13 de maio de 2010

CRISTOLOGIA - AS TENTAÇÕES DE JESUS (aula 03)

A QUESTÃO: Jesus, o Cristo, foi tentado? Verdade ou criação literária edificante? Missão de Jesus consiste em descer aos perigos do homem, penetrar no drama da consciência humana. Jesus é solidário conosco, agarra toda a nossa história. Hb 2, 16-18: Pois não veio ele ocupar-se com anjos, mas sim com a descendência de Abrahão. Convinha, por isso, que em tudo se tornasse semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo. Pois, tendo ele mesmo passado pela prova, é capaz de socorrer os que são provados. Hb 4, 15s Com efeito, não temos sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Aproximemo-nos, então, com segurança do trono da graça para conseguirmos misericórdia e alcançaremos graça, como ajuda oportuna. As tentações têm sentido para o Cristo, por isso têm também para nós. Elas não foram “teatrinho”, e porque reais é que são exemplares para nós. Não existe tentação artificial com finalidade exemplar. O NÚCLEO DAS TENTAÇÕES: Colocar Deus de lado, ordenar e construir o mundo de um modo independente. Desviar Jesus da intimidade com Deus, sugerindo um messianismo “autônomo”: Deus e seu plano são o Bem, ou “eu posso fazer melhor”? Satanás tenta levar Jesus a duvidar da proteção do Pai e acentuar uma certa desconfiança... A tentação fundamental é que Jesus deixe de lado o messianismo de serviço e assuma um outro mais eficaz. AS TENTAÇÕES EM MARCOS Mc 1, 12s “E logo o Espírito o impeliu para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás, e vivia entre as feras, e os anjos o serviam” Está colocado entre o Batismo, onde se relata a vinda do Espírito sobre Jesus(Mc 1, 9-11) e o resumo da pregação de Jesus na Galiléia (Mc 1, 14b-15): “Veio Jesus para a Galiléia proclamando o Evangelho de Deus: Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” Conexão entre Batismo e Tentações: O Batismo institui formalmente o ministério de Jesus. Ele foi UNGIDO com o Espírito Santo, Ele é o Ungido-Messias-Cristo esperado Os céus estavam fechados e se abriram: Mc 1, 11: “e uma voz veio dos céus: Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo.” Há uma insinuação quanto ao messianismo de Jesus: é a do Servo-sofredor de Isaías. Is 42, 1a: “Eis o meu servo, que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu espírito” Tópicos de interesse em Marcos: OS QUARENTA DIAS Remetem, sem dúvida, aos quarenta anos de Israel no deserto – tempo de tentação e de proximidade com Deus. O DESERTO No Evangelho de Marcos, o deserto é lugar de proximidade com Deus, é o lugar onde Jesus gosta de se pôr para rezar. Lugar de proximidade com Deus, mas também lugar de tentação. A CONVIVÊNCIA PACÍFICA Jesus vivia harmoniosamente “entre as feras e os anjos o serviam” Is 11, 6.8: Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. A criança de peito poderá brincar junto à cova da áspide e a criança pequena porá a mão na cova da víbora. Significado escatológico: Com o Cristo chegamos à reconciliação anunciada para o fim dos tempos: “Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo!” AS TENTAÇÕES EM MATEUS A PRIMEIRA TENTAÇÃO – Mt 4, 1-4 Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome. Então aproximando-se o tentador, disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”. Mas Jesus respondeu. “Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” “Se és Filho de Deus...” – Jesus tem que dar provas de sua “pretensão”, de modo claro! Essa exigência o acompanhará até o fim da vida. Até na cruz: “Se és o Filho de Deus, então desce da cruz...”(Mt 27, 40) Satanás tenta Jesus para que ele se sirva de seu poder para escapar da difícil situação em que se encontrava : a fome! Tentação de usar Deus para fugir da dureza da condição humana. Tentação da “mágica”, do “fantástico” em proveito próprio. Tentação messiânica de resolver tudo sozinho. A multiplicação dos pães: As pessoas foram atrás de Jesus para ouvir suas palavras e abandonaram o resto. Jesus então multiplica o pão. Quando o procuraram depois, Ele não fez o milagre. A resposta de Jesus é tirada de Dt 8, 3: Ele te humilhou, fez com que sentisses fome e te alimentou com o maná que nem tu nem teus pais conheciam, para te mostrar que o homem não vive apenas de pão, mas que o homem vive de tudo aquilo que procede da boca de Iahweh Para Jesus o pão não é o principal, mas sim a palavra de Deus. Quando Deus é uma grandeza secundária, podendo ser deixado de lado, aí fracassa o que é tido como “principal” Onde as pessoas vivem a Palavra de Deus são capazes de repartir o pão e de fazer com que ninguém passe fome no mundo. Podemos ter também uma referência à Eucaristia: o permanente milagre do pão, em que Jesus transforma o grão de trigo em seu próprio corpo. A SEGUNDA TENTAÇÃO – Mt 4, 5-7 Então o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito e eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra”. Respondeu-lhe Jesus: “Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus” Jesus e o diabo se utilizam da Sagrada Escritura. A resposta de Jesus é uma alusão à história da rebelião do povo contra Moisés e contra Deus, na situação de sede em que estavam no deserto. Deus que prove ser Deus!...Novamente se pede que Deus seja provado como se provam mercadorias. O diabo pede a Jesus um espetáculo! E todos imediatamente o reconhecerão! É a tentação do grandioso, do extraordinário! Jesus não deu o salto gratuito agora. Ele não tentou a Deus. Seu grande salto foi na cruz, como ato de amor, entrega e confiança em Deus. A TERCEIRA TENTAÇÃO – Mt 4, 8-11 Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor e disse-lhe: “Tudo isso te darei, se, prostrado, me adorares”. Aí Jesus disse: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e a ele só prestarás culto”. Como isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a servi-lo. O diabo oferece a Jesus o domínio. É a tentação de usar o poder dominador para levar adiante sua missão, abrindo mão do “ineficaz” messianismo do Servo. Para Jesus a fidelidade ao Deus-Amor não se impõe pela força ou por qualquer forma de dominação. Ele rejeita o poder dominador como algo proveniente do demônio O poder de Jesus e de seus discípulos é o poder do serviço. Mt 20, 25ss Os governadores das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo. Desse modo, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por muitos. CONCLUSÃO As tentações messiânicas acompanharam Jesus até o fim: o messianismo do Servo não é idealista demais? Ele até o fim foi rejeitado, crucificado, mas não abriu mão de sua total, irrevogável confiança no Pai, de quem Ele revela o rosto, o Pai a quem podemos chamar Abba!

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