28 de junho de 2010

CRISTOLOGIA - MILAGRES E CURAS DE JESUS (aula 07)


INTRODUÇÃO
O centro da mensagem de Jesus é o Reino de Deus, o domínio de Deus.
Jesus anuncia a chegada do Reino não só através de sua palavra e pregação, mas também pelo perdão, acolhimento, gestos e, através de ajudas e curas às pessoas concretas:
"E (Jesus) percorria toda a Galiléia,ensinado nas sinagogas , pregando o evangelho do reino e curando toda doença e enfermidade do povo" (Mt 4, 23)
Os Evangelhos narram cerca de vinte milagres.
Jesus, no entanto, não é um "fazedor de milagres":
"Vendo Jesus, Herodes ficou muito contente, havia tempo que queria vê-lo, e esperava ver algum milagre feito por ele. Interrogou-o com muitas perguntas, ele, porém nada respondeu" (Lc 23, 8-9)
"A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! Rei de Israel que é, que desça agora da cruz e creremos nele" (Mt 27, 42)
"Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes" (Jo 6, 26)
Ele não dá "sinais dos céus" para fariseus e não faz milagres em Nazaré, só o "sinal de Jonas".

 
O SENTIDO DOS MILAGRES
Só podemos entender os milagres e curas em estreita conexão com toda a missão de Jesus:
"João ouvindo falar na prisão a respeito das obras de Cristo, enviou-lhe alguns dos seus discípulos para perguntarem: `"És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?" Jesus respondeu-lhes: "Ide contar a João o que ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados" (Mt 11, 2-5)
Os milagres estão na perspectiva da inauguração do Reino escatológico. São, no tempo presente, o penhor da realidade que virá. Sublinham concretamente a eficácia invisível da salvação. São antecipações do poder vivificador de Deus, que irrompe no tempo e na história.
É um erro pensar-se nos milagres apenas pela utilidade, rejeitando-lhe o sentido, não relacionando o fato com a palavra.
Os milagres e curas são parte da pregação do domínio de Deus, subordinados à sua palavra. Vivenciam a experiência concreta da presença dinâmica de Deus, com sua força que cura, que ajuda, que salva.
Eles têm sentido pela intenção religiosa que os caracteriza.
Manifestam a glória de Deus: cura o cego, porque Ele é a luz! Traz Lázaro de volta à vida, porque Ele é a vida! Anda sobre as águas, porque Ele é Senhor da natureza!
Os milagres e curas de Jesus não são grandezas em si. Revelam, sim, algo sobre Ele e sua missão. Por meio deles, Jesus se apresenta com a sua missão recebida do Pai.
É preciso dissociar o conceito bíblico e teológico de milagre do conceito científico, como algo que está acima, fora ou contra as leis naturais
Os milagres e curas de Jesus têm sempre uma perspectiva bilateral: é atuação de Deus e olhar da fé do homem.
A fé é a porta de acesso: mais do que confiar na força de cura, o que importa é o "sim" que se dá à palavra daquele que salva.
Sem fé não há milagre.
Muitas vezes, as ações de Jesus não têm a fé como resposta, e sim conflito e descrença.
Os nomes, sinais e sintomas das doenças que aparecem nos evangelhos são, para nossos conhecimentos modernos, imprecisos e vagos: paralisia podia ser qualquer perturbação da locomoção; lepra são diferentes doenças da pele, que tornavam a pessoa cultualmente impura; possessões poderiam ser casos de epilepsia...
Cada evangelista tem seu ponto de vista a respeito dos milagres e curas:
Em Mateus, domina a palavra, o discurso, e os milagres acompanham a palavra
Em Marcos, estão sob o signo da luta travada entre o Filho do Homem e o diabo
Em Lucas, Jesus é o grande benfeitor da humanidade, o profeta
Para João, os milagres entram na categoria de "sinais" e "obras".
São sinais que apontam para a realidade do poder de Jesus
São obras que continuam as obras do Pai, desde a criação e confirmam sua unidade com o Pai e revelam este mistério: "Meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho".
Os ouvintes de Jesus viam o agir de Deus nas coisas que não conseguiam explicar: adorar ou condenar, ver Deus ou o diabo em ação. Para eles não tinha outra alternativa, pois em sua visão de mundo, os demônios dominavam as pessoas provocando sofrimento físico e psíquico.
Para eles, o demônio podia entrar nas pessoas e tomar posse delas, ou as dominavam e causavam doenças.
Assim, muitas curas de Jesus têm traços de exorcismo, pois o que cura tem poder sobre os "demônios da doença."
O poder de Deus que se manifesta nesses exorcismos é uma prova de que o Reino de Deus já chegou à humanidade:
"Se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então o Reino de Deus já chegou. Quando um homem forte e bem armado guarda sua morada, seus bens ficarão a seguro; todavia, se um mais forte o assalta e vence, tira-lhe a armadura em que confiava, e distribui seus despojos" (Lc 11, 21s)
Jesus é o "mais forte" que veio libertar o homem de todos os males que o afligem: doença, fome, cegueira, natureza, morte, pecado, etc
Perdoa pecados que provocam os males; domina as vontades fracas dos homens que passam a segui-lo; domina a natureza que conspira contra os homens; elimina a fome, multiplicando os pães; cura todo tipo de doença (coxos, cegos, mudos, leprosos, etc)
Ele é superior à morte, e ressuscita Lázaro, a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim.
Sua presença é motivo de alegria e esperança para um povo dominado e sem esperança.
Jesus oferece a cura a pessoas que são excluídas do convívio humano, e anuncia que Deus quer reintegrar à família humana os marginalizados: os leprosos, os endomoninhados.
Jesus liberta da noção da doença como consequência do pecado (próprio ou dos pais).
Afinal, o que são milagres?
São sinais do amor de Deus
São sinais da vinda do Reino
São sinais da missão divina
São sinais da força salvífica do evangelho
São sinais da glória de Cristo
São sinais da transformação do mundo
Jesus não é um mago que arranca o homem de sua condição terrestre, infantilizando-o, mas é aquele que dá sentido transcendente àquilo que aparentemente só tem valor histórico e terrestre.

 
UM GRANDE SINAL
Houve na vida de Jesus um importante momento, um grande "sinal": A TRANSFIGURAÇÃO.
São narradas pelos três evangelhos sinóticos, com pequenas diferenças.
" Mais ou menos oito dias depois destes palavras, tomando consigo Pedro, João e Tiago, ele subiu à montanha para orar. Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura. E eis que dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias que, aparecendo envoltos em glória, falavam de seu êxodo que se consumaria em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam pesados de sono. Ao despertarem, viram sua glória e os dois homens que estavam com ele. E quando estes iam se afastando Pedro disse a Jesus: "Mestre, é bom estarmos aqui, façamos três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias", mas sem saber o que dizia. Ainda falava, quando uma nuvem desceu e os cobriu com sua sombra, e ao entrarem eles na nuvem, os discípulos se atemorizaram. Da nuvem, porém, veio umaa voz dizendo: "Este é o meu Filho, o Eleito, ouvi-o." (Lc 9, 28-35)
Nos três Evangelhos esta passagem vem após a confissão de Pedro: "Quem sou eu, no dizer das multidões? E eles responderam: "João Batista, outros, Elias. Outros porém um dos antigos profetas que ressuscitou". Ele replicou: "E vós quem dizeis que eu sou?" Pedro respondeu: "O Cristo de Deus". Jesus disse: "É necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia" (Lc 9, 18b-22)
As duas passagens falam da divindade de Jesus e da ligação da glória com a paixão.
Vemos de novo a montanha como lugar da proximidade com Deus.
A transfiguração é também um acontecimento da oração: em sua unidade com o Pai, Jesus é luz da luz.
Fica clara a diferença de Jesus com Moisés. Este, "quando descia do monte, não sabia que a pele de seu rosto irradiava luz, porque ele tinha falado com o Senhor" (Ex 34, 29-35)
Jesus brilha a partir do interior. Ele não recebe a luz, Ele mesmo é luz.
No Apocalipse, João também fala de vestes brancas como expressões do ser celeste, mas elas foram "lavadas no sangue do Cordeiro" (Ap 7, 14b).
Aparecem também Moisés e Elias, e o tema do diálogo é a cruz, "o êxodo" de Jesus em Jerusalém. Eles são símbolos da lei e dos profetas, e mostram que o tema fundamental delas é a esperança de Israel, o definitivo "êxodo libertador".
Fica claro que a paixão traz redenção, que Ele foi penetrado pela glória de Deus, que a paixão será mudada em luz, liberdade e alegria. Jesus conecta fortemente a glória com a cruz.
No Antigo Testamento, na experiência do deserto, a nuvem era sinal da presença de Deus, que acompanhava o povo peregrino: "Quando Moisés entrava na Tenda, baixava a coluna de nuvem, parava à entrada da Tenda, e Ele falava com Moisés. Iahweh, então, falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo" (Ex 33, 9.11)
O povo hebreu até hoje celebra a "Festa das Tendas" (Sukkot), que faz memória ao período em que viveram em tendas no deserto, e antecipação da divina sukkot, na qual os redimidos habitariam no tempo futuro. A transfiguração ocorreu neste período, o que confere um colorido especial à palavra de Pedro de armar tendas: ele reconhece que o tempo messiânico chegou!
Não esquecer o prólogo de João: "O Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós" (Jo 1, 14)
A ressurreição é, assim, antecipada na Transfiguração.
A voz de Deus repete a voz do batismo, e lhe dá novo sentido: "Ouvi-o!"
Existem três messianismos presentes, nas alusões ao Salmo 2 (Messias-Rei), a Isaías 42 (Messias-Servo) e ao Moisés (Messias-Novo Moisés)
Na transfiguração é revelada a majestade divina, oculta antes nas aparências do Servo.
Ela é antecipação da glória que virá. É irrupção e início do tempo messiânico. Os discípulos experimentam a parusia antecipada, e são, lentamente, introduzidos profundamente nas mistérios do Cristo.
No encontro com a glória de Deus em Jesus, eles aprendem a mensagem de Paulo aos discípulos de todos os tempos:
"Os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca de sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus, é escâncalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus." (1 Cor 1, 22-24)

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Amei o Site. Imprimi todas as aulas para eu estudar e aprofundar o conhecimento em Cristologia. Foi Nossa Senhora Auxiliadora que me indicou este site, numa hora que eu estava precisando de uma palavra de conforto.
    Que a Sagrada Família continue guiando a sua Paróquia. Paz e Bem!

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