10 de junho de 2010

CRISTOLOGIA - OS DISCÍPULOS DE JESUS (aula 05)

INTRODUÇÃO
Jesus não quer percorrer seu caminho como um solitário: Ele é o “nós” da nova família que Ele congregou.

Jesus desde o início chama um núcleo mais íntimo e inicia sua atividade reunindo pessoas em torno de si.

Exemplo de narrativa de chamamento:

Simão, André, Tiago e João X Eliseu
E enquanto caminhava ao longo do mar da Galiléia ele viu Simão e André lançando as redes ao mar, pois eram pescadores. E Jesus lhes disse: Vinde comigo! Eu farei de vós pescadores de gente. E imediatamente deixaram as redes e o seguiram. Indo um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu e seu irmão João, consertando as redes do barco. E logo os chamou. E eles deixaram o pai Zebedeu no barco com os empregados e partiram, seguindo Jesus. (Mc 1, 16-20)

Quando ele (Elias) saiu de lá, encontrou Eliseu, o filho de Safat, lavrando com doze juntas de bois à sua frente. Elias chegou perto dele e lançou sobre ele o seu manto. Então Eliseu largou os bois e correu atrás dele, gritando: Deixa-me primeiro beijar meu pai e minha mãe e em seguida vou acompanhar-te. Elias respondeu: Vai e volta! Pois o que te fiz eu? Em seguida se levantou e seguiu Elias, pondo-se a seu serviço. (1Rs 19, 19-21)


Fala-se do nome das pessoas e do pai, sua profissão.

As pessoas são escolhidas

Em Eliseu, quem chama é Deus (símbolo do lançar o manto).

Nos discípulos, falta o símbolo. Jesus chama por sua palavra.

No caso de Jesus é imposta uma tarefa: “Farei de vós pescadores de gente.”

Eliseu se tornou servo de Elias

Em Jesus a relação se inverte:
“Eu estou no meio de vós como quem serve.” (Lc 22, 27).
“Já não vos chamo servos, mas amigos.” (Jo 15, 15)



CHAMADO
“Depois, subiu à montanha e chamou a si os que ele quis e eles foram até ele. E constituiu Doze, para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar, e terem autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3, 13-15)
“Naqueles dias aconteceu que Ele se retirou para o monte para rezar. E passou a noite toda em oração com Deus. Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e deles escolheu doze” (Lc, 6,12s)


A vocação é acontecimento da oração

Ninguém “se faz” discípulo: é um acontecimento da eleição

O número doze: número simbólico das doze tribos de Israel. Os doze são um retorno às origens e uma imagem da esperança: Israel será restabelecido.

Eles são fundadores de um povo universal.
“Para que ficassem com ele, para enviá-los”
Ficar com Jesus e ser enviado se completam. Os discípulos devem aprender a estar de tal modo com Jesus, que com Ele estarão mesmo quando vão para os confins do mundo. Ficar com Ele para o conhecerem “por dentro”, em sua unidade com o Pai.

A missão: pregação e expulsar demônios.

Pregação: oferecer a todos a luz da palavra e a mensagem de Jesus. Eles anunciam o Reino de Deus.

A pregação nunca é só palavra, é também acontecimento, como Jesus, que é palavra de Deus em pessoa.

A autoridade sobre os demônios:

O mundo antigo viveu a irrupção do cristianismo como libertação do medo demoníaco que tudo dominava.
“Ainda que haja alguns que sejam chamados deuses, quer no céu quer na terra, existindo assim muitos deuses e muitos senhores, para nós não há mais do que só Deus, o Pai de quem tudo procede e para quem nós existimos; e um só senhor, Jesus Cristo, por meio do qual todas as coisas existem e nós igualmente existimos” (1 Cor 8, 5s)



SEGUIMENTO
O seguimento implica perigos e gera conflitos:
“E quem não toma a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo” (Mt 10, 38)

Cruz é hostilidade, desprezo, restrições, sofrimento.
“Aquele que quiser salvar sua vida, a perderá; mas o que perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8,35)

Quem acha que pode realizar-se com auxílio de falsas seguranças e metas egoísticas, não encontra o sentido da vida, que está em estruturar sua vida e opções no seguir Jesus e voltar-se para Ele.


O ESTILO DE VIDA DE JESUS E DOS SEUS DISCÍPULOS
Jesus viveu sua vida dentro de uma comunidade dos que chamou para o seguirem.

A comunidade caminhava de um lado para outro, sem lugar fixo, principalmente na Galiléia.
“Não leveis para a viagem, nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas” (Lc 9, 3)

Os discípulos inauguram uma nova ordem, que não é mais a da propriedade, do lucro, do desprezo pelas pessoas. Seu estilo de vida é sinal do Reino, em que se vive na entrega a Deus.

Eles vivendo sem recursos e dependendo da ajuda dos outros são uma ilustração do domínio de Deus anunciado por Jesus e por eles.

Sem recursos eles sabiam-se entregues a esse Deus que estava prestes a estabelecer seu domínio.

Jesus viveu celibatário, algo chocante, porém não inédito: em Qumram os monges também o eram.

O celibato não é desprezo pela família ou pelo sexo, nem mesmo é um ideal ascético, mas é para viver indivisamente e com todas as forças poder atuar em favor do Reino. Ele se dá para todas as pessoas, principalmente aquelas por quem ninguém se apaixona.

Jesus é absolutamente livre. Vai a festas, come, bebe. É insultado como “comilão e beberrão” (Mt 11, 19).

Principalmente, dirige-se aos pobres: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres.” (Lc 4, 18a)

Quem são os pobres para Jesus?

No Antigo Testamento, na época da monarquia, separaram-se as classes sociais. Os profetas denunciaram esta situação e proclamaram Deus o protetor dos pobres. O pobre é aquele que entrega sua causa a Deus.

O pobre é o que mantém o coração aberto para a mensagem e a salvação de Deus.

Jesus condena a riqueza por dois motivos básicos: ela leva facilmente a uma falsa segurança e leva também à idolatria.

A riqueza não pode ser o objetivo prioritário da vida humana: o desapego deve ser parte fundamental desta atitude.

O desapego só é real se expresso também na partilha, no serviço aos pobres e no compromisso contra as injustiças.

Jesus freqüenta casa de pecadores públicos, convive com possessos, epiléticos, devedores, desprezados, marginalizados, fala com mulheres e com crianças, toca nos impuros (leprosos, cegos, doentes...)

Jesus vive no meio daqueles que não conseguem realizar plenamente suas vidas e têm necessidade de ajuda.


OS DISCÍPULOS, AS DISCÍPULAS, OS DOZE
O mais conhecido grupo de discípulos de Jesus é o grupo dos doze, chamados em Mateus de discípulos ou de apóstolos. Nos escritos de Lucas firma-se o conceito dos doze apóstolos.

Quatro listas de nomes: Mc 3, 16-19; Mt 10, 2-4; Lc 6, 14-16, At 1, 13.

Todas as listas começam com Simão Pedro e terminam com Judas Iscariotes.
Pedro significa predominantemente pedra, pedra preciosa, rochedo.

Os Evangelhos deixam transparecer o papel de Simão Pedro como porta-voz do grupo.

Os apóstolos constituíram um grupo heterogêneo em sua origem, sua profissão, seu temperamento.

Todos eles eram judeus crentes e observantes, que esperavam a salvação de Israel, daí a dificuldade de introduzi-los no novo caminho misterioso de Jesus, o Servo Sofredor.

Nesta diversidade eles corporizam a Igreja de todos os tempos, e a dificuldade de sua missão.

No seguimento de Jesus encontramos também mulheres. Várias delas são citadas nominalmente: Maria Madalena, Joana, Suzana, etc.

Marcos não as denomina discípulas, mas as caracteriza como tais:
“Elas seguiam e serviam a Jesus quando estava na Galiléia. Havia também muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém”.(Mc 15, 40s)

Jesus, ao aceitar mulheres entre os seus discípulos, fazia algo escandaloso aos olhos de seus conterrâneos. No rabinato judaico era inconcebível que fossem encontradas mulheres como discípulas.

Jesus, assim, alivia a posição das mulheres, que eram oprimidas na sociedade, e cria condições para restaurar sua dignidade humana.


O DISCIPULADO DE JESUS HOJE
“Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 31b-32)

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