que só poderia se manifestar nos julgando e condenando.
A Igreja nos santifica, nos sustenta, nos suporta.
A Igreja vive dentro de nós, ela vive da luta da imperfeição pela perfeição, luta que vive do dom de Deus, animada pelo espírito de tolerância e do verdadeiro amor.
A Igreja vive em processo de contínua conversão na busca da construção do Reino de Deus na história e no tempo.
A Igreja nasce com a Sagrada Família. O tempo da Igreja é o tempo do nascimento do Senhor. A Igreja é apresentada ao mundo em Pentecostes e torna-se Instituição no Concílio de Jerusalém em 60 DC.
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